sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Capítulo 8 “Explicava-lhe que conheci outra pessoa...”

Antes de começar este capítulo queria deixar-vos aqui uma pequena mensagem, ou melhor um pequeno aviso sobre os próximos capítulos. A partir deste capítulo irei continuar a escrever na 3ª pessoa mas irei mudar as personagens, ou seja, deixa de ser apenas o João e a Catarina, mas também posso escrever com o José (Gayà), a Alma, a Isabel, ou uma personagem nova que irá aparecer neste capítulo, e mais tarde perceberam o porquê de não ser o Iker, que é ao fim ao cabo, o namorado da Alma.


Capítulo 8 Explicava-lhe que conheci outra pessoa...”


(Alma)
Depois de servirmos o jantar e de ficar tudo adiantado para a festa, Alma decidiu ir também ela aproveitar um pouco da música que se fazia ouvir e dançar um pouco, mas não durou muito, Iker agarrou-a no braço e levou-a para o seu quarto.

-Que é que pensas que estás a fazer, Alma Cristina?
-Estou a dançar, porquê, incomoda-te?
-Incomoda-me que te estejas a exibir para ao pé de outros homens, isso sim, estavam todos a derreter para cima de ti e sabes bem que não gosto disso.
-Estava a divertir-me a dançar, não estava a provocar ninguém.
-Não era isso que as pessoas estavam a comentar e que os homens estavam a ver!

Alma namorava com Iker desde os seus quinze anos, o que dava quase três anos de namoro e por muito que tentasse não conseguia simplesmente aceitar os ciúmes sufocantes do seu namorado, mas como já os conhecia tão bem, respirava fundo e ia passear.

-Vou comprar champanhe, já volto.
-Vais onde?
-Apanhar ar e comprar champanhe.
-Vou contigo.
-Não vais não, e se fores eu vou contigo.
-Vais ficar aqui quieto e calado, eu não demoro, ou queres que te relembre que estás em minha casa e não posso ir longe?
-Não quero que te demores.
-Está descansado.

Alma saiu de casa e atravessou algumas ruas até perto da mercearia, mas aproveitou para se sentar num banco que existia na rua, abraçar os seus braços e começar a chorar. Gostava realmente de Iker, mas não conseguia suportar, nem suportar aqueles repetitivos ataques de ciúmes, apesar disso não conseguia, nem queria terminar a relação. Ficou assim alguns minutos até que sentiu um toque no braço e uma voz dizer-lhe:

-Posso ajudar-te?

O sotaque não era valenciano, nem de nenhuma zona de Espanha, provavelmente seria algum turista que a vira assim e quisera ir verificar se estava tudo bem consigo.

-Sim, não se preocupe, isto passa. – Respondeu em inglês, talvez fosse melhor para o turista falar nessa língua.
-A minha pronúncia é má mas nunca pensei que fosse tão má.

Isabel sorriu, levantou a cabeça e limpou as lágrimas.

-Como desde muito cedo me comecei a interessar-me por outras línguas que reconheço bem, os estrangeiros e os não-estrangeiros.
-A sério? Então tenta lá adivinhar de que país eu sou. – Disse com sotaque espanhol.
-Não é difícil sabes? Os alemães são inconfundíveis.
-Tu és realmente boa. – Sorriu. – E sabes falar alemão?
-Não sou especialista mas safo-me. Sempre vi os alemães como arrogantes mas tu por acaso és bem simpático.
-Ai é? Os latinos e em particular os espanhóis é que são um povo muito quente e expressivo, e quando vêm o pessoal mais do norte parecemos muito frios.
-Por acaso sei falar alemão, não é muito, mas também nunca tive necessidade de o usar.
-Sabes?! Não é muito habitual ver alguém que saiba falar alemão.
-Sei falar inglês, valenciano, português, francês e alemão, e queria aprender italiano.
-Porque sabes e queres saber tantas línguas?
-Adoro falar línguas, assim nunca fico enrascada a passear por outros países. E adorava melhorar o meu português, mas também não preciso, tenho família portuguesa mas falo sempre com eles na minha língua.
-Tenho o prazer de conhecer uma pessoa muito culta.
-Obrigada. Uma pessoa muito culta chamada Alma. De “soul” (que significa alma, em português), desculpa mas não faço ideia de como se diz em alemão.
-Se eu te disser o meu nome também o irás saber dizer.
-Experimenta, pode ser que tenhas uma surpresa.
-É melhor chamares-me Mustafi, é mais fácil.
-És mesmo de origem alemã ou tens origem noutro país ou assim?
-Tenho origens na Albânia, mas sou alemão.
-Por acaso não sei falar albanês, mas não é nada mal pensado.
-Nunca conheci ninguém que soubesse falar albanês, fora de lá, claro! – Sorriram. – E posso saber porque é que a menina Alma, é assim que se diz, certo?
-Mais ou menos, com o tempo vais aprender a dizê-lo melhor.
-Porque estavas a chorar? Ninguém merece as tuas lágrimas e quem as merece nunca te fará chorar, sabias, ou foi a tua mãe ou o teu amigo alemão que te ensinou?
-Foi o meu amigo alemão. – Sorriram.
-Queres ir jantar? Não sou o melhor cozinheiro, mas dá para desenrascar…
-Secalhar é melhor ir embora, já estão à minha espera.
-Cá para mim não queres é provar os dotes culinários do alemão.
-Só por causa disso vou aceitar, se derem pela minha falta, invento uma desculpa. A tua casa é muito longe?
-Dez minutos a pé.
-Então vamos. – Começaram a caminhada a pé e os temas de conversa começaram a surgir naturalmente.
-Sabes que é contra a minha religião estar sozinho em casa com uma mulher?
-A sério? Se quiseres eu vou para minha casa, não quero que falhes nada por minha casa.
-Era só um pequeno à parte, não quer dizer nada, além doo mais eu é que te convidei, e, sou muçulmano mas não sigo 100% à risca tudo o que a minha religião defende assim como tu também não defendes tudo o que a tua religião te diz.
-És muçulmano? Nunca tinha conhecido nenhum e sei tão pouco sobre a religião, mas houve-se tanto mal. - Confessou a medo.
-Eu sou alemão como bem sabes e é um país que mesmo que tente esconder tem uma história muito próxima com o xenofobismo e com a discriminação com as diferentes raças e culturas, ainda no século passado, viveram os nossos antepassados, e querendo ou não sofri muito descriminação e xenofobia no meu próprio país, e magoou muito, confesso, quando era mais novo tentava esconder o que era para não sofrer tanto mas já na minha adolescência percebi que não valia a pena, teriam de gostar pelo que era, e não detestar-me pela minha religião ou pelo meu passado, ainda existe um pouco o preconceito que os muçulmanos são todos radicais que querem matar, mas têm que se mentalizar que nem todas as pessoas são como as do Estado Islâmico ou radicais. Eu seria incapaz de matar, por muito que a minha religião o defendesse. Hoje em dia não vivo tanto o preconceito de ser muçulmano porque, quer queira ou não, sou jogador de futebol e as pessoas respeitam mais que um qualquer outro muçulmano que viva no resto da Europa, mas já tive colegas de equipa que não lidavam bem com isso, mesmo quando eu explicava tudo direitinho sobre a minha religião e que não somos todos iguais.
-E existe o preconceito que os jogadores de futebol são ignorantes e não sabem falar, mas tu provas que não é minimamente verdade.
-E não te importas que seja jogador de futebol, muçulmano e alemão?
-Nadinha. – Aproximou-se dele e colocou os seus cotovelos sobre os ombros dele e passava os dedos entre os finos fios de cabelo. – Se me importasse achas que estaria aqui contigo? Em tua casa?
-Poderias não lidar bem com isso… Sabes nem toda a gente o sabe fazer.
-Não me importo, de verdade, esta noite poderíamos ser o que tu quiseres.
-Eu sou virgem, por respeito à minha religião.
-E eu tenho namorado.
-É por causa dele que estavas a chorar á pouco? – Pousou as suas mãos sobre as ancas dela.
-Sim, mas não falaremos mais disso, queres cometer um erro?
-Mais tarde vamos arrepender-nos, principalmente tu, que ainda por cima já bebeste.
-Como sabes que bebi? Não me conheces sem ter bebido.
-O teu hálito não engana, e não quero que amanhã penses que me aproveitei de ti.
-Aproveito-me eu de ti. – Colocou a mão sobre o rabo dele e apalpou. – Estou com o Iker há 3 anos quase, mas não me sinto já feliz com ele, vamos cometer este erro e fingir que depois nada se passou. Daqui a algum tempo voltamos a falar e pudemos ser amigos que és bastante interessante.
-E tu também és uma mulher… Surpreendente.

Beijaram-se e acabaram por dar razão ao maior receio de Iker, a traição.

(No dia seguinte, de manhã)
Alma acordou e sentiu uma mão sobre a sua anca, e os remorsos e o arrependimento começaram a comandar e a remexer-lhe o coração. Ela havia traído Iker. O seu namorado de longa data. Não queria acreditar. As dúvidas também lhe atravessavam a cabeça. Mustafi era muçulmano, será que iria ser obrigada a mudar para a religião dele? E pior, casarem-se? Pousou a cabeça na almofada e começou a chorar, como teria cometido aquele erro? A repulsa de si mesma torturava-a, a vergonha e o sentimento de culpa comandavam os seus sentimentos. Tinha bebido sim mas não era desculpa. Sentiu um beijo na testa.

-Estás arrependida.
-Como vou dizer ao Iker que o traí? Que cometi o único erro que ele sempre me disse que não perdoaria? Sabes no fundo sinto-me mal, mesmo mal comigo mesma.
-Não queria que te arrependesses do que se passou entre nós… Sabes no fundo para mim foi especial.
-Para mim também o foi, acredita, mas poderíamos ter feito isto de outra forma. Teria uma conversa com o Iker, explicar-lhe-ia que conheci outra pessoa, que embora ainda nos estejamos a conhecer era especial para mim e não sei o que poderia advir daí. Depois iriamos acabar e tu e eu íamos descobrir que gostávamos um do outro e com tempo dava-te a melhor primeira vez de todas e nunca uma primeira vez comigo já com álcool no sangue e no dia em que nos conhecemos.
-Achas que se nos conhecêssemos noutra circunstância da vida, ou até noutra vida, seria diferente?
-Estou certa disso. Sabes é embaraçoso estarmos a ter esta conversa despidos.
-Vai tomar banho e depois eu vou tomar e mais tarde falamos.
-Vai tu que deves ter treino e não quero que te atrases.
-A menina madrugou portanto estou mais que a tempo.
-Insisto.
-Estou a ir! – Respondeu animado. – Quando sair do banho, preparo o pequeno-almoço e falamos um pouco melhor, agora acho que deverias ligar a alguém da tua família para os descansar, afinal não vês o telemóvel desde ontem e nunca mais disseste nada.
-Tens razão, vou fazê-lo. Obrigada e mais uma vez, desculpa.
-Deixa-te disso.
O que será que Alma dirá a Iker?
Vai contar a verdade ou contar-lhe uma mentira piedosa? E a relação com Mustafi?