quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Capítulo 4: “A banheira não poderia ter melhor uso...”


José não era o tipo de homem preferido de Catarina, aliás estava longe do estereótipo ideal dela. Sempre preferira homens com feições mais duras, pelos faciais e olhos castanhos claros, com músculos definidos, ou perto disso e altos, e José parecia o oposto disso mesmo. Tinha 1 metro e 69 centímetros, um ar tanto ou nada infantil, os músculos não estavam definidos mas para lá caminhavam com a preparação física a que ele era submetido todos os dias devido à sua profissão, tinha pelos faciais sim mas poucos, o que encaixa na perfeição na descrição de homem ideal era os olhos castanhos claros, mas, apesar de ser tão diferente do que ela idealizava, não deixava de se sentir completamente atraída por ele, desde que trocaram olhares pela primeira vez e quando ele aparecera em sua casa a dizer aquela frase “Sinto-me tremendamente atraído por ti desde que te vi (...)” e ficou sem resposta possível, não o esperava minimamente mas também não se deixara calar, queria cair nos braços dele e cometer uma loucura... Sim, porque aquele envolvimento era uma loucura. Tinham-se conhecido no dia anterior e não estavam apaixonados, aliás o único sentimento era de amizade e atração e nunca se tinham envolvido apenas pela atração, era a primeira vez que o faziam, mas havia sempre uma primeira vez para tudo e talvez fosse um erro, mas já o começaram e não podia simplesmente terminá-lo. Beijaram-se e o ambiente entre eles aquecia cada vez mais. Ambos sabiam bem como tudo ia acabar.
Catarina encostou-se à parede e José aproximou-se dela com os olhos bem fixados nela, beijou-a e começou a colocar as mãos debaixo da camisola dela e Catarina ergueu os braços numa tentativa de ajudá-lo, depois foi a vez dela de inverter a situação, despiu-lhe a camisola e pode reparar no seu corpo, não era o que esperava, aliás até ficou surpreendida com o que via. Olhou para o corpo dele durante alguns segundos e voltou a tomar os lábios dele, e quão bem sabia, ele separou os lábios e em tom de sussurro perguntou entre beijos:

-Estas seguro?

Catarina não conseguia separar os lábios dos dele, pareciam viciantes e simplesmente eram, prendeu as suas pernas no tronco dele e foram juntos até à cama que apesar de estar próximo, apenas a uns metros, pareciam a uma distância enorme e o tempo parecia doloroso até lá chegarem. Os curtos calções que ela tinham vestido de repente desapareceram com a agilidade dele, e depois foi a vez de Catarina chegar as suas mãos aos botões das calças dele, José sorriu e deixou-a tirar as calças embora ela fizesse vagarosamente para o provocar e era notório o quanto ele estava doloroso para fazê-la sua, quando as calças (até que enfim) caíram no chão, ele agarrou nela e despiu ele próprio as poucas roupas que tinham no corpo, apenas as cuecas e começou as suas investida e ele sabia bem o que fazia, e ela deixava-se levar por ele. E toda a energia, toda a entrega ficou ali bem vistosa, nenhum deles se preocupou com o facto de terem algum outro tipo de romance ou com o que aquele envolvimento iria afetar o futuro dos dois, queriam apenas desfrutar do momento... E que bem que o fizeram! Depois adormeceram nos braços de cada um, completamente despidos e embora ela tivesse vergonha de expor o seu corpo não teve energias para se vestir.

En la suite (Na suite)
Dieciseis (Dezasseis)
Lo que empieza no termina (O que começa não acaba)
Del mini bar al Éden (Do mini-bar ao Éden)
En muy mala compania (Em má companhia)
Era ese sabor en tu piel (Era esse sabor da tua pele)
A azufre revuelto con mie (De enxofre misturado com mel)

Asi que me llene de coraje (Enchi-me de coragem)
Y me fui a caminar por el lado salvaje (E fui caminhar pelo lado selvagem)
Pense "no me mires asi" (Pensei “não me olhes assim”)
Ya se lo que quieres de mi (Já sei o que queres de mim)
Que no hay que ser vidente aquí (E nem preciso de ser vidente aqui)
Para un mal como tu no hay cuerpo que aguante (Para um mal como tu, não há corpo que aguente)

-Si? - Perguntou Catarina acabada de acordar com o som do telemóvel, pegando dele e atendendo ainda com os olhos fechados.
-Meu amor, liguei-te porque sabia que ias estar a descansar e era para acordares para não te atrasares para o jantar.
-Desculpa avó, tinha adormecido mas já vou para o banho e vestir-me para ir ter com vocês!
-Até já guapa!
-Até já mi amor! - Dito isto desligaram a chamada e Catarina sentiu um beijo no seu ombro, só poderia ser o doce despertar de José. -Era a minha avó que me queria acordar para o jantar.
-Jantar? Mas que horas são?
-Dezanove e trinta. - José levantou-se rapidamente e começou a procurar a sua roupa.
-A minha mãe vai-me deserdar, vou chegar atrasado!
-Eu a pensar que tinha companhia no banho...
-A menina não queria chegar a horas ao jantar de família?
-Jantares de família há muitos, banhos nesta companhia poucos.
-Tens mesmo de conhecer a minha mãe, ela iria adorar ouvir isso!
-Nem penses, detesto conhecer famílias! - Disse incomodada. -Aposto que se contares à tua mãe que o teu tempo foi muito bem aproveitado, ela compreendia perfeitamente!
-Querida mãe, em invés de ir juntamente contigo buscar a minha prima ao aeroporto, fiquei na cama com uma amiga minha!
-Portuguesa! - Riu-se só de imaginar. - Pagava-te para fazeres isso!
-Se tu dissesses ao teu avô que tinhas ido para a cama comigo, não iria ter lugar em equipa nenhuma, nem na Bielorrússia, nem na China, e nem ao lado de pinguins!
-Mas quem falou em apenas cama? A banheira não poderia ter melhor uso... - Sugeriu e deixou o seu corpo a descoberto e foi em direção à casa de banho com o corpo à mostra, claramente provocando José.
-Com que então a menina gostou e quer repetir... - Seguiu-a até à casa de banho e fizeram novamente o que havia feito há momentos mas na casa de banho, e não se preocuparam com horários, apenas quando terminaram saíram rapidamente da banheira, vestiram-se e tentaram despachar-se depressa.
-Depois manda-me mensagem boneco.
-Vou fazê-lo gata. - Piscou-lhe o olho e cada um foi para o seu carro... Ele estava quase uma hora atrasado para ir buscar a prima ao aeroporto e Catarina estava atrasada meia-hora para o jantar em casa dos avós e nenhum deles sabia bem que desculpa dar para o atraso, sabendo desde sempre que não poderiam contar a verdade, cada um deles teria de arranjar uma desculpa viável. José olhou para o telemóvel e já tinha dez chamadas não atendidas da mãe e cinco da prima, decidiu ligar-lhes e ir para casa da sua mãe... Mais facilmente as apanharia ali. E Catarina arrancou a alta velocidade para casa dos avôs, sabia que nenhum dos avós a iria repreender que queriam-na mimar demasiado para conseguirem fazê-lo. Entrou para o interior da casa que também considerava sua, embora agora tivesse realmente uma que fosse sua e foi até ao seu quarto pousar as malas e pode deparar-se com a sua prima Lola deitada sobre a cama a ler um livro.

-Buenas noches! - Cumprimentou-a com um beijo na testa. -Que fazes aqui? Vieste jantar?
-Vinha, mas houve alguém que se atrasou...
-Cheguei atrasada, mas cheguei não é o que importa?
-O que vale é que os avós perceberam que tinhas adormecido e não levaram a mal, ou andaste a fazer outras coisas Catarina Inés?
-Acordei quando a avó me ligou e fui tomar banho e aí voltei a adormecer.
-Aposto que ficaste foi a falar com o Gayà e nem deste pelo tempo passar. - Catarina engoliu em seco, será que prima desconfiava de algo? Era impossível, não tinha dado nada a entender.
-Achas que trocaria umas boas horinhas de sono na minha casa nova, para falar com ele? O meu sono é sagrado!
-Cá para mim dizes que nós vamos acabar juntos e ele ainda te salta mais rapidamente para cima de ti que outra coisa!
-Vai sonhando! - Disse bem-disposta, tentando demonstrar tranquilidade quando estava em pânico a pensar se ela iria descobrir. -Aposto 50€ em como daqui a um mês me vêm dar a notícia que estão juntos!
-Apostado! - Deram um “passou-bem”. - A tua mãe e a tua irmã ligaram.
-Esqueci-me completamente de lhes dizer que tinha chegado e que estava tudo bem! - Colocou a mão na cabeça. - Que lhe disseram?
-A verdade. Mas que ligavas depois do jantar!
-E ligo, senão bem que posso ficar aqui que a minha mãe deserda-me. E os avós onde estão?
-Foram às compras, mas não se vão demorar.
-Então chega-te mas é para lá que me quero deitar para ir ver as minhas redes sociais. - Alma chegou-se mais para a ponta esquerda da cama enquanto Catarina deitava-se do lado direito, abriu o Facebook e pode ver as novidades, depois deixou alguns tweets no seu Twitter e depois foi altura de ir até ao Instagram... Onde viu o que não queria.


-Otário, parvalhão e paneleiro! Mais facilmente é o Porto campeão limpinho que tu dás um orgasmo a uma mulher, seja ela quem for, por isso dedica-te mas é ao futebol porque nas outras áreas não te safas nada bem! Com que então ias ter com a tua prima não é? Olha que prima... - Disse depois de se levantar da cama e andando de um lado para outro e a prima ficou surpreendida. - Mas se ele está à espera que lhe diga alguma coisa ou que responda mais às investidas dele que esteja descansado, jamais, não merece mais ver este corpinho despido!
-Agora em espanhol Catarina! - Pediu a prima repreendendo-a. -Escusas de me dizer que foi algo bom porque pelas tuas expressões foi tudo menos bom!
-E é verdade! - De repente Catarina lembrou-se que tinha prometido a si mesmo que não iria contar a ninguém o seu envolvimento com José. - A porcaria do telemóvel não me está a deixar ligar para a minha mãe, tenho de pedir à minha mãe para me mandar dinheiro para comprar um novo!
-Queres ligar do meu?
-Deixa estar, eu volto a tentar do meu. - Teve de olhar mais uma vez para a foto para sair do Instagram, e assim que o fez telefonou à irmã.
-Agora já está a dar? - Perguntou a mais nova e Catarina respondeu abanando a cabeça. -Queres que sai-a para vos dar privacidade?
-Eu vou para o escritório lá em cima deixa-te estar. - Dito isto saiu do quarto e foi para o escritório do seu avô no andar superior.
-Sim?
-Camila, como estás?
-Em valenciano Catarina, valenciano!
-Rodeada de espanholada estou eu, deixa-me falar contigo em português porque aqui ninguém me entende!
-Eu sou mais espanhola que tu e vivo em Portugal e tu mais portuguesa e vives em Espanha! Como estás?
-Estou cansada, foi a viagem, o dia foi uma agitação... E tu e a mãe?
-Estávamos já preocupadas contigo, nunca mais nos dizias nada. O que vale é que a avó ligou à mãe quando chegaste! Como estão a correr as coisas por aí?
-Os meus dias têm sido uma agitação e uma animação...
-Conta-me tudo, mana.
-Ontem cheguei e depois do jantar de família fui ao Mestalla, ou melhor, ao estádio do Valência e conheci um rapaz chamado José, José Gayà, e o moço realmente é jeitoso. Hoje fui passear durante o dia com os avós e no final da tarde estava em casa... Na minha casa. É uma longa história, depois explico-te e ele foi-me tocar à porta com uma história como “sinto-me atraído por ti desde o início e sei que não o vou fizer vou-me arrepender” e aconteceu... Simplesmente aconteceu.
-Então e o Júlio?
-O Júlio é passado. O que quer que tenhamos tido terminou.
-Não estarás a usar o José para o esqueceres?
-O que aconteceu com o Júlio e com o José é passado, eu não quero relacionamentos sérios e muito menos com jogadores de futebol.
-Estás a tentar mentalizar-te que não sentes nada por ele, mas no fundo acho que ainda não esqueceste o Júlio e o José não te é indiferente.
-O Júlio era um menino na cama comparado ao José, mas mesmo assim os dois eram terríveis. O José então provou que não merece sequer conviver comigo!
-O que é que o rapaz já te fez, Catarina Inés?
-Acreditas que quando acordamos ele disse que já estava atrasado, mas mesmo assim consegui convencê-lo a irmos até ao banho... E pronto, depois estávamos já bastante atrasados e ele fez questão de me dizer, entretanto eu vim para casa dos avós e ele postou uma foto com uma rapariga, consegues acreditar? Tenho vontade de lhe bater, além do mais espero que ela nunca lhe dê orgasmos como eu lhe dei!
-Isso foi um golpe baixo, Catarina!
-Não quero saber, ele que se atreva a aparecer à minha frente ou que me diga o que quer que seja, estou mesmo fula com ele!
-Secalhar é a irmã... Ou a mãe, não sabes! O que diz a legenda?
-Não vi, nem quero ver, eles que sejam felizes, de preferência longe de mim!
-Porque me parece que isso sejam ciúmes?
-Acredita que não são, ele fez-me sentir usada e isso é sentimento que nenhuma mulher deve sentir na vida! Não me deve satisfações, eu sei e nem eu as queria, mas parece que ele foi para a cama comigo porque não conseguia ir com mais ninguém, que fui presa fácil e agora? Arranjou logo outra e esqueceu-se da minha existência.
-Porque não combinas nada com ele para falarem?
-Não vale a pena Camila... Simplesmente não vale. Não fui feita para ter relações, e sinceramente não me importo. De todas a vezes que tentei magoei-me, mas também não me deixo ir abaixo, tenho preocupações maiores e vou para a faculdade e tenho de me concentrar nisso.
-E se te aparecer alguém de quem gostas realmente?
-Não vai aparecer. - Respondeu sorrindo, aceitando com tranquilidade o que dizia. - Mas agora vou jantar, eu volto a ligar ao jantar depois do jantar, beijo!- Dito isto Catarina desligou a chamada e voltou-se de costas e estava ali a avó, que ficou a olhar para ela. - Olá avó! Desculpa o atraso mas quando me ligaste fui tomar banho e voltei a adormecer na banheira, mas prometo que vou tentar não me atrasar mais. - Nunca mais por estes motivos, prometo! Pensou consigo própria. - O jantar já está pronto?
-Sim meu bem, vinha chamar-te. E não tem mal o atraso, eu e o teu avô também fomos às compras... A tua prima é que já está com o feitio impossível com a fome!
-Eu sou igualzinha com a fome, avó! - Sorriram e Catarina sentiu o telemóvel na sua mão vibrar e tocar, olhou para o visor e era José.

Será que Catarina vai atender?
E se atender, o que lhe dirá? E o que quererá José?