segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Capítulo 17 "Eu preciso de pensar"



(Alma)
-Mas doutor, eu estou com a menstruação. - Fora a sua primeira reação à notícia.
-Não é muito usual uma mulher grávida ter a menstruação mas é possível acontecer, não tem de se afligir, está tudo bem. Aconselho-a é a marcar uma consulta de planeamento familiar para falar com um médico mais especializado nessa área que a pode ajudar.
-Eu tenho tantas perguntas para fazer e ao mesmo tempo só quero ficar em silêncio.
-É normal esse mar de emoções que sente, mas tudo vai acabar por acalmar com o tempo, é uma experiência nova e as hormonas lideram o que sente, mas o melhor é desfrutar deste momento, mais que qualquer outra coisa. Pode fazer a sua vida normal mas cuidado com o exercício físico, e muito cuidado com os esforços exagerados neste 3 meses é muito importante um esforço especial, porque é uma altura delicada.
-Obrigada doutor, acho que estou esclarecida. - Levantou-se e saiu do consultório.

Alma decidiu dar ouvidos ao médico e tentar desfrutar daquela gravidez ao máximo, embora o bebé não fosse pensado ou desejado era amado como se o fosse e a felicidade  dominara-a por completo, não conseguia escondê-lo de ninguém e muito menos tirar o sorriso radiante que tinha na face, sentia-se radiante e ansiosa por partilhar com o mundo que esperava um bebé, mas sabia que não podia nem deveria fazê-lo. Os próximos 3 meses seriam decisivos e teria de ter muito cuidado, e apenas iria contar a poucos, estritamente os que necessitavam de saber, como a família e os amigos mais próximos. Sabia que eram meses críticos e tudo poderia acontecer, e além disso, teria de ter ainda mais atenção porque Iker ainda a perseguia e ao seu namorado e ele de forma alguma poderia saber daquele pequeno ser vivo, tinha medo do pudesse fazer não a si, mas ao pequeno. E agora teria de contar a alguém aquela novidade, mas quem seria a primeira pessoa a quem ela deveria contar a novidade? Talvez à irmã, mas ela andava tão ocupada na sua “não-relação” com José. Ou talvez à prima Catarina, mas ela  estava ocupada entre a faculdade e o seu namoro com João. Os pais também seriam uma forte hipótese mas iriam fazer-lhe perguntas das quais ela ainda não tinha resposta... Estava decidido!! A primeira pessoa a quem iria contar era ao seu namorado, afinal ele era o pai, o seu namorado, ele era a pessoa no mundo que mais merecia saber! Mas Alma queria dar-lhe a notícia de uma forma original e decidiu logo como o iria fazer, há uns tempos tinha descoberto diferentes formas de dar a notícia de forma original e como Shkodran gostava de beber café, era uma excelente ideia dar-lhe a notícia no fundo de uma chávena. Apanhou o autocarro e foi para perto da sua mais recente casa e procurou lojas onde encontrasse a chávena ideal e acabou por descobrir rapidamente a loja e o artigo que procurava e depois voltou para casa. Preparou um chá enquanto esperava pelo seu namorado e quando ele chegou cumprimentou com um beijo e um sorriso, sentaram à mesa da cozinha e ela serviu o chá.

-Porque estás tão sorridente? O que te disse o médico?
-Bebe o chá e vê o que diz no fundo da chávena.
-O que estás a preparar?

-Bebe o chá. - Shkodran obedeceu e terminou o chá num instante.


-De verdad? - Perguntou surpreendido. - Te quiero, te quiero, te quiero! - Levantou-se e beijou-a. Pousou a mão direita sobre a barriga dela e deu-lhe mais um beijo, desta vez na testa. - Nem quero acreditar!! Gracias, de corázon! - Deu-lhe mais um beijo rápido nos lábios, era notável a felicidade e a emoção que ele sentira quando tivera a certeza que iria ser pai. - Só me apetece contar ao mundo que vou ser pai!
-Calma. Ainda é cedo, Shkodran. - Advertiu com os pés já mais assentes no chão. - Eu ainda só estou grávida de 6 semanas, ainda estou  a meio das 12, ou dos 3 meses, é a meio da fase crítica, acho que devíamos pelo menos esperar até essa altura.
-A minha mãe vem cá daqui a duas semanas e eu gostava de lhe dar a notícia pessoalmente, se puder ser.
-Claro que sim, mas só os nossos pais é que vão saber antes das 12 semanas, vale?
-Si, cariño. - Deu-lhe um beijo na testa. - E tenho de falar contigo sobre outra coisa mas que envolve o nosso filho.
-Shkodran. - Alma fechou os olhos e esperava que ele simplesmente não dissesse o que ele pensava.
-Quero que saibas que eu sou uma pessoa que gosta de fazer tudo como deve ser feito, e também sou uma pessoa muito crente e responsável daquilo que faço. - Hesitou. - A minha religião diz-me que se te engravidei, temos de casar, aliás diz que depois do casamento é que devem vir os filhos, mas nós antecipamo-nos. - Sorriu para esconder o nervosismo. - Mas não é isso que me faz querer casar, mas o que me faz crer casar é o facto de estarmos a começar a nossa própria família, o facto de termos um filho e de eu ter responsabilidade sobre ti e sobre este bebé. - Pousou mais uma vez a mão sobre a barriga dela. - Que me faz querer casar contigo.
-Tu queres casar comigo só porque me engravidaste? Porque a tua religião te obriga?

-Alma, eu amo-te. - Deu-lhe as mãos mas rapidamente ela as afastou. - E eu sei que era contigo que me iria casar, talvez daqui a uns anos ou meses, não sei, simplesmente agora vamos fazê-lo mais rápido.
-Não Shkodran, não, simplesmente não! Eu não quero casar-me contigo porque me engravidaste! Eu não quero passar o resto da minha vida a pensar se estás comigo por causa dos filhos e se ainda me amas!
-Mi amor, não é nada disso. Para mim faz todo o sentido casar-me e depois virem os filhos, é o mais certo.
-Não, não é o mais certo! O mais certo não é de certeza eu casar-me com 18 anos e com a certeza que não estou preparada!
-Para mim faz sentido casar-me sabes porquê? Não posso limitar-me a ir falar com o teu pai e dizer que te engravidei e que vamos ter um filho, não sou dessas pessoas, tu sabes que não. Se eu te engravidei vou assumir esse compromisso e a melhor prova que posso fazer que o faço de cabeça erguida e com responsabilidade é dizer-lhe que vamos casar, de outra forma não teria sentido para mim.
-Mas nós somos tão novos, Shkodran. Tu tens 23 anos e eu 18 anos, temos tanto para viver. - O rapaz percebeu os receios que ela sentia e o medo que a assombrava.
-Eu sei que somos novos e estamos juntos há pouco, mas também não precisamos de casar já, tens mais 7 meses e meio de gravidez pela frente, simplesmente quero que compreendas e aceites o que te quero dizer, e além disso quero que te cases com a tua vontade, e nunca só para me fazer a vontade, percebes?
-Eu vou tentar perceber, juro que sim, vou tentar perceber-te porque te amo. - Deu-lhe um beijo na ponta do nariz. - E eu também sabia que eras muçulmano, não percebo porque é que ainda tenho algumas reticências, eu disse-te desde o começo que te ia aceitar como és, mas simplesmente é difícil lidar com tudo ao mesmo tempo, sabes?
-Alma, é verdade que temos crenças diferentes e que nalgumas alturas da minha vida, vamos ser colocados à prova, mas somos mais fortes que isto, já viste o que já passamos juntos? Estamos juntos há dois meses e meio mas todo este tempo foi de aventuras e de sermos colocados à prova constantemente. Primeiro, nós envolvemo-nos e tu ainda namoravas com o Iker, depois ele começou a perseguir-nos e ameaçou-nos, depois viemos viver juntos com semanas de namoro, e agora vivemos esta gravidez, não achas que tudo isto foi uma enorme prova de amor? Que somos mais fortes que tudo o que nos atravessa no nosso caminho? O nosso casamento é apenas mais uma prova que vamos enfrentá-la juntos. - Deu-lhe um beijo na ponta do nariz.

-Eu caso-me contigo. - Disse receosa mas com convicção. - Eu sei que somos novos, mas eu sempre me quis casar cedo, mas é apenas uns anos antes que aquilo que pensava. E já viste? Assim fazemos mais anos de casado, e fazemos bem mais cedo que os outros!! - Tentou animar o ambiente. - Eu sei que te amo e que este filho é amado como se fosse pensado e desejado, e que este casamento apesar de repentino, nos vamos dedicar a ele de alma e coração, mas podemos esperar pelo menos até ao meu aniversário? Queria casar-me já com 18 anos.
-Queres esperar até Janeiro? Eu até tinha pensado casarmo-nos naqueles dias que tenho de férias entre o Natal, mas respeito a tua decisão, casamo-nos quando quiseres e quando te sentires preparada.
-Já me imaginaste a casar com uma enorme barriga? Isso é uma perdição! Não pudemos é celebrar a noite de núpcias! - Brincou com ele. - Mas vamos deixar de falar do casamento sim? É demasiadas emoções para um dia só.
-Podemos começar a pensar no nome do nosso filho. - Sugeriu sorrindo. - Pensei que podíamos escolher nomes internacionais, tipo Sophia ou David, é mais justo para os dois.
-Estão escolhidos os nomes. - Afirmou sorrindo. - Se aceitares, é claro.
-Claro que sim! - Deu-lhe um curto beijo nos lábios. - Sophia Lopéz Mustafi agrada-me.
-Estás enganado, caro jovem alemão. Sofia Mustafi Lopéz, nasce em Espanha, segue as normas espanholas, vale? E isso significa que o último apelido é o da mãe.
-E se eu te pedir para ter como último apelido o meu?
-Shkodran, eu gostava de dar continuidade ao meu apelido.
-E eu ao meu. Porque não apostamos em juntá-los com um hífen?
-Não, não quero isso, são dois nomes demasiado diferentes para serem unidos com um hífen.
-Eu percebo, mas sinto que estaria a tirar-lhe uma característica de um país que também é o dele, entendes?
-Claro que sim, mas acho que temos de arranjar um meio termo, como fazemos sempre ou então decidimos algo e seguimos com essa decisão para a frente. Eu acho que se nasce em Espanha, o que me parece óbvio, então deveria ter como último apelido o meu.
-O teu poder de me dar a volta é surpreendente, consegues sempre fazer-me ceder, é uma coisa parva!
-Simplesmente arranjo os melhores argumentos!
-E és incrivelmente sexy e fazes-me ceder por causa disso! Quero as coisas bem feitas e quero o David ou a Sophia com os teus olhos, vale?
-E a saber falar alemão melhor que a mãe!

-Este miúdo vai ser muito poliglota, castelhano e alemão, fora o inglês, que não podia faltar e uma pitada de italiano que o “papi” vai ensinar!
-Quem te disse que sei falar italiano?
-Estiveste em Itália e tendo em conta que falas tão bem a minha língua ao final de tão pouco tempo, então o teu italiano é perfeito!
-Mas tu também sabes falar italiano, paixão!
-Não tão bem como tu, aposto.
-Mas em Espanha tive uma excelente interprete e professora, daí ter apreendido tão rápido!
-Eu também tenho um excelente intérprete e não é isso que me faz falar fluentemente a tua língua!
-Com o tempo vais aprender a falar bem, até porque daqui a duas semanas a minha mãe vem cá e ela não fala castelhano...
-Isso significa que nas próximas duas semanas, fora o tempo que a tua mãe cá estiver, vamos falar alemão, certo?
-Sim. - Sorriu. - Amor, eu gostava muito de ensinar árabe ao nosso filho.
-Não vamos obrigar o nosso filho a seguir religião nenhuma, sim? Ele quando for mais crescido vai tomar a decisão de escolher entre qualquer religião, seja ela, a tua a minha, ou outra qualquer, sim?
-Vale. - Respondeu desanimado.
-E o bebé vai ver-te rezar e vai ficar curioso, vai perguntar, assim como vai perguntar porque rezo eu algo diferente, e se ele quiser, vamos ensinar, mas não mais, sim? - Fez-lhe uma pequena carícia na face. - Mas não quero incutir-lhe nada. Ele vai decidir por ele.
-Parece-me mais justo. - Afirmou depois de a ouvir e pensar durante alguns segundos.
-Vou-me deitar e descansar um bocadinho, vens?
-Claro que sim! - Deram um beijo e seguiram até à cama onde se deitaram e enquanto Shkodran adormeceu quase instintivamente agarrando a mão de Alma, ela não conseguia parar de pensar e sabia que não ia conseguir descansar com tudo o que lhe remoía a cabeça. Levantou-se e foi beber um copo de leite e fez umas torradas, sentou-se à mesa onde comeu e bebeu. Depois levantou-se e deitou-se no sofá onde ligou a televisão e começou a tentar ver séries e entendê-las mas na sua cabeça pairava uma única frase e toda uma linha de pensamentos. Decidiu que talvez se pensasse em voz alta lhe ajudasse a resolver os dilemas.

-Será que eu quero mesmo casar-me? Será que eu quero mesmo ser mãe com esta idade? Eu tenho sonhos... Quero ir para a faculdade, quero tornar-me nutricionista e se eu me casar e for mãe, com esta idade, o meu sonho pode nunca realizar-se. Eu sei que o amo, mas não será demasiado cedo? E arriscado? Será que ele não podia abdicar da religião dele pelo que é melhor para mim? Para nós? Será que eu serei boa mãe ou será que ainda não estou preparada? E o Iker? Tenho muito medo do que ele possa fazer, ele é doente e louco por mim, ele vai odiar mais este bebé que odeia o Shkodran. Não era nada disto que tinha imaginado quando me envolvi e deixei-me apaixonar por ele. - De repente começou a ficar muito mal disposta e correu até à casa de banho onde vomitou tudo o que comera à pouco. Será que os enjoos iriam durar toda a gravidez? Esperava que não!! Lavou os dentes, voltou a deitar-se ao lado do seu alemão de eleição onde adormeceu vencida pelo cansaço.
-Meu amor? - Acordou com a voz de Shkodran e um beijo. - Preparei uma coisinha para comermos. - Só de sentir o cheiro da comida ficou enjoada e correu até à casa de banho onde vomitou mais uma vez. - Devia preparar-te umas torradas porque é impossível enjoares disso.
-Vomitei umas à pouco.
-Temos de marcar uma consulta no médico e ver o que ele recomenda para ajudar a passar esses enjoos, não podes passar assim toda a tua gravidez.
-Shkodran da minha Alma. - Disse animada, depois de se limpar. - Vamos comer que este bebé precisa de se alimentar.

A rapariga fazia um esforço imenso para comer tudo e não vomitar porque sabia que o bebé precisava de alimentos, mas também sabia que nunca a comida a enjoara tanto na sua vida.

-Dormiste bem?
-Que nem um anjo. - Respondeu sorrindo.
-Shkodran, eu tive a pensar e...
-Não. Não me digas, por favor, que queres abortar. Eu não aguento essa dor.
-Não é nada disso. - Respondeu acalmando-o. - Mas e se eu não tiver preparada? E se eu não for boa mãe?
-Estás a brincar comigo? Eu já te vi com crianças, és formidável, tens um talento natural e elas adoram-te, vais dar uma excelente mãe... Apenas mais cedo que é normal.
-E se eu for boa com os filhos dos outros e não com os meus?
-Se Deus colocou esta prova no nosso caminho é porque sabe que a iremos ultrapassar, sim? - Colocou os dedos sobre o seu queixo e fê-la erguer a face. - Yo te quiero mi preciosa.
-Preciso de estar sozinha.
-De certeza?
-Si, guapo. - Disse desanimada. - Vou dar uma volta.

Shkodran queria pedir-lhe para não ir mas em simultâneo queria deixá-la ir, queria apertá-la entre os braços e ao mesmo tempo fazê-la sentir tudo o que a rodeava. Ele simplesmente sabia o que fazer, pensar e sentir e ela vivia apenas todos os seus maiores dilemas e decisões, em simultâneo, tinha de tomar uma decisão que mudava para sempre o resto da sua vida, com apenas 17 anos.

-E o Iker?
Alma percebeu que se havia esquecido desse pequeno pormenor e sabia que não o podia contornar simplesmente.
-Hoje vou estar com a minha prima, sim?
-E vais-lhe dizer?
-Provavelmente sim. Preciso de desabafar.

Será que Alma vai conseguir resolver os seus dilemas? 
O que vai optar por fazer? E Shkodran?

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Capítulo 16: “Estás bastante... Comestível.”



(Catarina)
-O mundo é mesmo pequeno. - Disse ela. - Eu e o André conhecemo-nos através de amigos em comum, quando ele ainda estava no Benfica, e ele chegou a namorar com a Isabel, a minha prima, sabes?
-Por falar nisso, como é que ela está?
-Tu não lhe disseste que vieste para cá, pois não?
-Não sabia como lhe dizer... E tenho medo como ela reaja, afinal, já se passou algum tempo.
-Não a irias reconhecer se a visses, acredita. Sabes aquela rapariga muito calma, muito tímida e introvertida? A Isabel tornou-se uma mulher furacão!
-Calma... A tua prima? A Isabel? - Perguntou João admirado. - Mais rapidamente jurava a pés juntos que ele estava a falar da tua prima Alma, que da Isabel! Tens a certeza que não as estás a confundir?
-Eu nunca conheci a Alma, João. - Sorriu. - Mas a Isabel que conheci quase que pedia para falar.
-Não acredito.
-Desde que tu e ela acabaram que ela mudou radicalmente.
-Tu namoraste com a Isabel? Mas ela parece-me aquelas pessoas super independentes, mais prontas para uma aventura que para uma relação estável, ainda ontem comentei isso com a Catarina.
-Vocês namoraram muito tempo?
-Cerca de 7 meses.
-Ainda foi algum tempo...

-Sim, ela foi passar o Verão em Lisboa e acabamos por nos conhecer, apaixonamo-nos pouco depois e começamos a namorar, o Verão entretanto acabou e ela teve de voltar para aqui, e ficamos até ao Natal sem nos vermos, mas ela conseguiu ir a Lisboa e tivemos juntos, mas as coisas já aí estavam tremidas, e dois meses depois acabamos mesmo, porque simplesmente não aguentávamos a distância.
-E não acabaram de forma pacífica?
-Acabamos, mas é sempre difícil o fim das relações, eu passei bastante mal, mas eu tive muito apoio e exteriorizei o que sentia e ela acredito que também tenha passado mal, mas que sofreu em silêncio, porque não é de expressar o que sente.
-Muito em silêncio e isso acabou por mudá-la.
-Mas vais-lhe dizer que estás cá? Senão o fizeres ela nunca te perdoará.
-Daqui a uns tempos digo-lhe, quero encontrar a forma certa de lhe dizer, ou de fazer saber, até lá peço-vos que guardem segredo.
-Está descansado, da nossa parte. - Disseram os dois em coro.
-Vamos almoçar a minha casa? - Sugeriu em coro. - Ou preferem ir comer a alguma das vossas?
-Eu já tinha posto a mesa em casa do João, posso perfeitamente fazer o almoço para três, mas primeiro têm de passar por minha casa para trocar de roupa, vale?
-Vocês dormiram...?
-Não é esse dormir que estás a pensar.
-Não dormimos que eu não quis! - Disse ela brincando. - Ele dormiu com os meus cabelos na boca!
-Mas calma... Vocês estão juntos?
-Tu não lhe explicaste?
-Não ia explicar no balneário com aquelas velhas cuscas a ouvir e além do mais, não sabia se querias partilhar com alguém.
-O André é um amigo há anos!
-Então vou-lhe explicar. - Respirou fundo. - Nós estamos a conhecer-nos melhor e vamos ver até onde vai dar, mas com calma, para já ainda não vamos assumir nada.
-E vocês só se conheceram ontem e já decidiram assim?
-Tu e a Isabel também começaram a namorar pouco tempo depois de se conhecerem, André!

-Sim, eu sei, mas fiquei surpreendido, apenas isso.
-Jota, podes passar por minha casa, por favor?
-Onde é?
-Ao lado do Mestalla. Não querem almoçar em minha casa? Não é muito grande mas dá perfeitamente para todos.
-Tens playstation? - Perguntou André.
-Ainda não.
-Vamos para minha casa, então. - Noticiou João.
O rapaz conduziu até perto do estádio e depois parou junto ao prédio da rapariga.
-Estaciona o carro que vamos todos subir para conhecer a minha casinha.
O rapaz aceitou e estacionou o carro, foram até casa de Catarina.
-A casa não é muito grande mas dá perfeitamente para mim. Entrem e sentem-se no sofá ou na cama, eu não demoro, vou só escolher a roupa e vestir-me.
-É melhor começarmos a preparar o almoço, João, sabes como são as mulheres e a roupa.
-Até parece! - Abriu a mala onde estava a roupa. - Além do mais, não tenho muita roupa aqui, está tudo em casa dos meus avós, por isso estou limitada.
-Então despacha-te que tens dois homens à tua espera!
Catarina olhou para a mala e rapidamente escolheu o que vestir.


-Optei por um vestido para ser mais rápido para as princesas não esperarem muito. - Apareceu e os rapazes levantaram-se e olharam para ela.
-Eu se fosse a ti, punha-me a pau para os rapazes não a largarem.
-A Catarina só tem olhos para mim, não é verdade? - Deu-lhe a mão. -
-Sim, claro que sim, mas não te importas que olhe só para o André? É estranho falar com ele e não o olhar.
-Sempre com classe, esta rapariga. - Respondeu André. - Não vale a pena argumentares, ficaste sem resposta, João.
-É verdade, admito. Estiveste muito bem, parabéns! - Deu-lhe um beijo na testa.
-Vamos, meninas? - Interrompeu Catarina.
Eles acenaram com a cabeça e seguiram caminho até ao carro.
-Posso levar o carro, Jota?
-Tens carta?
-Desde o meu dia de anos, na realidade. - Deu-lhe um beijo na bochecha e tirou-lhe a chave da mão. - Prometo que vou ter muito cuidado e sim, também gosto de ti! - Entrou para o lugar do condutor, André para o lado do pendura e João foi obrigado a sentar-se no banco de trás do carro.

-Sou o dono do carro, e vou no banco de trás, qual é a lógica? - Queixou-se.
-O último a chegar perde a corrida sim?
-E as senhoras são sempre as primeiras portanto. Além do mais, quem conhece melhor esta cidade sou eu. - Mandou-lhe um beijo com as suas mãos.
E seguiram caminho até casa do João e Catarina agradeceu a si mesma por não ter preparado um ambiente romântico e por ter feito algo bastante simples. Não demorou até chegar a casa de João, afinal também ela sabia acelerar e não tinha medo de o fazer, estacionou o carro, embora com alguma dificuldade, era o seu ponto fraco, mas acabou por conseguir com ajuda dos seus rapazes, depois foram para casa de João. Catarina foi para a cozinha preparar o almoço e colocar mais um prato na mesa, enquanto os rapazes se agarravam logo à consola. Depois do almoço estar quase pronto , João apareceu de surpresa na cozinha, sozinho.
-O almoço está quase pronto, Jota. - Disse enquanto mexia o arroz mais uma vez.
-Estava com saudades tuas.
Catarina ficou completamente rendida com o que ouvia, ele era sempre tão espontâneo e romântico?!
-Mas não me vias apenas há uns minutos.
-Sentia-te tão perto e tão longe que quis matar saudades.
-Querias era ver-me de avental! - Insinuo ela brincando com ele. - Mas tiveste azar porque nem o descobri!
João parecia que ignorava o que ela dizia e só olhava para ela completamente perdido e admirado com a beleza, única para os seus olhos, daquela rapariga, aproximou-se dela e beijou-a com uma saudade imensa que comandava o beijo, ou, melhor dizendo, os beijos porque apenas davam segundos entre eles e o ritmo aumentava.
-João, o comer. - Ele ignorou-a e sentou-a sobre a bancada enquanto a beijava mais e mais, ela retribui-a e começava também ela a desejar mais assim como ele, até que foram interrompidos por uma voz que entrou na cozinha.
-O comer está pronto? - João e Catarina pararam com a série de beijos e olharam para o rapaz. - Desculpem... Eu não sabia. - A rapariga escondeu a cara entre as mãos e deixou que o seu companheiro falasse.
-Não ia passar nada do que estás a pensar. - André olhou para ele com um ar de “podias ter inventado uma desculpa melhor ou não?”- Na verdade, estávamos só a matar saudades, apenas e só isso. Não se ia passar mais nada.
-Se quiserem que me vá embora, eu compreendo perfeitamente, a sério!
Catarina olhou para o lado e percebeu que o arroz estava no pronto e saltou da bancada a dizer:
-O arroz está no ponto! - Desligou o forno e foi até ao forno. - Os panados também! Vamos para a mesa?

De repente, nenhum deles disse nada mais e sentaram-se à mesa, Catarina, sabia que era mais fácil fazer esquecer aquele momento através de comida, afinal que forma mais fácil haveria de conquistar rapazes? Foi buscar o jarro de água fresca e água natural e colocou a mesa e serviu-os.
-Os rapazes estavam com fome, não é verdade? - Nenhum deles lhe respondeu ambos saboreavam o almoço. - Já percebi que está bom.
-Desculpem. - Interrompeu o André. - Mas eu não queria mesmo interromper! Eu é que estava com fome e estava a sentir-me sozinho na sala, devia ter percebido que podiam estar a fazer ou quase a fazer.
-Desculpa, não te devia ter deixado sozinho, eu só vinha à cozinha dar um beijo.
-As saudades é que começaram a apertar mais e pronto, mas não ia passar-se nada, o arroz estava no lume e os panados no forno, não iam ficar sem almoço.
-Tu já ias ser o almoço do João! - Respondeu André animado.
-Achas que íamos fazer alguma coisa contigo na mesma casa? Tão perto? - Respondeu ela chocada.
-Se o desejo apertasse. Além do mais, é um excelente líbido!
-André! - Respondeu, desta vez, João escandalizado. - Eu não preciso de estimulantes, eu dou bem conta do recado sozinho!
-Nunca te experimentei para ver isso! - Disse Catarina brincando. - Mas aposto que és excelente!
-O tamanho não é tudo! - Respondeu André. - O que importa é se o sabe usar ou não!
-Sabes que é estranho ouvir-te dizer isso, não sabes? - Disse João. - Ela é minha miúda, sim?
-Oh puto, eu já tive a prima dela, não iria nunca andar com duas primas, além do mais, ela é tua!
-Sim, sim! E vocês parem de falar disto, é demasiado embaraçoso!
-Comam mas é! - Pediu Catarina. - A experiência leva à perfeição e nós havemos de lá chegar, até lá, fazemo-lo!
Pararam com a conversa até porque perceberam que incomodava João e acabaram de almoçar.
-Agora o André lava a loiça enquanto nós vamos jogar na playstation.
-Mas eu é que sou o convidado!
-É só um jogo de aquecimento com a Catarina, André.
-E tens a certeza que é só para a aqueceres para o jogo ou é outro tipo de aquecimentos?!
-Pergunta antes de entrar na sala! - Avisou enquanto ambos saiam da cozinha mas claramente a brincar com ele.
João e Catarina sentaram-se no sofá e ligaram a consola.

-Aviso-te já que sou a pior jogadora com quem alguma vez jogaste na tua vida.
-Podemos sempre fazer a vontade ao André. - Piscou-lhe o olho.
-Mas tu tens assim tantas necessidades? - Perguntou brincando com ele. - Vais-me ensinar a jogar melhor isto, porque eu só jogava bem na PS2, na 3, sou uma naba!
-Jogamos os dois na mesma equipa para te dar algumas dicas!
-Está bem!
-André, depois deixa a loiça ao lado do lavatório para secar!
-E tu ainda gozas! - Respondeu ele da cozinha.
Passado alguns minutos, André perguntou à saída da cozinha depois de sair da cozinha.
-É seguro entrar?
-Estou a ensinar a Catarina a jogar!
-Que tipo de jogo?
-Nenhum pornográfico, é seguro! - Respondeu animada.
Catarina, João e André jogaram na PS3 durante 3 horas, depois a rapariga cansou-se e sugeriu:
-Que achas de irmos fazer fotossíntese?
-Mas eu sou alguma planta? - Respondeu André.
-Podemos ir à piscina daqui do prédio. - Olhou para Catarina. - Esqueci-me que não tens roupa para isso.
-Enganaste, sou uma pessoa muito prevenida! - Deu-lhe um curto beijo nos lábios. - Está vestido!
-Vocês fiquem por aqui que eu vou-me embora!
-Agora? Não queres lanchar primeiro? Secalhar estás com fome.
-Eu a pensar que tinha deixado a minha mãe em Portugal.
-Preocupo-me, apenas isso.
-Está descansada que tenho coisas combinadas e tenho mesmo de ir, beijo. - Deu-lhe um beijo rápido na bochecha e um abraço rápido a João e saiu sem mais nada dizer.

-Nós não fizemos nada para o afugentar nas últimas horas.
-Secalhar vai ter com alguma rapariga.
-Será com a tua prima?
-Não acredito, mas preferia que fosse agora porque ele ainda pode ser uma pessoa interessante ou importante na futura história entre ela e o Gayà.
-Não acredito que ela já foi aquilo que vocês disseram.
-Acredita que é verdade. - Sorriu. - E tu vais vestir o fato de banho ou queres que eu te dispa e te vista?
-E se eu quiser que tu me dispas? - Sugeriu e piscou o olho. - Estou a ir. - Deu-lhe um beijo na testa e foi até ao quarto onde precisou apenas de dois minutos para trocar de roupa e depois voltou para a sala. - Que achas?
-Estás bastante... Comestível.
-Davas-me umas trincas?
-Trincas, beijos, e outras coisas mas não vou dizer mais nada, vai vestir uma t-shirt, se faz favor!
-Para as outras raparigas não olharem para mim?
-Se lhe quiseres chamar assim! - Respondeu alto. - É mais para eu não pecar. - Respondeu bem baixinho para ele não ouvir.
Passado um minuto, voltou para a sala e perguntou:
-Estás pronta?
-Sempre pronta.

Foram até à piscina do prédio mas estavam lá um casal num clima bastante romântico e decidiram não os interromper e foram-se embora.
-E se?
-Se?
-Eu conheço uma casa com piscina!
-Eu também conheço casas com piscina mas nós não pudemos simplesmente invadi-las só por causa da piscina!
-Confias em mim?
-Claro! - Respondeu apertando a mão dela com força.
-Então vamos. - Ela foi com ele até às garagens e depois seguiram caminho até casa dos avós dela, e ele estacionou o carro à porta e entraram na vivenda com as chaves dela.
-De quem é esta casa?
-Dos meus avós.
-E eles estão em casa?
-Provavelmente a minha avó está, mas vamos até à piscina e ela acabará por aparecer.
-Tens a certeza? Ela pode ficar chateada.
-Sim, é impossível a minha avó chatear-se comigo.
João apesar de ir com algum receio acabou por aceitar o que ela dizia.
-Isso quer dizer que vou conhecer pelo menos a tua avó.
-Sim, mas não é nada formal, descansa.
-A escolha é tua, Catarina.
Chegaram até às traseiras e ele despiu logo a camisola e entrou logo para dentro da piscina e ela aproveitou um momento de distração dele para o fotografar.
A avó apareceu junto à piscina e chamou:
-Filha? Catarina? Posso falar contigo um momento?
O que quererá a avó falar com a neta?

O que dirá a neta sobre a sua “companhia”? Como será que ela apresentará João?

domingo, 30 de outubro de 2016

Capítulo 15: “Sem querer, mas por tanto me querer, vim parar aos teus braços”


(Alma)
A rapariga viu as feições do seu namorado mudarem radicalmente. O sorriso e a alegria sempre presentes na sua face tornarem-se numa expressão que ela de todo desconhecia e não conseguia descodificar. Ela nunca o tinha visto assim, e chegou a ter receio do que ele pudesse fazer, não a si, mas a Iker.

-Alma... - Shkodran abraçou-a e ficou à espera de uma reação que simplesmente não aconteceu. -Estás bem?
-Sim, meu amor... Quer dizer não sei. Eu nunca tinha partilhado isto com ninguém.
-Obrigada por confiares em mim. - Deu-lhe um beijo no nariz. - Queres contar-me tudo, amor meu? Talvez te faça bem falares.
-Acho que sim. - Fez uma pequena pausa. -No início, quando o conheci, ele parecia ser o meu príncipe encantado, a pessoa com quem havia sempre sonhado mas, tornou-se um pesadelo... Desde o dia em que fizemos meio ano. Tudo mudou desde que tive a ousadia, segundo as palavras dele, de ir passear só com um rapaz. Um rapaz que, por acaso, era meu amigo desde que me lembro de existir. O Raul emigrou para a Argentina e ele veio cá passar o Natal e convidou-me para ir dar uma volta, mas só avisei o Iker depois do passeio... E a partir dessa altura, comecei a conhecer um lado dele que desconhecia. Foi com 6 meses de namoro que levei o primeiro murro, e eu perdoei porque queria acreditar que ele ia mudar, porque acreditava na palavra dele e porque acima de tudo, acreditava que o amava. É verdade que não levei uma sova, mas as vezes que me agrediu, foram quanto baste para me fazer crer que nunca mais ia conseguir olhar para mais nenhum homem, porque tinha medo que me fosse agredir como ele o fazia. E quando comecei a namorar contigo, não imaginas a luta que tive entre o meu cérebro e o meu coração. Eu tinha medo, porque tu eras muçulmano e que tinha medo que fosses como ele... Li tantas histórias de raparigas que namoram com muçulmanos e tudo parecia encantador, até ao dia do casamento, em que descobrem o homem com quem verdadeiramente se casaram. - Baixou a cabeça demonstrando vergonha e até receio. - Agora parece-me um disparate mas na realidade era isto mesmo que pensava. E quando vim viver contigo percebi que estava a fazer uma tempestade num copo de água, porque tu amas-me mesmo, eu vejo-o no teu olhar. Amas-me como nunca o meu ex-namorado amou. Ele agora só me quer, porque sabe que não pode, nem vai ter.

-Amor... - Shkodran começou a admirar ainda mais a rapariga que tinha à sua frente, com quem namorava e até amava cada dia mais. Ela tinha tido a coragem de suportar durante quase três anos, agressões físicas e quiçá psicológicas, e por muito que ele a amasse não a perdoaria se ela o fizesse a si, embora tivesse quase certo que ela não o faria, embora tivessem juntos à tão pouco tempo. Mas ele também tinha muitas perguntas para lhe fazer, mas sabia que a podia magoar e era visível que ainda lhe era demasiado duro falar sobre o que se passara.

-A última vez que ele me bateu foi no dia em que te conheci, e foi também nesse dia que prometi a mim mesma que não poderia permitir mais o que se passava, e nesse mesmo dia, apareceste tu na minha vida e tudo aconteceu. - Shkodran deu-lhe um beijo no nariz.
-Amo-te.
-Eu também te amo.
-Já te passaram os enjoos?
-Hoje não tive nenhuns, mas quando tu tiveste aqueles dias fora, em estágio, passei os meus dias a vomitar, talvez sejam os nervos.
-E é normal, vomitares tanto, com a ansiedade e com os nervos?
-Nas alturas mais críticas sim, mas nunca durante tanto tempo.
-Já faz um mês que começaste a vomitar assim, acho que devias ir ao médico, nem que seja por um descargo de consciência.
-Vou fazer análises depois de amanhã.
-E se for... Aquilo que poderá ser?
-Em inglês, em valenciano ou alemão se faz favor. Posso perceber muitas línguas, mas meias palavras, não é de todo o meu forte.
-E se for uma gravidez?
-Estou com a menstruação.
-Por isso é que a tablete de chocolate desapareceu do frigorífico!
-Foi a gata que comeu!
-Que gata?! Que eu me lembre só vivemos nesta casa, eu e tu!
-Acabaste de dizer qual era a gata! - Sorriram e Shkodran beijou-a.
-E a minha gata, apetece-lhe mais alguma coisa doce ou salgada?
-Por acaso apetece-me ir passear pela cidade e ir comer um gelado.
-Morango e chocolate, certo? - Disse em espanhol e olhou para Alma, na esperança que ela com um olhar lhe dissesse se tinha estado bem ou nem por isso.

-Até já com pronúncia, estou orgulhosa! E com cada vez mais talento na cama, e mais duração, começo a pensar que me juntei a um homem perfeito!
-Juntaste? Explica-me lá essa tua ideia.
-Sabes que efetivamente e para as duas religiões, vivemos juntos, mas não somos casados, logo é um pecado. E dizem que as pessoas quando não se casam, juntam-se, como se pegassem em trapinhos e pronto, fossem viver juntos.
-Não me interpretes mal, mas nós não tomamos bem a decisão de vivermos juntos, para nossa segurança era o melhor a fazer.
-Sem querer, mas por tanto me querer, vim parar aos teus braços.
-Eu limitei-me a ficar contigo, só aproveitei o que ele de melhor tinha. - Sorriu.
-Como achas que devem estar a Catarina e o João?
-Provavelmente a fazer o que nós não estamos a fazer.
-O que estás a insinuar, Shkodran Mustafi? -Ele riu-se e ela não precisou de mais palavras. - Não seja por isso. - Beijou-o e fez o que ele tanto desejava e lhe queria dizer... Sem dizer. De seguida, foram tomar banho e vestiram-se e foram até à praia onde já conheciam uma gelataria fantástica.

-Não tens medo que alguma pessoa te reconheça?
-Porque haveria de ter medo? Até é algo bom sabes?! Reconhecerem-me por causa do meu trabalho, quer seja bom ou não.
-Mas se te virem comigo...
-Achas que já não desconfiam? Não lês os comentários às minhas fotos no Instagram?
-Eu sou tua namorada, não tua mãe para te controlar.
-As raparigas identificam amigas nas minhas fotos, outras publicam emojis com corações, outras perguntam se namoro e eu nem respondo... Por sorte, ou qualquer outro motivo, ainda ninguém me perguntou ao vivo, mas se o fizerem, vou sorrir.
-Eu não sei se estou preparada... Para assumir uma relação, assim tão... Tão pública. Não é que não te ame, mas não estou preparada para ter as atenções em cima de mim.
-Vamos dar mais algum tempo, e a partir daí logo decidimos o que fazer, vale?
-Tudo bem, mas e se te perguntarem?
-Vou-me rir e não vou responder.
-Vale. - Respondeu não muito convencida. - Fico tão orgulhosa que fales cada vez melhor a minha língua, nem imaginas!
-E tu falas cada vez pior a minha, é impressionante!
-Penso nisso quando estiver mais perto de conhecer a tua família!
-A minha mãe está ansiosa de trocar umas palavras contigo e o meu irmão Adrian pediu-me as tuas redes sociais, portanto tens de desenvolver em breve a língua.
-O teu irmão não sabe falar inglês?
-Ele é como tu, sabe falar imensas línguas! E não só, vocês os dois serão os melhores amigos, são iguazinhos, até assusta, chego a pensar que namoro com o meu próprio irmão!
-Não pudemos ser assim tão iguais! - Exclamou indignada.
-Quando o conheceres vais perceber o que digo! Ele até te pode ajudar a desenvolver o italiano que ele sabe, de quando lá tive!
-O teu irmão aprende a falar as línguas dos países por onde passaste?
-Sim... Embora o espanhol seja o que ele está a sentir mais dificuldades ficarias encantada com a cultura dele.
-Fico ansiosa de o conhecer! Ele é parecido contigo?
-Nem física, nem psicologicamente.
O empregado da gelataria chegou junto deles e anotou os seus pedidos e não demorou muito até trazê-los.

-Tu vais comer quatro bolas de gelado? Sozinha?
-Estou com fome!
-Com fome? Nós ainda nem almoçamos há duas horas!
-Não me faças sentir ainda mais gorda do que essa bola de gelado solitária!
-Já percebes porque acho que esses enjoos podem ser mais do que os nervos?
-Acredita... - Alma deixou cair a colher de gelado e ficou boquiaberta a olhar para a frente.
-O que se passou?! Alma? - Tentou abanar-lhe a mão e só depois olhou para trás das suas costas e viu quem lhe fazia temer pela sua segurança e de Alma, Iker, aproximar-se dele mas Shkodran não se deixou calar e ficar sossegado, levantou-se e aproximou-se do rapaz. - Não achas que já chega? Para de tornar a nossa vida um inferno de uma vez por todas! Ela está comigo e é comigo que quer estar!
-Não sei do que falas! - Argumentou como se fosse de todo inocente o seu passeio enquanto o recém-casal ali estava.

-Sabes perfeitamente!
-Aquela rapariga ali é minha, e nem tu, nem ninguém ma pode e vai roubar!
-Se tu alguma vez a tivesses amado, nunca lhe tinhas levantado um dedo que fosse!
-Não sei do que falas, nunca a agredi!
Se Shkodran não fosse uma pessoa tão calma e bem-disposta, poderia estar perfeitamente a agredir Iker naquele momento, pensara Alma.
-Simplesmente desaparece sim? A polícia já sabe o que andas a fazer... - Sugeriu.
-Já te disse que não faço ideia do que falas! Estava simplesmente a passear junto à praia num bonito dia de sol!
-Também tiveste acidentalmente numa série de sítios onde estivemos? Mentaliza-te que a Alma está comigo agora porque não soubeste simplesmente cuidar dela!
-Não sabes com quem te meteste, rapazinho. - Ameaçou Iker.
-Acredita que tu também não sabes. - Respondeu sem dar o braço a torcer. - Mas se voltas a aproximar-te daquela rapariga, vais saber da pior forma!
Dito isto afastou-se de Iker e voltou a sentar-se na mesa da esplanada com Alma e viram-no a afastar-se.
-O que lhe disseste?
-Nada de mal, não te preocupes.
-Ele é louco... Tenho medo do que te possa fazer.
-Nada me vai acontecer e a ti também não. - Disse, embora não tivesse muito convencido. Alma com os nervos devorou ainda mais rápido o seu gelado.
-Vais comer a tua bola de gelado?
-Não consigo... Com os nervos.
-Posso? - Respondeu sorrindo. Os nervos davam-lhe ainda mais fome...

-Perdi o apetite. Estás à vontade.
-Queres-te ir embora? - Disse colocando um pouco de gelado na boca.
-Não vou deixar que ele nos estrague esta tarde, vale?
-Tu tiveste um enorme controlo sobre ti... Admiro-te por isso.
-Acredita que dentro de mim, tudo me pedia para o agredir e ele merecia-o.
-Shkodran, tu não és violento.
-Eu sou contra a violência! - Afirmou convicto. - Mas ele puxa de mim, o meu lado mais animal!
-Eu pensava que era eu que te despertava os teus lados animalescos todos! - Respondeu Alma tentando mudar o ambiente e aliviar o momento.
-Estou um verdadeiro leão! - Afirmou entrando na brincadeira. - Mas tu já acabaste o gelado?!
-Sim! - Sorriu como uma criança brincalhona. - Logo fazemos uma hora de passadeira, prometo!
-Fazemos? Eu já cumpri o meu objetivo físico de hoje!
-Então estás a insinuar que logo à noite ficas a pão e água! - Piscou-lhe o olho.
-Não é nada disso...
-Está decidido! - Sorriu e deu-lhe um beijo rápido nos lábios. -Eu também te amo!
Foram até ao carro e seguiram caminho até à outra ponta da cidade, a ouvir música e até a conversarem entre si.
-Recebi uma proposta, amor!
-Que proposta?! Tu ainda há pouco tempo chegaste aqui e nem estamos em época de transferências!
-Não é dessas propostas! - Respondeu animado. -Eu conheço um músico alemão, aliás é meu amigo há algum tempo e ele lançou uma música recentemente e queria que eu entrasse no videoclipe, mas eu não vou aceitar sem antes falar contigo.

-Já ouviste a música?
-Ele mandou a música, mas ainda não a ouvi. Só a queria ouvir contigo.
-E tens a música contigo ou assim?
-Claro! Abre aí o porta-luvas e põe.
Ela fez o que ele lhe pedira e começaram a ouvir a música.

Es gab einmal Tage
An denen ich sagte du bist mein
An denen ich dachte es halt ewig
Und jetzt sitzt du da und weinst
Es tut mir so leid
Du hättest es nicht leicht
Im Leben gehabt und ich weiß
Ich hab dich niemals erreicht
[2x] [Hook]
Ich weiß es war Liebe
Doch ich lass dich frei
Kannst du mir vergeben in dieser Einsamkeit?
Und wenn am Morgen dann die Sonne
In mein Zimmer scheint
Lieg ich noch da wie am Abend
Und denke an die Zeit
An die Zeit mit dir
Es gab nichts außer uns
Es ist So viel passiert
Ich hab nur einen Wunsch
[2x] [Hook]”

-Adoro a música! Acho que devias sem dúvida entrar no videoclipe!
-E percebeste a letra?
-Claro que sim! Sou uma autêntica craque a falar alemão.
-Diz-me a verdade.
-Entendi a maior parte, mas ouve algumas palavras que me escaparam.
-Mas existe uma questão maior... - Disse a medo. - Um pequeno ponto que tens de saber antes de aceitar.
-Às vezes tens um receio de falar comigo parece que te faço alguma coisa de mal, juro! - Disse brincando com ele. - Mas diz-me lá.
-Não é nada disso, mas eu ainda não sei até que ponto vão os teus ciúmes.
-Já não estou a gostar da brincadeira. - Disse tentando fingir-se amuada mas sabendo que ele não estava a acreditar no ar que ela fazia, até porque depois começou a rir-se.
-Se eu aceitar entrar no videoclipe, quem vai contracenar comigo vai ser uma modelo italiana, que eu, por acaso, também conheço...
-Bonita?
-Ao teu lado, todas as raparigas são feias. - Fez-lhe uma pequena carícia na face.
-Bela forma de me engraxares, não haja dúvida! Por acaso não vai haver beijos, nem carícias, nem nada disso, pois não? Ainda não me sinto preparada para ver isso... Mesmo que seja num videoclipe.
-Se tivesse, eu nem aceitaria, apesar de ser algo profissional, não deixa de ser traição e eu sou-te completamente fiel.

-Não respondeste à minha questão se ela era bonita ou não. - Insistiu.
-Sim, quando a conheci achei-a uma rapariga bastante bonita mas não me desperta interesse.
-Porque me tens a mim?
-Sim, e porque nenhuma rapariga é tão fascinante quanto tu. - Alma inclinou-se e deu-lhe um beijo na face.
-Convenceste-me com este teu lado... Direito, poderosamente sexy!
-Adoras-me!
-Isso já não é novidade!

Passado alguns minutos, chegaram a casa e ela foi a correr até à casa de banho onde acabou por vomitar todo o gelado e mais alguma coisa que tinha comido naquele dia.

-O que disseste ao Iker?
Perguntou depois de uma hora a vomitar e quase sem energias para se levantar da beira da sanita onde estava sentada.
-Alma, não penses nisso... Estás assim por causa disso.

A rapariga desmaiou, completamente esgotada de tudo o que vomitara e das forças que tinha gasto naquela última hora e ele correu o curto trajeto que os separava e abraçou-a e chorou.

-Eu amo-te meu amor. Por favor! - Chorava e beijava-lhe a face numa tentativa de resposta. - Alma! Alma, por favor! Não me deixes!
Passado pouco mais de um minuto, a rapariga despertou com as lágrimas dele a baterem-lhe nas bochechas.
-Amor? Que se passou?
-Desmaiaste. - Abraçou-a fortemente. - Eu vou chamar uma ambulância.
-Não é preciso. - Afirmou tentando sentar-se. - Só quero descansar.
-Mas era melhor ires para o hospital para ficares sobre observação pelo menos esta noite.
-Só quero tomar um banho e descansar. - Tentou levantar-se mas Shkodran não a deixou.
-Eu vou pegar em ti, dar-te banho e deitar-te na nossa cama, está bem?
-Shkodran, eu estou bem.
-Por favor. - Pediu e ela aceitou a ordem dele.

Shkodran pegou na rapariga ao colo e deu-lhe um banho cuidado e reconfortante, de seguida, o rapaz levou a namorada até ao quarto e cuidadosamente vestiu-lhe a roupa interior e uma t-shirt sua por cima, pousou-a vagarosamente debaixo das mantas e deitou-se ao lado dela, bem junto dela e tentou reconfortá-la.
-Eu disse-te que hoje não tinhas festa. - Disse ela brincando com ele.
-Descansa amor.
-Amo-te.
-E eu a ti.

Passado algumas horas, Alma acordou... Com pesadelos. Iker seguia-a para todo o lado e ela acabava por morrer nas mãos dele. Acordou a chorar e Shkodran limpou-lhe as lágrimas e tentou reconfortá-la até ela adormecer. Por muito que Alma tentasse fingir que estava tudo bem e conseguia lidar com a perseguição de Iker, ela simplesmente não conseguia. Conseguia fingir durante umas horas, mas depois voltava a cair na dura realidade e simplesmente não conseguia lidar com ela. Por sorte, Shkodran tinha uma força incrível e conseguia aguentar o “barco” pelos dois.

(Passado alguns dias)
Depois de fazer as análises e dos enjoos finalmente terem começado a abrandar, chegou a altura de saber os resultados das análises... Embora Shkodran tivesse dito que queria ir com ela, o treino era à hora da consulta e ele não podia ir e ela optou por ir sozinha, embora o seu namorado tivesse insistido que ela fosse com a irmã ou a prima. Depois de esperar durante vários minutos na sala de espera, acabou por ser chamada até ao consultório.
-Depois de vermos as suas análises, pudemos perceber a origem do pequeno “problema”, se é que lhe pudemos chamar assim.
-Não sei se estou a entender, doutor.
-As análises apontam para uma gravidez de cerca de seis semanas.

Como vai reagir Alma a esta gravidez?
Como vai contar a Shkodran? Como irá afetar a relação deles?