sábado, 26 de dezembro de 2015

Capítulo 7 “Felizes coincidências”


Antes de Alma abrir a porta já se ouvia a música animada e alta a tocar, música típica de uma festa, abriram a porta e ficaram completamente surpresos com a quantidade de pessoas que conseguia caber naquela casa... Todos eles estavam ali para a festa de aniversário de Isabel? Será que ela considerava amigos ou eram apenas conhecidos? Independentemente do que fosse o número era realmente surpreendente. Com alguma dificuldade conseguiram chegar até à cozinha onde Isabel tratava dos preparativos para o jantar, atarefada, e acabaram por ajudá-la, afinal toda a ajuda era bem-vinda. Mais tarde partilharam a comida pelas várias mesas disponíveis pela casa para ninguém se queixar que faltava comida e bebida, haveria comida em quantidade mais que suficiente para todas as pessoas ficarem com a fome e sede saciada. Mas com tanto trabalho não conseguiram parar um único minuto para se servirem, deixaram as pessoas servirem-se naturalmente e certificarem-se que tudo corria bem, quando finalmente conseguiram parar por breves segundos para comer alguma coisa, Catarina ouviu a porta bater e teve de ir abrir... Seria mais algum convidado?

Catarina fora a única a ouvi-la e decidiu que apesar do seu ar de cansaço e do cabelo mal-apanhado ir abrir a porta... E ficou sem qualquer tipo de reação. Não sabia bem o que dizer, e muito menos sabia o que sentia. Não acreditava em amor à primeira vista, mas não era apenas e só atração. As borboletas no estômago apoderavam-se, os nervos de não saber o que dizer, como o dizer e o que fazer. Sentia-se a fazer figura de idiota, mas não conseguia fazer nada mais a não ser admirar aquele rapaz:

-Hola! - Disse o rapaz num castelhano envergonhado. - Como te llamas?
-Catarina y tu?
-João.
-Português?
Pela primeira vez falara em português, João era nome português e decidiu arriscar.
-Sim e tu?
-Sim, na verdade sou portuguesa e espanhola.
-A sério? Mas sempre viveste aqui?
-Não, mudei-me para cá à uns dias, vim fazer a faculdade, e tu?
-Era jogador do Benfica mas recebi uma proposta por Valência e acabei para aceitar e vir.
-A sério? O meu avô trabalha no departamento financeiro!
-Que máximo! O mundo consegue ser mesmo pequeno...
-Podes crer!
-Vieste ao aniversário da minha prima Isabel?
-Sim... Moro aqui em frente e a tua prima convidou-me para, pelo menos vir cantar os parabéns. Diz-me que cheguei a tempo, por favor.
-Sim, chegaste, está descansado! - Trocaram um sorriso cúmplice. - Queres entrar?
-Pudemos cantar os parabéns e depois pudemos ir para minha casa para conversarmos mais um pouco? Que a música está alta, é para ficarmos mais à vontade.
-Então vamos já embora que eles nem dão pela nossa falta.
-Tens a certeza? Afinal é o aniversário da tua prima.
-Eles não dão por nenhum de nós, se perguntarem dizemos-lhe que sempre cá estivemos, que te parece?
-Uma ótima ideia!

Catarina fechou a porta de casa das primas e seguiu João até à casa em frente, onde ele abriu a porta de casa e seguiu-o até à sala.

-Queres beber ou comer qualquer coisa? Não sou o mais famoso dos cozinheiros, mas dá para desenrascar.
-Deixa estar, obrigada.
-Fico contente por falar a minha língua por aqui, tenho alguns colegas portugueses mas nos treinos falamos sempre castelhano.
-Eu também me sinto bem por te ter encontrado e por puder falar a minha língua por cá.
-Obrigada.

Os sorrisos trocados eram uma constante, pareciam conhecer-se à anos e davam-se naturalmente bem.

-Quantos anos tens?
-Vinte, e tu?
-Dezoito.
-A sério? Tens cara de menina mas pensei que fosses mais velha, talvez da minha idade.
-Fiz dezoito anos em Maio.
-A sério? Em que dia?
-Dia vinte e sete, porquê?
-É exatamente no mesmo dia que eu!! - Exclamou entusiasmado.
-Que coincidência!

Sorriram em conjunto, será que o destino tentava uni-los de forma tão clara?

-Tens família por cá?
-Não, por enquanto vim sozinho para tratar de tudo, depois vem a minha família passar uns dias, mas tenho-me sentido sozinho... País novo, pessoas novas, língua nova, clube diferente, e tudo completamente diferente e estou a adaptar-me.
-Mas agora não estás mais sozinho, estarei sempre aqui para ti.
-Obrigada do fundo do meu coração. Sei que não o dizes apenas por seres simpática mas porque o sentes, eu vejo-o no teu olhar.

Catarina corou, sentia-se tremendamente atraída por ele, mas de forma muito diferente do que sentia por José, existia também uma atração física, pela sua beleza e pelo seu charme natural, mas também pela sua personalidade, apesar de mal o conhecer, o que conhecia adorava e estava ansiosa por saber mais, e gostava tanto de conversar com ele.

-Acredita que o digo de coração. E vou ajudar-te a falares esta língua num instante.
-Obrigada por tudo.

Depois de dizer isto pousou as mãos quentes sobre as pequenas e frias mãos dela que se arrepiou e não conseguiu escondê-lo.

-Desculpa. Não foi por intenção.

A rapariga tinha-se arrepiado dos pés à cabeça, não porque desejava o seu toque, mas apenas porque ainda não tinha sentido o toque da sua pele e a diferença de temperaturas e a ansiedade falara mais alto, mas como poderia explicar-lhe isto, era preferível deixá-lo pensar que fora por qualquer outro motivo. Ele não podia mexer assim tanto com ela, simplesmente não podia. Ainda mal se conheciam. Se o dissesse arriscava-se a perdê-lo e era tudo menos o que queria, por isso decidiu mudar o rumo da conversa.

-Então e tens irmãos?
-Sim, mais novo, o Pedro, temos diferença de sete anos e tu?
-Também sou irmã mais velha. Eu e a Camila temos um aninho de diferença.
-Ficou em Lisboa com os teus pais?
-Com a minha mãe na verdade. - Corrigiu. - O meu pai já faleceu.
-Desculpa,não sabia...
-Não tens de pedir desculpa, não sabias, nem tinhas como saber. Estou a adorar falar contigo, a conversa tem fluido naturalmente e estou a adorar conhecer-te.
-Eu não sei mesmo como lidar com a morte... - Confessou. - Até porque a minha mãe também faleceu recentemente numa acidente de viação.
-Sinto muito.

Catarina queria abraçá-lo e chorar nos seus braços. Doía, todos os dias doía, era uma dor que a consumia por mais anos que passassem, e iria doer sempre. Ao contrário do que sempre lhe disseram e ensinaram, não aprendera a lidar com a dor com o tempo, nem aceitá-la. Era uma ferida aberta mas aprendera a sofrê-la em silêncio. Aprendera a fingir que nada se passava e a sorrir mesmo quando o coração parecia desfeito em milhões de pequenos pedaços.

-Sabes o que custa mais? Saber que nunca mais vou ver aquele sorriso, ouvir a mesma história que ele me contava sempre, faz-me dar outro valor à vida e viver cada dia como se fosse o último dia.
João não resistiu e começou a chorar, Catarina sentiu o coração apertado e decidiu dar-lhe um abraço e um pequeno beijo na testa.

-Desculpa. Desculpa do fundo do meu coração, eu... Eu... Não queria deixar-te assim. Não queria fazer-te chorar, nem causar-te mágoa, só quis mesmo desabafar contigo. Desculpa.

O rapaz limpou as lágrimas e tentou acalmar-se durante alguns minutos, e a rapariga decidiu respeitar o silêncio.

-Desculpa eu. Na verdade nunca tinha chorado em frente a ninguém, guardei todo o sofrimento para mim, chorava na minha almofada à noite, em silêncio e sozinho, tudo porque queria transmitir tranquilidade ao meu irmão, mas agora que estou longe dele, não resisti, desculpa.
-Mas não te faz bem guardares toda a mágoa para ti, aliás isso ainda te corroí mais, eu sei, falo por experiência própria. Senão te sentires à vontade para falar com ninguém, existe outras formas de aliviares o peso que carregas em ti, por exemplo, eu descobri que escrever era o melhor método, mas mais tarde acabei por me entregar por completo ao trabalho e à escola e nem tinha tempo de pensar nisso, mas quando parava um pouco, a dor corroía-me.
-Não sei como tiveste a força de ultrapassares tanto. No fundo tivemos que sermos fortes duas vezes, por nós e pelos nossos irmãos.
-Existem pessoas com problemas piores, aprendi a lidar com eles.
-Mas falando de coisas positivas. - Catarina notava que ainda lhe custava falar sobre a morte de um parente tão próximo e não insistiu, talvez com o tempo o fizesse falar, mas sabendo que o facto dele ter chorado quando não o tinha feito ao pé de mais ninguém, dava-lhe um sentimento de confiança e segurança. - Está uma noite tão boa, não queres aproveitar para ir dar um mergulho na piscina?
-Queres ir tomar um banho de piscina? A esta hora?
-Sim, não foste tu que disseste que temos de viver a vida como se fosse o último dia?
-Sim, fui. - Trocaram mais um sorriso cúmplice. - Mas eu nem tenho biquíni... Estou de roupa interior.
-Esqueci-me desse pequeno pormenor. Então pudemos ficar a conversar mais um pouco.
-Pudemos ir dar uns toques na bola para perto da piscina, que achas? Parto em desvantagem, visto que tu és jogador profissional e eu limito-me a ser preguiçosa profissional.
João sorriu.
-Uma excelente ideia, minha preguiçosa preferida.

João fez Catarina corar mais uma vez, e ela levantou-se do sofá com ele e foram até perto da piscina, já no elevador trocaram uma série de olhares e sorrisos, quando chegaram ao terraço, delinearam as balizas e começaram os remates à baliza. Até que a bola caiu para dentro de água, onde nenhum deles conseguia chegar e por isso, ele saltou para o interior da piscina.

-Queres companhia?
-Queres vir-me fazer companhia?

Catarina não precisou de nada mais, pousou o telemóvel e atirou-se para dentro de água, mas assim que o fez e voltou ao topo de água, João encostou-a à parede da piscina.

-João... - Disse ainda tentando voltar à respiração normalmente mas com ele encostando a si era impossível. - Eu quero mas...

Ele não a deixou falar, beijou-a. Um beijo com um misto de emoções, atração, descobrimento, conhecimento, um pouco de amor, com intensidade e com carinho, um beijo que soube a tanto e deixou tanto... Ambos queriam, mas sabiam que aquele beijo poderia significar tanto e deixar tantas dúvidas, mas mesmo assim só separaram os lábios quando o ar começava a escassear.

-Tu queres mas?
-Não posso. - Pousou a mão sobre o peito dele, impedindo-o de se aproximar mais. -É cedo, tu não me conheces, eu não te conheço, o que sinto por ti proíbe-me de seres mais que um caso de uma noite, mas se o fosses ias deixar-me marca. Eu quero tempo, quero espaço, não quero precipitar nada, e tu queres ir muito rápido, eu não consigo.
-Existe outra pessoa na tua vida não existe?

Catarina ficou atrapalhada, não existia ninguém que lhe despertasse tantas emoções como João, mas existiam duas pessoas que lhe despertavam outros sentimentos e ela não queria mais problemas, nem confusões para o seu pobre coração.

-Não mas...
-Porquê os mas, as reticências e as dúvidas, deixa-me beijar-te mais uma vez para acalmar essas vozinhas na tua cabeça.
-Eu queria mesmo beijar-te mas...
Voltou a interrompê-la e a unir os lábios. Um beijo diferente do anterior, mais calmo, mas de cortar a respiração.
-Tens de parar de me beijar enquanto estou a tentar falar! Assim não é justo, perco os meus argumentos todos.
-Podes continuar com o que estavas a dizer...
Sugeriu olhando-a olhos nos olhos e fazendo-a arrepiar-se por completo e esquecendo-se do que ia dizer.

-Não acredito em amores à primeira vista.
-Nem eu.
-O que sinto por ti é mais intenso que um caso de uma noite, mas também não é uma amizade, mas ainda não é amor.
-Ainda não é? O que queres dizer com isso?
-Que temos de ir com calma, por favor. - Pediu. - E isso significa que não me podes beijar quando queres só para calares os meus medos, os meus receios e as minhas dúvidas, isso não é justo.
-Existe algo no teu passado que não te permite olhar para o futuro diretamente, eu percebo isso, e gostava que falasses comigo sobre isso, por favor, como falamos de tantas outras coisas, e nos abrimos por completo, sem medo.
-Não posso. Posso falar sobre tudo o que quiseres falar, mas não sobre o meu passado romântico, ainda é cedo.
-Eu respeito o teu espaço e o teu pedido, mas também quero sentir que tenho direito a uma oportunidade, ou pelo menos a entender o que sentimos um pelo outro.
-Vamos dar tempo ao tempo, começar a dar pequenos passos, pode ser?
-Os seus desejos são ordens. - Pegou na sua mão e beijou-a. - Queres sair da água?
-Sim, mas vais tu primeiro, e depois temos de ir tomar um banho de água quente para não ficarmos doentes.
-Doentes? Com o calor que está?
-Não consigo tomar banho de água fria.
Ele sorriu.
-Eu dizia-te para tomares banho em minha casa e ficares por lá, mas não tenho roupa para ti.
-Podemos ir para minha casa, até porque nem a conheces.
-Moras sozinha? Pensei que morasses com alguém da tua família.
-Tenho um quarto em casa dos meus avôs, mas também tenho um T0 só para mim à beira do Mestalla.
-A sério? E foste tu que o compraste?
-Foi prenda dos meus avós pela maioridade. Não é uma casa muito grande mas dá bem para mim.
-Então deixa-me só ir tomar um banho a minha casa e mudar de roupa e já vamos jantar alguma coisa para tua casa.
-Tens fome?
-A diferença de horário mata-me, mesmo que seja uma hora dá cabo de mim.
-Têm uma rotina diferente da nossa, existe a “siesta”, almoçam e jantam mais tarde, compreendo-te e bem.
-Podes querer, mas como tenho estado por casa sozinho mantenho a rotina de Portugal, mas quando me junto com a equipa sinto logo, o que vale é que tenho colegas portugueses e sempre vou mantendo alguns hábitos por lá.
-Eu sei que tens, sou mulher mas dou uns toques de futebol. O teu treinador chama-se Nuno Espírito Santo, e treinou o Rio Ave o ano passado e levou-os a duas finais, na Taça da Liga e na Taça de Portugal, e perdeu ambas para o nosso querido Benfica.
-Logo vi que tinhas bom gosto e eras benfiquista.
-Uma verdadeira portuguesa tem de ser benfiquista. E por cá torces por quem?
-Senão torcesse pelo Valência, provavelmente o meu avô tirava-me da herança.
-E se não fosse pelo teu avô, não torcias na mesma pelo clube?
-Sim. - Confessou. - A minha mãe é natural de Valência, tenho família e raízes de cá, também cá pertenço, mas pelos clubes que vejo até simpatizo com o Barcelona.
-A sério? Mas agora vais torcer pelo Valência! Aposto que o teu avô até te quer fazer sócia!
-Estás completamente certo, mas eu disse-lhe que ser sócia e ser adepta de um clube, só iria ser um para toda a minha vida, e chama-se Sport Lisboa e Benfica, pelo Valência sou simpatizante.
-E fazes muito bem! E diz-me mais o que sabes da minha equipa, quero saber quais são os teus conhecimentos futebolísticos.
-Tens como colega de equipa portugueses, o Rúben Vezo, que veio do Vitória de Setúbal e o André Gomes, que veio do nosso Benfica, e marcou um fantástico golo ao Porto que nos levou à final na Taça de Portugal, e também és colega de equipa do Rodrigo, avançado que também veio do nosso Benfica, e muito falam que o Enzo Pérez está para vir, mas o Valência não quer dar 30 milhões por ele, e o Benfica agradece, é um jogador que nos dá muito jeito. E tu estás por cá emprestado, correto?
-Sim, é verdade, vamos lá ver como corre esta época. Vim de uma segunda divisão portuguesa para uma das maiores ligas do mundo para um clube com grandes ambições, mas vou dar o meu melhor e tentar adaptar-me da melhor forma possível.
-Assim é que é falar, rapaz! - Trocaram mais um sorriso cúmplice. - E sei que tens colegas de equipa como o Diego Alves, o Mustaffi, que acabou de vir do Mundial onde até foi campeão do Mundo pela Alemanha, Dani Parejo, que é o capitão de equipa, e o teu colega de defesa, mas não de posição, José Gayà, por quem o meu avô simpatiza e muito, e a minha prima também não. Além dos que já falamos.
-Interessada por futebol, portanto.
-Dizem que sim.
-Vamos então sair da água?
-Sim, vamos.
Ambos nadaram para as escadas e saíram da piscina.
-Conheces o José? Falaste dele de forma diferente...

O que será que Catarina vai responder?

Será que vai responder-lhe a verdade? Como será a relação de João e Catarina?

domingo, 15 de novembro de 2015

Capítulo 6 “Diz-me a verdade, não se passou mesmo nada com o José?”


-É do José, avô. - Os avôs e a prima olharam para ela com uma incógnita presente. - Fomos tomar um café ontem e ele é muito distraído, por isso tirei-lhe a carteira, estou à espera que ele dê pela falta dela para lha dar.

-Mas o rapaz é assim tão distraído? - Disse a avó tentando mudar o ambiente da conversa, animando-o.

-Sim, acreditas que nos conhecemos no Mestalla porque eu andava à descoberta e ele foi ao balneário buscar a carteira ao balneário que se tinha esquecido dela e chocamos um contra o outro, e foi assim que nos conhecemos. Ainda ontem fomos beber café e decidi tirar-lhe a carteira porque ele insiste sempre em pagar e aproveitei quando ele estava distraído e tirei-lhe a carteira, com esperança que ele desse pela falta do dinheiro ao pagar, mas ele tinha moedas nos bolsos e pagou.

-E quando tencionas devolver-lhe a carteira a esse parvalhão?

-ISABEL! - Reclamou a avó. - Que é que o rapaz te fez para falares tanto mal dele?

-Nada avó, simplesmente ele enerva-me apenas por existir!

-Quanto mais me bates mais eu gosto de ti! - Disseram em coro, a avó Maria e a neta Catarina.

-Aquele rapaz saiu-me melhor que a encomenda. - Confidenciou o avô. - Cá para mim, conquistou o coração das minhas netas mais velhas, mesmo debaixo do meu nariz e eu nem dei por nada!

-Nem pensar nisso avó, impossível! - Responderam Isabel e Catarina em coro.

-Afinal o que nos preparaste para o jantar, meu amor?

-Carne de porco à alentejana! - Disse em português. - Não tive tempo de pôr a mesa, desculpem.
A avó colocou o pano sobre a bancada da cozinha, mas Catarina não o queria e acabou por involuntariamente dizer:

-Na bancada não... - Disse ligeiramente mais alto. - Por favor. Jantávamos muito apertados. Ponham a mesa por favor, que já vos vou ajudar, deixem-me só ver do jantar. - A avó olhou para ela como que perguntando o porquê, e Catarina apenas com a boca expressou que depois lhe explicaria, sem emitir nenhum som, não queria que o avô e a prima entendessem o que se passara, ou que havia algo mais.
Depois de colocarem a mesa, sentaram-se todos e Catarina serviu o jantar, como todos tinham tido um dia extremamente cansativo, foi num instante que jantaram e falaram sobre tudo um pouco. Até sobre a comida tipicamente portuguesa.

-Queres ficar cá a dormir hoje, Isabel? Estou a precisar de ir comprar roupa e ir conhecer a minha faculdade, podíamos aproveitar e ir amanhã.

-Não preferes ir dormir a casa dos avôs, ou até a minha casa? Nem sequer trouxe roupa!

-As minhas roupas servem-te para amanhã perfeitamente, faz-me lá esse favor priminha!

-Está bem eu fico, mas dormes no sofá!

-Dormimos as duas na minha cama e não se fala mais nisso.

-E nada de me pregares partidas, principalmente que envolvem o teu amigo José! - O avô de ambas olhou furioso e a avó sorriu. - Escusas de fazer esse olhar enfurecido avô, eu não gosto dele, por muito que ele dê uns bons toques na bola, ainda para mais no Valência!

-E nem penses em olhar para mim avô, eu até dou uns toques na bola e percebo de futebol!

-Vamos lá deixar as miúdas em paz, Pablo, elas precisam de descansar! Amanhã vão pelo menos almoçar connosco?

-Está combinado, avó! Que acharam da minha carne de porco à alentejana?

-Maravilhosa! - Respondeu Isabel. - Tens de fazer mais vezes aqui para a tua prima preferida!
Sorriram e conversaram durante mais alguns minutos, depois Pablo e Maria foram para sua casa e Catarina e Isabel conversaram durante mais algum tempo e foram deitar-se e descansar, estavam cansados do dia de praia que tiveram.

-Prima, diz-me a verdade, não se passou mesmo nada com o José, nem sentes nada por ele? - Catarina parou para pensar durante uns segundos, ou lhe contava por completo a verdade sobre o envolvimento com ele, ou ocultava-lhe alguns pormenores.

-Acredita em mim prima, eu não sinto nada por ele. Somos amigos, apenas isso.

-Está bem, eu acredito, apenas senti alguma química entre vocês e pensava que poderia ter havido alguma coisa, nem que seja um beijo.

-Pois, acredita em mim, eu e o José somos amigos.

-Eu acredito em ti prima, mas agora vamos descansar que amanhã temos um dia longo e cansativo pela frente.

-Não é amanhã a tua festa de aniversário?

-Sim, por isso vamos de manhã às compras que preciso de roupa, depois a Camila vai almoçar connosco a casa da avó e vai contigo ver da tua faculdade, não te importas?

-Não posso ir só jantar com vocês e depois volto para casa?

-Não, vais fazer um esforço para socializar com valencianos e para fazeres amigos novos.

-Que chata que me saíste, a sério! Eu vou, mas fica ciente que vou contrariada!

-Mas pelo menos vais, beijinho e boa noite!

-Boa noite. - Cada uma virou-se para o outro lado e adormeceram.

Como é que estás? Tira esse ar de desprezo
Eu vi-te a olhar para mim eu nem olhei estou ileso, foste tu
Miúda não mintas. Mas também não foste a única por isso acredita
O que é que eu quero? Nada que não queiras.
Hoje sou só eu e tu de qualquer das maneiras
E não olhes para o lado com esse ar superior
Com a mania que és difícil quando queres é calor.
Não sejas cínica e negues que a nossa química impede
Que isto seja mais do que breve, quando tu és tímida e queres
E eu não olho para mais ninguém, esta noite estou cego
E eu penso cá para mim 'ai, ai se eu te pego'
E eu não nego nem renego a atitude galã
Se te posso ter hoje porquê esperar por amanhã?
Então tu sabes ou ficas já a saber, se esta noite quiseres
Já somos dois a querer
Eu já olhei e ela Quer Quer Quer
Até já disse à amiga eu faço o que ele quiser
Eu não pensei, não tirei o olhar, não hesitei
Tirei-te o fôlego num segundo como só eu sei
E se tu pensas não vai Dar Dar Dar
Eu estou aqui para isso mesmo, eu vou-te mostrar.
Que não importa, neste mundo hoje somos dois
E as tuas hesitações que fiquem para depois”



-Desliga-me essa porcaria, Catarina!

-Bom dia priminha!

-Como é possível acordares com tão bom despertar? E depois de ouvires uma música portuguesa?

-O meu despertador muda todos os dias, hoje calhou ser em português.

-Acho que deveria ser sempre Pablo Alborán, haveria melhor despertar do que ao lado daquele senhor?!

-Feliz aniversário, meu amor! - Deu-lhe um abraço forte e um beijinho. - Pensavas que me tinha esquecido do teu aniversário? Nem pensar nisso! Logo à tarde vou comprar-te uma prendinha e dou-te logo à noite!

-Obrigada, portuguesa! - Deu-lhe um beijinho na bochecha. - Não precisas de me dar nada, estamos juntas no meu dia de anos, é a melhor prenda que me podias ter dado!

-Obrigada! E como sou boa pessoa vou-te deixar tomar banho primeiro!

-Nem eu te dava hipóteses de não o ser! - Dito isto levantou-se e foi em direção à casa de banho. Catarina pegou no telemóvel e deparou-se com uma mensagem de José:

Bom dia portuguesa gata!
Ontem deixei a carteira em tua casa não deixei? Espero não ter arranjado problemas com os teus avôs por causa disso! Arranjas-me o número da tua prima se faz favor? Queria dar os parabéns ao monstrinho que é a Lola! Beijinhos”

Depois de ler a mensagem acabou por responder:

Bom dia valenciano gatão!
Deixaste sim, mas não te preocupes que inventei uma desculpa boa o suficiente para não desconfiarem de nada! Arranjo sim, mas tens de prometer que pelo menos tentas ser simpático com ela! *********, aqui está, se ela perguntar, não fui eu que te dei. Beijinhos e até logo!”

Até logo? Estás indiretamente a convidar-me para sair hoje?”

Não vais ao jantar de aniversário da Isabel?”

Não posso... Desculpa! Beijinhos :) “

Beijinhos espanhol ;) “

-Para quem é esse sorrisinho, Catarina? Deixa-me adivinhar o outro mandou-te uma mensagem.

-Por acaso é verdade, mas foi para te desejar os parabéns e a pedir-me o número, e eu não dei, claro.

-Acho bem, não quero que esse sujeito tenha o meu número. - Reclamou. - Então vai lá tomar banho que ainda temos de comprar uma roupa para eu estrear hoje e para usares logo à noite!

-Está bem, estou a ir! - Levantou-se da cama e foi até à casa de banho.

Depois de tomar banho e de se vestirem foram às compras, onde ficaram toda a manhã à procura de roupa, o vestido para Catarina e a roupa ideal para Isabel estrear, mas acabaram por descobrir, e atrasarem-se para o almoço, mas com o sentimento de dever cumprido. De seguida foram almoçar à avó, onde encontraram a restante família e cantaram os parabéns à mais recém maior de idade e logo depois teve de seguir até sua casa para acabar os preparativos para o jantar. E Catarina juntamente com Alma foi até à faculdade, onde assinou os papéis que precisava de assinar e decidiu descobrir onde eram as salas e o seu horário, o que acabou por não demorar muito até porque tinham de se arranjar para o jantar. Quando saíram da faculdade foram até casa de Catarina onde se iriam preparar para o jantar, quando estivessem prontas, Iker iria buscá-las para seguirem para a festa.

-Alma, tenho mesmo de ir? Sabes que não estou completamente confortável com a língua.

-Já disseste à Isabel que ias, além do mais sabes que ela vai gostar que estejas lá, é o primeiro aniversário que estás presente. E além do mais temos um vizinho português que vai lá jantar.

-Vocês têm um vizinho português?

-Sim, e é bem jeitoso pelo que vi.

-Esse argumento do português é no mínimo... Engraçado.

-Então vai-te lá despachar a vestir. Queres ajuda com o cabelo?

-Se quiseres ajudar, eu agradecia.

-Já sabes o que vais fazer?

-Sim, vou esticá-lo e tu o que vais fazer?


-Vou apenas apertar o cabelo.


Catarina vestiu o seu vestido e cada vez gostava mais dele, aproximou-se da sua prima que lhe colocou uma fita que tinha comprado e ficava bem com o vestido na cabeça e admirou-se:

-Achas que fico bem com o cabelo ao natural?

-Ficas lindíssima assim, eu não mexia em nada mais.

-Vou confiar no teu bom gosto. E tu o que queres fazer ao cabelo?

-Esticá-lo, ou o que achas que lhe devo fazer?

-Estica-o. Eu ajudo-te, tenho ali a máquina que ajuda a esticá-lo, mas primeiro deixa-me tirar uma foto.

Colocou-se em frente ao espelho e ergueu uma parte do vestido, de maneira a parecer mais curto, tirou uma fotografia e enviou a José com a seguinte legenda:

Gostas? Estou bonita?”

Ele não tardou a responder:

Tu és bonita, e estás sempre bonita, mesmo depois do sexo com o cabelo todo desengonçado! Mas sinceramente... Prefiro ver-te sem nada vestido! ;) “

Catarina sorriu e deixou-se ficar completamente corada, o que acabou por ser reconhecido pela prima.

-Estás tão corada e a rir-te do quê Catarina?

-É o parvo do José, não ligues, e eu como não estava à espera.

-Mas afinal o que é que ele te disse?

Ouviu-se a campainha tocar e Catarina suspirou de alívio, estava safa pelo toque da campainha, foi até à porta e abriu-o. Era Iker, que se sentou no sofá e ficou à espera das raparigas para seguirem até à festa.

-Demoram muito meninas?

-É só esticar o cabelo à tua namorada, porque vestida já está, demora pouco.

-Sempre que uma rapariga diz que não demora muito é porque demora.

-Até parece que já te fiz esperar muito por mim.

-Só um bocadinho, não me posso queixar, que nem és das mulheres que mais demoras.

-E as princesas por acaso já se calaram e já estão prontas ou vão fazer-me esperar mais?

-Já estou pronta! - Disse Alma depois de se olhar ao espelho pela última vez. - Vamos?

-Estás tão irresistível que nem sei se te resistirei toda a noite... - Começou a aproximar-se de Alma e a tentar beijá-la.

-E eu agradeço a partilha de informação mas dispenso do fundo do meu coração, deixem o mel para mais logo por favor!

-Está bem priminha, vamos lá que aposto que a Isabel já está à nossa espera para o jantar.

-Eu bem que me podia atrasar que o jantar não começava sem mim, ela adora-me. - Disse brincando com eles. - Estou a brincar, ainda estamos dentro da hora mas é 
melhor não nos atrasarmos mais a sair de casa. Levas o carro, Iker?

-Sim, assim podes beber à vontade e a Alma também, que eu trago o carro.

-Não tenciono beber, podes ficar descansado e bebam vocês os dois.

-Não digas isso duas vezes que eu aceito. - Sorriram e foram ambos até ao carro.

Entraram no carro e passado pouco menos de dez minutos chegaram ao destino...

Como correrá a festa?
Será que José vai surpreender as primas? Ou será que haverá outra surpresa?

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Capítulo 5: “É por causa do que aconteceu entre nós? “



-Amo-te sabias?
-Então deixa a tua mulher e vamos viver a nossa história de amor...
-Não posso...
-Não podes ou não queres?
-Não posso, ela está grávida.”

-Não! Ela não pode estar grávida! - Catarina saltou da cama assustada e abriu os olhos, respirou fundo... Tinha sido apenas um pesadelo. - Controla-te Catarina, aquele sujeito não merece o que estás a passar, ele é passado! - Falou consigo mesma, desabafando. - Vou mas é dormir que são 3 da manhã, e espero que seja uma noite descansada e santa! - Dito isto voltou a deitar-se e a adormecer pouco depois de pousar a cabeça na almofada, até acordar poucas horas mais tarde com mais um “sonho”

-Não quero acreditar, mas será possível que não consigo dormir uma noite descansada sem ter um pesadelo que envolva dois otários? Malditos espanhóis, em Portugal isto não acontecia! - Reclamou e olhou para o telemóvel para verse já era de manhã ou não, e tinha 3 mensagens e duas chamadas não atendidas, todas da mesma pessoa: José.

Olá minha portuguesa preferida :) Liguei-te para avisar que cheguei a casa da minha mãe e já cá estava a minha prima, que fez uma excelente viagem desde Barcelona! E tu já chegaste a tempo do tão famoso jantar de família? Beijos”

Catarina, estás arrependida do que se passou? Diz-me a verdade.”

Quando puderes liga-me, estou a ficar preocupado. Beijinhos do teu espanhol ;) “

Entre a segunda e a terceira mensagem havia recebido a segunda chamada, a primeira havia recusado. Tivera de mentir à avó e dissera-lhe que era um ex-colega que lhe ligara para conversarem, e ela não queria falar, mas na verdade não tinha realmente disposição e nem queria falar com José, não queria enfrentá-lo, nem pedir “satisfações”. Sentira-se enganada, mas a culpa não era, apenas, dele, depositava demasiadas esperanças nas pessoas, e ele limitara-se a desiludir e a sentir de forma intensa o que ele havia feito, mas já estava habituada à magoa, e relembrara-se a si mesma que tinha de ser mais forte que tudo isso. Nem José, nem Júlio, nem homem nenhum valeriam a pena.

-Meu amor? - Perguntou a avó entrando no quarto. - Já acordada? Ainda é cedo! - Disse passando a mão pela face da neta e sentando-se aos pés da cama.

-Tive dois pesadelos esta noite, dormi bastante mal e tenho medo de voltar a adormecer e voltar ao mesmo.

-Costumas ter pesadelos?

-Não os tinha desde a morte do meu pai.

-Tenta voltar a dormir meu bem, pode ser com o 
cansaço eles desapareceram.

-Estou bem avó, não precisas de te preocupar.

-Sabes que podes desabafar comigo, princesa, sou tua avó, mas sou tua amiga, sei bem o que passas, também já tive a tua idade embora não pareça!

-Vais-me julgar e apontar o dedo.

-Vou amar-te acima de tudo isso, e respeitar seja qual for a tua decisão e a luta, vamos caminhar juntas!
Catarina respirou fundo e decidiu contar à avó a sua relação com Júlio e a relação fugaz com José, que não mostrou nem por um segundo julgá-la ou criticá-la, notava-se o carinho que sentia pela neta e o quanto queria o seu bem, compreendia a mágoa e queria ajudá-la a ultrapassar.

-E porque não falas com o José e lhe contas tudo o que te passou pela cabeça quando viste a foto?

-Porque ele vai pensar que existem mais sentimentos envolvidos além da atração e a amizade, e eu não quero, avó.

-Tu é que sabes o que deves fazer ou não, mas acho, sinceramente, que devias conversar com ele e expor o teu ponto de vista, talvez seja apenas tudo um mal entendido!

-Não há mal entendido nenhum avó, aquela rapariga só faltava saltar-lhe para cima, e ele ainda teve a lata de partilhar aquela foto com o mundo!

-Já pensaste que ela poderia ser a prima dele?

-Não quero ter nada haver com o José, avó. Ele já me desiludiu o suficiente.

-Acho que deverias dar-lhe uma última oportunidade de se justificar, mas compreendo perfeitamente que seja difícil. O teu avô até gostava do rapaz, mas tinha medo que ele quisesse esticar-se, ou algo do género.

-Por favor não lhe digas nada, para todos os efeitos não se passou nada.

-Não o ia contar, nem se não me tivesses pedido. Contaste à tua prima?

-Só sabes tu e a Camila. Mas falando de coisas mais animadas, onde vamos hoje?

-Tu é que sabes o que deves ou não fazer, mi pequeña, e eu respeito a tua decisão, mas primeiro deixa-me só fazer-te uma pergunta. Foi o José que te ligou antes do jantar não foi?

-Sim, mas eu não queria falar com ele, tinha acabado de ver a foto.

-Hoje temos o dia por nossa conta, que o teu avô tem trabalho, e acho que poderíamos aproveitar para ir à praia.

-Parece-me a melhor ideia que tiveste hoje! - Sorriram ambas. - Pensei em fazer um jantar de apresentação da minha nova casinha, só para ti e para o avô, com comida tipicamente portuguesa, hoje à hora de jantar que acham?

-Não preferes organizar para daqui a uns dias e convidamos a família toda?

-Quero fazer algo só para vocês, algo mais intimista e daqui a uns dias para a família toda. Hoje até pensei em fazer carne de porco à alentejana e com toda a família faço francesinha.

-Isso é bom?

-A francesinha vai fazer-vos um pouco de impressão, é uma bomba calórica, mas o segredo está no molho e a minha mãe diz que o faço bastante bem. A carne de porco à alentejana é o meu prato preferido, o truque está mesmo no amor que depositamos ao prato. Assim como eu estou a abrir os meus conhecimentos para a cultura valenciana, também quero que abram à minha cultura portuguesa.

-Tenho pena que não sejas tão próxima de Valência e de tudo o que nos envolve, e a ti também que de Portugal.

-Avó, tenho o feitio que o meu tinha. Fisicamente também sou muito parecida com ele. Talvez o facto de me sentir mais portuguesa seja uma forma de me sentir mais próxima dele... Afinal ele era português. E como sou a mais velha, quis de uma forma indireta tornar-me igual ao que ele era, e ele era português, e a minha irmã pelo contrário, viu o esforço da minha mãe para nos educar e dar tudo às duas e ficou mais valenciana por causa disso, para de uma certa forma honrar a nossa mãe.

-Mas aconteça o que acontecer, tenho muito orgulho em ti, minha portuguesa! - Deu-lhe um beijo na testa. - Mas vamos lá despachar-nos para irmos fazer um dia de praia, como não faço há anos. Trouxeste biquínis de Portugal, ou queres experimentar um que eu comprei para ti?

-Acho que vou experimentar um dos teus.

-Vou-te dar então privacidade e tentar de uma vez por todas acordar a tua prima Isabel que já a fui chamar 3 vezes e nada, e vou preparar qualquer coisa para comermos na praia!

-Não abuses do comer avó, não como muito!

-Vou levar apenas o essencial. Os biquínis estão na última gaveta do armário pequeno.

-Obrigada avó!


Catarina foi até ao armário e ficou completamente rendida ao biquíni que a avó lhe tinha comprado e decidiu de seguida experimentá-lo.


Adorava a cor, um azul claro, e não lhe realçava as suas curvas, aliás mostrava-as mas sem as chamar a atenção, e era também um estilo de biquíni que lhe servia de forma absoluta no peito, onde tinha tantos problemas em arranjar algo que gostasse.
Fez uma trança rápida no cabelo, e colocou os seus óculos de sol, vestiu uma roupa simples e foi ter com a prima ao piso superior, à sala de estar onde havia um sofá-cama e a prima deveria dormir, mas não precisou de lá chegar, Isabel e a avó já estavam na cozinha prontas para irem a pé até à praia, bastariam apenas 10 minutos a pé e foram.

-É desta que o querido Gayà se declara à minha priminha e viveram felizes para sempre.

-Esquece, Isabel. Isso não vai acontecer.

-Está apostado, lembraste?

-Sim, sim. Vamos para a praia?

-Vamos lá meninas.

(Passado algumas horas)
-Avó, para ter tempo de preparar o jantar e assim, vou para casa tomo banho e depois quando o avô chegar podem ir ter a minha casa?

-Claro que não meu anjo, trouxeste as chaves do carro?

-Sim, avó, se o avô chegar tarde, liga-me que vou buscar-te a ti e à Isabel.
Pegou nas chaves do carro e conduziu até sua casa, estacionou o carro na garagem e decidiu subir pelas escadas, apesar do cansaço típico de quem passara um dia na praia, assim que chegou ao andar de sua casa assustou-se. José estava à porta de sua casa e ela sentiu uma estranha necessidade de se esconder no corredor das costas e rezar para o rapaz não a ter visto.

-Escusas de te esconder Catarina. - A rapariga aproximou-se de sua casa e do rapaz.-Porque estás a fugir de mim?

-Não estou a fugir de ti.

-Estás a fugir de mim sim, Catarina. É por causa do que aconteceu entre nós?

-Não tenho culpa que queiras confundir tudo, simplesmente tenho andado ocupada.

-Tão ocupada que chegas à porta de casa e ficas sem tempo para vires? Que nem sequer consegues responder às minhas mensagens e chamadas?

-Deixa-me, José. Tu és como os outros todos, vai-te embora. - Colocou a chave na fechadura e entrou, tentou fechar a porta, mas o rapaz segurou-a e entrou.

-Que se passou?

-Tu imaginas como me senti depois de ver a fotografia que partilhaste com o mundo depois de teres ido para a cama comigo? Imaginas como me senti?- José sorriu, o que enervou ainda mais a rapariga.

-É sobre isso que se trata?

-Eu sei que não foi mais que uma, ou duas voltinhas, é indiferente o número de vezes, mas e o que me fizeste sentir? Sabes o que é sentir repulsa de mim mesma? Sabes o que é sentir-me usada e enojada do meu corpo?

-Catarina, do que conheces de mim, achas que seria capaz de ir para a cama com duas raparigas no mesmo dia?

-Conheço-te há dois dias José, como queres que tenha uma noção do que és ou não?

-Mas é impressão minha ou tu ficaste com ciúmes da Sara?

-Nem pensar nisso. - Disse virando-se de costas para ele e pousando as mãos sobre o balcão, o rapaz encostou-se a ela e puxou-lhe o cabelo que estava sobre o seu ouvido e sussurrou-lhe:

-Tens a certeza que queres cozinhar e não aproveitar para fazer outras coisas?

-Secalhar devia aproveitar para ir tomar banho que tenho o corpo cheio de areia...

-Tenho um jantar para fazer.

-Ainda não tenho fome.

-Ninguém te convidou para jantar.

-Porque eu sou o jantar.

-Por acaso, tenho combinado com os meus avôs e a tua futura namorada que eles vinham cá jantar.

-Mas por enquanto aproveitas para ficar aqui a matar saudades deste corpinho todo nu... - Colocou-a em cima da bancada e foi ali mesmo que repetiram os momentos do dia anterior, e ela não conseguia acreditar o quão bom tinha sido, seria possível ele ficar melhor a cada vez que o faziam?
Quando terminaram, ela vestiu-se e foi até ao supermercado, precisava de comprar alguns alimentos para o jantar, enquanto o fazia, telefonou para José e pediu-lhe para se ir embora, ele acabou por obedecer, mas apenas porque a sua prima, Sara já o esperava, mais uma vez. E nem tinha explicado a Catarina, que a rapariga da foto, era apenas a sua prima, mas iria fazê-lo mais tarde. Quando regressou a casa respirou de alivio, José tinha limpo a bancada (onde se haviam envolvido), tinha feito a cama (que estava desfeita do dia anterior) e tinha também colocado a mesa para quatro pessoas, e decidiu ir preparar o jantar, o que acabou por ser também rápido, terminou quando estavam a chegar os seus avôs. E Pablo, atento como era, ainda antes de cumprimentar a neta, reparou em algo, no mínimo estranho.

-Aquela carteira é tua, querida? - A avó Maria, Catarina e Isabel olharam para a bancada e Catarina não poderia acreditar... José tinha deixado a sua carteira novamente perdida, onde iriam arranjar uma desculpa para aquela carteira estar ali?

Que desculpa irão dar?
Será que Catarina contará a verdade? Ou vai conseguir “enganar” o avô?