No
último capítulo...
“-Interessada
por futebol, portanto.
-Dizem
que sim.
-Vamos
então sair da água?
-Sim,
vamos.
Ambos
nadaram para as escadas e saíram da piscina.
-Conheces
o José? Falaste dele de forma diferente...”
(Catarina)
-Sim,
conheço. Conheci-o no dia em que cheguei, no estádio. O meu avô
teve uma emergência por volta da hora do jantar e levou-me com ele e
estava eu, distraída, a passear e a tentar descobrir como sair
daqueles labirintos e milhares de portas e acabei por chocar contra
ele, que, tinha deixado a carteira no balneário e também estava
distraído, ele acabou por me mostrar o estádio e até jogamos no
relvado, depois fomos comer um gelado com as minhas primas e o Iker,
o namorado da Alma, e aí sim, apresentei um futuro casal!
-Não
me digas que a tua prima e o José...
-Ainda
não... Mas eu acredito que sim, já apostei com ela e tudo. Tens de
os ver juntos, a partir daí dás-me razão, passam a vida a mandarem
boquinhas, a provocarem-se, quase que saltam faíscas!
-Não
quero que me leves a mal... Mal te conheço e a eles também mas do
que conheço, parece-me muito diferentes, quase opostos.
-Achas
que não sei, João? -
Perguntou sorrindo. -
Até a forma como vivem é completamente diferente. Os objetivos,
forma de ser e de estar na vida, pouco ou nada têm em comum, mas
nunca ouviste dizer que os opostos se atraem?
-Sim...
Mas no nosso caso, não acredito que sejamos opostos, até acho que
temos bastante em comum. -
Catarina corou. -
Já te disse que te adoro ver corada? Ainda para mais por minha
causa, Cat?
-Já
eu nunca tive oportunidade de te ver corado... Jota. -
Ele sorriu e corou. -
Pelos vistos já tive oportunidade.
-Senta-te
no meu colo. Por favor. -
Ela não hesitou e sentou-se no colo dele e pousou a cabeça no ombro
dele e fechou os olhos. Sentia a respiração dele embater contra a
sua pele e o coração a bater rápido, mas por alguma razão
acalmava-a. Abriu os olhos e pode deparar-se com João a desfrutar do
momento da mesma forma que ela, deu-lhe um beijo no queixo e de
seguida, um beijo na ponta do nariz e ele sorriu mas não abriu os
olhos.
-Já
te disse que tens o sorriso mais bonito que vi na minha vida? -
Ele abriu os olhos. -
E os olhos mais bonitos que vi até hoje? -
João ia aproximar-se dos lábios dela mas hesitou.
-Podes
e deves beijar-me. -
João encostou os lábios dela aos seus mas apenas um encosto de
lábios. -
Chamas a isso um beijo? -
Ele sorriu e esperou uns segundos e beijou-a num misto de emoções:
carinho, atração, amor, luxuria, encanto, novidade, emoção e
surpresa, e ela surpreendida tombou no chão mas nem assim largou os
lábios dele. O beijo tornou-se numa série de beijos e as carícias
queriam tornar-se mais... A mão de Catarina estava já sobre os
abdominais dele...
-Espera.
- Disse
João levantando-se e recompondo a roupa. -
Não, Catarina, não. Isto só vai acontecer quando estivermos
juntos, quando for algo mais que atração... Será algo mais que
isso, vai ser inesquecível.
-João,
desde que seja contigo será inesquecível. - O
rapaz corou e sorriu, deu-lhe um beijo rápidos nos lábios. -
Eu só tive uma companheira até hoje.
-João,
eu também não tenho assim tanta experiência... Só tive dois
companheiros até hoje.
-Não
estás a compreender, Catarina... Eu só tive a minha primeira vez. -
A
rapariga calou-se. -
Eu namorei com a Sara durante dois anos e nunca sentimos aquela
necessidade física de nos envolvermos, mas ouve um dia que
aconteceu... E passado uns dias a minha mãe.... -
Hesitou. -
E depois disso passei mal, mesmo mal... Mas escondi. Escondi tudo. E
apesar da Sara ter tentado ser uma força, eu é que não tinha força
para aquela relação e terminamos, ou melhor, eu decidi terminar
tudo, e desde aí nunca mais consegui olhar, nem querer outra
rapariga.
-Jota...
-
Catarina abraçou-o. -
Eu sei bem a dor que passaste, o que sofreste e ainda custa. Eu
sei... Mas também sei que és mais forte que esta dor, e que agora
nós dois, estaremos ainda mais fortes, porque os nossos pais
uniram-se para nos dar ainda mais força... Juntos. -
Deu-lhe um beijo na testa. -
E tens-me a mim. Agora somos um. -
Deu-lhe um curto beijo nos lábios, apenas um encosto.
-Gosto
muito de ti. -
Respondeu limpando as lágrimas e sorrindo.
-E
eu de ti, meu bem. -
Trocaram um beijo curto. -Também
quero que saibas sobre o meu passado romântico.
-Catarina...
-João,
eu vou contar-te. Também precisas e mereces saber, depois de
ouvires, podes decidir fazer o que quiseres que eu compreenderei.
-Catarina.
-
Apertou as mãos dela entre as suas. -
Isso não irá acontecer, gosto demasiado de ti.
-Obrigada.
-
João deu-lhe um beijo na testa e Catarina baixou a cabeça, ganhando
coragem e sem encará-lo, era difícil falar sobre isso. -
Além da minha irmã, mais ninguém o sabe. Custa-me falar sobre
isso, mas neste momento é passado, tenho de me mentalizar disso. O
futuro está à minha frente. -
Ergueu a cabeça e viu João, que lhe sorriu.
-Se
eu aceitar o que me disseste, posso apresentar-te à minha família
daqui a uns dias quando eles vierem visitar-me?
-Sim,
mas não me vais apresentar como namorada... Até porque ainda não o
somos.
-Catarina,
o que me ias contar? -
Ele mudou de assunto, achava que talvez fosse melhor.
-Vais
escutar tudo o que tenho para te contar e depois podes dizer tudo o
que quiseres, podes até enojar-me para o resto da tua vida mas não
me julgues até te explicar tudo. -
Fez uma pequena pausa para pensar nas palavras corretas, que nem
sequer existiam, mas pelo menos a que pareciam menos mal. - Eu
estive com uma pessoa casada durante três anos. Eu sei que não o
deveria ter feito e que provavelmente já me estás a julgar, mas eu
acreditei mesmo que estávamos apaixonados, acreditei nas promessas
que ele me fazia, que a ia deixar para ficar comigo, mas, nestes três
anos, ele engravidou a mulher por duas vezes e eu percebi que nunca
iria deixar de ser a outra, que a prioridade seria sempre ela e os
filhos dele, não o condeno, nem critico, afinal quem estava a mais
era eu e só eu e portanto decidi separar-me. É verdade que me
custou e que pensei voltar atrás mas era o melhor para todos
continuarmos assim. Não quis vir para aqui para o esquecer e me
afastar totalmente, mas foi um fator importante, não o nego.
-Catarina,
sabes que isso só me faz gostar ainda mais de ti, não sabes?
-João,
eu podia ter estragado um casamento, uma promessa de amor eterno, um
casal, com filhos, só porque estava apaixonada.
-Tu
estás a ver isso de uma perspetiva diferente da minha. -
Acariciou-a na face. -
Até podes ter razão ou não, mas tu não te importaste de ser a
outra, não te importaste de ser escondida e calada, de não aparecer
nos momentos importantes, mas, mesmo assim continuar a dar o mesmo
amor. E quando sentiste e enfrentaste o medo e o receio da culpa de
separares uma família, afastaste-te, abdicaste de tudo e mudaste-te,
porque era o melhor. E sabes? Talvez tenha sido mesmo o melhor, o
destino, a juntar-te aqui comigo. - Catarina
sorriu, apenas ele conseguiria ver o lado bom desta situação dura
para ela e abraçou-o, mais que um futuro amor e uma atração, João
era um verdadeiro amigo e abraçou-o.
-Obrigada.
Jota... -
Hesitou e ele rapidamente percebeu o motivo da hesitação dele. -
Achas que te posso beijar?
-Entendo
o teu receio...
-Agora.
-
Interrompeu. -
Por favor.
João
sorriu e esperou que ela o fizesse, e ela embora com medo encostou os
lábios dela nos seus, e depois baixou a cabeça e corou.
-Foi
o primeiro beijo que me deste e nada o podia tornar mais especial. -
Ambos sorriram e trocaram um olhar cúmplice. -
Não precisas de me pedir para o fazeres, fá-lo e pronto.
-Mas
isso não é justo! -
Respondeu. -
Tu tens de me pedir para te beijar e eu não o tenho de fazer.
-Podemos
chegar então a um acordo. Eu beijo-te quando quiser e tu beijas-me
quando te apetecer.
-Assim
não me largavas os lábios!
-Para
mim parece-me um acordo justo! -
Sempre que João sorria, Catarina sentia-se cada vez mais ligada a
ele, mais próxima e mais... Apaixonada. Todo o arsenal de defesas
que ela tentava atirar contra ele e para proteger o seu coração
acabavam desfeitas quando ele se limitava a sorrir, e com cada
palavra, ela sentia-se mais e mais apaixonada e mais confiante nos
dois.
-Temos
acordo! -
Sorriu para ele. -
E queria também contar-te sobre algo mais... Sobre a última pessoa
com quem me envolvi... À pouco tempo. Já cá estava em Valência,
mas quero que saibas que não significou nada para mim, nada mesmo.
Foi apenas uma atração.
-Foste
para a cama com o Gayà?
-Sim...
-
Baixou a cabeça. -
Podia tentar esconder-te e até mentir-te mas acredito que a verdade
vem sempre ao de cima e se quero ter uma relação contigo como
aquilo que sentimos, acho que deveria ser sincera.
João
calou-se, não sabia o que dizer. -Não
quero que penses que não vou para a cama contigo porque não quero e
com ele foi facilidade porque não foi nada assim! Com ele foi apenas
atração, contigo é amor e com ele foi o que foi e agora é uma
amizade, não se vai passar nada mais!
-Não
estás apaixonada por ele?
-Nem
pensar nisso João!
-E
se algum dia o quiseres em vez de mim? Ele apareceu na tua vida
primeiro que eu.
-Ele
não está apaixonado por mim, nem eu por ele, o que aconteceu foi
apenas isso, algo que aconteceu e que nem sequer deixou marca, tanto
que ele no dia em que foi para a cama comigo, foi para a cama com
outra!
-O
José fez isso? Não me parece nada dele...
-Ele
publicou uma fotografia com a rapariga e tudo, e eu fiquei super
desiludida.
-A
última que ele publicou?
-Sim,
ainda por cima a rapariga é exibicionista.
-Tu
estás a dizer-me que ele foi para a cama com a prima?
-Prima?!
-Sim,
na legenda da foto diz prima.
Catarina
ficou calada de tamanha surpresa que havia tido.
-Tu
não tinhas lido a legenda pois não?
-Não.
Mas isso pouco me importa, é passado, embora interiormente me chame
parva porque nem a legenda li e já tirei as minhas próprias
conclusões, isto não é bom para uma futura jornalista.
-Tu
queres seguir jornalismo? Estou a falar com a futura jornalista do
Valência?
-Quem
sabe... -
Sorriu-lhe. -
O meu sonho mesmo era trabalhar nos estúdios da Benfica TV, mas se a
proposta me surgir da parte do teu clube, podes crer que aceito.
-Já
te imaginaste a entrevistar-me? E depois de uma vitória muito
importante ires-me entrevistar e eu beijar-te como fez o Casillas à
Sara Carbonero?
-Mas
isso foi no Mundial, não foi pelo Real Madrid, meu amor. -
Acariciou-lhe a face. -
E se eu for trabalhar para a rádio, podes dar-me os beijos que
quiseres que ninguém vê.
-E
queres dar-me muitos beijos?
-Tantos
quantos quisermos.
-Olha
que eu sou capaz de nunca me fartar.
-Numa
altura da nossa vida vais acabar por deixar de me dar para dares aos
nossos filhos.
-Já
imaginaste os nossos filhos?
-Sim...
Se tu os quiseres ter.
-Quero,
quero mesmo. -
Deram as mãos. -
Mas tu não queres ir devagar?
-Sim,
mas quero transmitir-te que apesar de te ter pedido calma, que não
faz com que deixe de gostar menos de ti.
-Deixa-me
fazer-te uma pergunta... Tu gostaste mesmo desse homem casado com
quem andaste?
-Eu
tinha pensado que sim... Mas hoje já não sei, talvez o Júlio tenha
sido apenas uma fase que já passou na minha vida.
-E
o José?
-Foi
apenas umas voltas, atração, nada mais. E... Tu?
-A
Sara foi alguém de quem gostei e talvez tenha sido injusto e ingrato
com ela, mas não sei... Talvez tenha sido uma amizade que evoluiu
mas no fundo era só uma amizade.
-João...
Vamos deixar que as coisas se descubram com o tempo está bem? Agora
vamos aproveitar para descansar, que te parece?
-Queres
ir já dormir? Ainda não estou cansado.
-Hiperativo
o meu futuro namorado! -
Sorriram. -
Então queres fazer o quê?
-Quero
conhecer Valência!
-A
esta hora João? Pensei que poderiamos aproveitar para descansarmos,
ou melhor para nos deitarmos em conchinha...
-Com
este calor, Catarina?
-Não
queres dormir agarrado a mim?
-Quero...
-
Respondeu com receio. - Mas
vamos dormir a tua casa.
-Combinado!
Pega numa t-shirt tua e já tenho com que dormir.
-Deve
ser extremamente atraente ver-te assim...
-Não
te ponhas com ideias, amanhã tens treino.
-Na
realidade não tenho... Posso ficar a dormir até tarde com o meu
amor na sua caminha.
-E
levas o teu carro? Aposto que é um bruto carro e só o queres
desfilar e fazer passear pela cidade.
-Daqui
para tua casa é muito tempo a pé?
-Não,
dez, quinze minutos.
-Então
vamos a pé que só faz bem andar. -
Levantou-se e deu a mão a Catarina e fê-la levantar-se. -
Vou escolher a minha roupinha para amanhã e tu vê se escolhes uma
t-shirt minha para dormir.
-Qualquer
coisa que escolhas para mim está bom.
João
preparou a sua mochila e deu a mão a Catarina, e juntos seguiram até
casa dela.
-Tens
uma vista para o estádio incrível.
-Já
tens onde vir dormir depois dos jogos.
-Prometo
que te compenso as noites que vier cá dormir, sabes? Dizem que sou
um grande chef!
-Estou
para ver isso. -
Sorriram. -
Não precisas de me compensar, vens e pronto.
-Estou
a tentar ser romântico!
-Calei-me!
- Sorriram.
-
E és tão romântico que me vais deixar tomar banho primeiro. -
Deu-lhe um beijinho na testa e foi para a banheira onde ligou a
música e lembrou-se dos momentos que vivera com José... Haviam sido
todos naquela pequena casa e não poderia ser ali que iria viver
aquele momento inesquecível com João, seria injusto para ele.
Depois do banho, enrolou- se numa toalha e foi para junto de João e
deparou-se com ele sentado na cama com uma pequena refeição
improvisada: umas torradas partidas em quatro, e dois copo de sumo de
laranja.
-Espero
que não te importes mas fiz serventia da cozinha.
-A
fome era negra ou era só para me tentares conquistar pela barriga?
-Ambas.
-
Sorriu. -
Tens a minha t-shirt em cima da tua cama para vestires.
-Não
te importas que me vá vestir à casa de banho?
-Claro
que não, não te quero deixar incomodada.
Catarina
agarrou na t-shirt de João e foi vestir-se, quando voltou, estava o
rapaz sentado em cima da cama com a pequena refeição.
-A
minha t-shirt fica-te bem.
-Obrigada.
-
Corou. -
Vamos lá provar os magnificos dotes culinários.
Catarina
levou o primeiro pedaço de torrada à boca e ficou surpreendida... A
manteiga estava colocada de forma perfeita, nem mais, nem menos,
estavam também pouco queimadas como ela também gostava.
-As
torradas não devem estar grande coisa.
-São
as melhores torradas que comi na vida.
-A
sério? -
Os olhos dele brilharam. -
Eu tinha-te avisado que era um verdadeiro chef!
-Sabes
que para se fazer torradas não é preciso ser-se chef? Eu com 6 anos
já fazia sozinha!
-Não
destruas os meus sonhos de um dia ser um chef de cozinha. -
Catarina puxou um cabelo dele para trás da orelha e deu-lhe um beijo
curto e sorriram.
-Podes
sempre ser o meu chef particular.
João
sorriu.
-Isso
quer dizer que estamos juntos sem estarmos?
O
que irá responder Catarina?
O
que será quererá dizer João? Como será o futuro desta relação?