Antes
de começar este capítulo queria deixar-vos aqui uma pequena
mensagem, ou melhor um pequeno aviso sobre os próximos capítulos. A
partir deste capítulo irei continuar a escrever na 3ª pessoa mas
irei mudar as personagens, ou seja, deixa de ser apenas o João e a
Catarina, mas também posso escrever com o José (Gayà), a Alma, a
Isabel, ou uma personagem nova que irá aparecer neste capítulo, e
mais tarde perceberam o porquê de não ser o Iker, que é ao fim ao
cabo, o namorado da Alma.
Capítulo
8 “Explicava-lhe
que conheci outra pessoa...”
(Alma)
Depois
de servirmos o jantar e de ficar tudo adiantado para a festa, Alma
decidiu ir também ela aproveitar um pouco da música que se fazia
ouvir e dançar um pouco, mas não durou muito, Iker agarrou-a no
braço e levou-a para o seu quarto.
-Que
é que pensas que estás a fazer, Alma Cristina?
-Estou
a dançar, porquê, incomoda-te?
-Incomoda-me
que te estejas a exibir para ao pé de outros homens, isso sim,
estavam todos a derreter para cima de ti e sabes bem que não gosto
disso.
-Estava
a divertir-me a dançar, não estava a provocar ninguém.
-Não
era isso que as pessoas estavam a comentar e que os homens estavam a
ver!
Alma
namorava com Iker desde os seus quinze anos, o que dava quase três
anos de namoro e por muito que tentasse não conseguia simplesmente
aceitar os ciúmes sufocantes do seu namorado, mas como já os
conhecia tão bem, respirava fundo e ia passear.
-Vou
comprar champanhe, já volto.
-Vais
onde?
-Apanhar
ar e comprar champanhe.
-Vou
contigo.
-Não
vais não, e se fores eu vou contigo.
-Vais
ficar aqui quieto e calado, eu não demoro, ou queres que te relembre
que estás em minha casa e não posso ir longe?
-Não
quero que te demores.
-Está
descansado.
Alma
saiu de casa e atravessou algumas ruas até perto da mercearia, mas
aproveitou para se sentar num banco que existia na rua, abraçar os
seus braços e começar a chorar. Gostava realmente de Iker, mas não
conseguia suportar, nem suportar aqueles repetitivos ataques de
ciúmes, apesar disso não conseguia, nem queria terminar a relação.
Ficou assim alguns minutos até que sentiu um toque no braço e uma
voz dizer-lhe:
-Posso
ajudar-te?
O
sotaque não era valenciano, nem de nenhuma zona de Espanha,
provavelmente seria algum turista que a vira assim e quisera ir
verificar se estava tudo bem consigo.
-Sim,
não se preocupe, isto passa. –
Respondeu em inglês, talvez fosse melhor para o turista falar nessa
língua.
-A
minha pronúncia é má mas nunca pensei que fosse tão má.
Isabel
sorriu, levantou a cabeça e limpou as lágrimas.
-Como
desde muito cedo me comecei a interessar-me por outras línguas que
reconheço bem, os estrangeiros e os não-estrangeiros.
-A
sério? Então tenta lá adivinhar de que país eu sou. – Disse
com sotaque espanhol.
-Não
é difícil sabes? Os alemães são inconfundíveis.
-Tu
és realmente boa. –
Sorriu. –
E sabes falar alemão?
-Não
sou especialista mas safo-me. Sempre vi os alemães como arrogantes
mas tu por acaso és bem simpático.
-Ai
é? Os latinos e em particular os espanhóis é que são um povo
muito quente e expressivo, e quando vêm o pessoal mais do norte
parecemos muito frios.
-Por
acaso sei falar alemão, não é muito, mas também nunca tive
necessidade de o usar.
-Sabes?!
Não é muito habitual ver alguém que saiba falar alemão.
-Sei
falar inglês, valenciano, português, francês e alemão, e queria
aprender italiano.
-Porque
sabes e queres saber tantas línguas?
-Adoro
falar línguas, assim nunca fico enrascada a passear por outros
países. E adorava melhorar o meu português, mas também não
preciso, tenho família portuguesa mas falo sempre com eles na minha
língua.
-Tenho
o prazer de conhecer uma pessoa muito culta.
-Obrigada.
Uma pessoa muito culta chamada Alma. De “soul” (que
significa alma, em português), desculpa
mas não faço ideia de como se diz em alemão.
-Se
eu te disser o meu nome também o irás saber dizer.
-Experimenta,
pode ser que tenhas uma surpresa.
-É
melhor chamares-me Mustafi, é mais fácil.
-És
mesmo de origem alemã ou tens origem noutro país ou assim?
-Tenho
origens na Albânia, mas sou alemão.
-Por
acaso não sei falar albanês, mas não é nada mal pensado.
-Nunca
conheci ninguém que soubesse falar albanês, fora de lá, claro! –
Sorriram.
– E
posso saber porque é que a menina Alma, é assim que se diz, certo?
-Mais
ou menos, com o tempo vais aprender a dizê-lo melhor.
-Porque
estavas a chorar? Ninguém merece as tuas lágrimas e quem as merece
nunca te fará chorar, sabias, ou foi a tua mãe ou o teu amigo
alemão que te ensinou?
-Foi
o meu amigo alemão. –
Sorriram.
-Queres
ir jantar? Não sou o melhor cozinheiro, mas dá para desenrascar…
-Secalhar
é melhor ir embora, já estão à minha espera.
-Cá
para mim não queres é provar os dotes culinários do alemão.
-Só
por causa disso vou aceitar, se derem pela minha falta, invento uma
desculpa. A tua casa é muito longe?
-Dez
minutos a pé.
-Então
vamos. – Começaram
a caminhada a pé e os temas de conversa começaram a surgir
naturalmente.
-Sabes
que é contra a minha religião estar sozinho em casa com uma mulher?
-A
sério? Se quiseres eu vou para minha casa, não quero que falhes
nada por minha casa.
-Era
só um pequeno à parte, não quer dizer nada, além doo mais eu é
que te convidei, e, sou muçulmano mas não sigo 100% à risca tudo o
que a minha religião defende assim como tu também não defendes
tudo o que a tua religião te diz.
-És
muçulmano? Nunca tinha conhecido nenhum e sei tão pouco sobre a
religião, mas houve-se tanto mal. -
Confessou a medo.
-Eu
sou alemão como bem sabes e é um país que mesmo que tente esconder
tem uma história muito próxima com o xenofobismo e com a
discriminação com as diferentes raças e culturas, ainda no século
passado, viveram os nossos antepassados, e querendo ou não sofri
muito descriminação e xenofobia no meu próprio país, e magoou
muito, confesso, quando era mais novo tentava esconder o que era para
não sofrer tanto mas já na minha adolescência percebi que não
valia a pena, teriam de gostar pelo que era, e não detestar-me pela
minha religião ou pelo meu passado, ainda existe um pouco o
preconceito que os muçulmanos são todos radicais que querem matar,
mas têm que se mentalizar que nem todas as pessoas são como as do
Estado Islâmico ou radicais. Eu seria incapaz de matar, por muito
que a minha religião o defendesse. Hoje em dia não vivo tanto o
preconceito de ser muçulmano porque, quer queira ou não, sou
jogador de futebol e as pessoas respeitam mais que um qualquer outro
muçulmano que viva no resto da Europa, mas já tive colegas de
equipa que não lidavam bem com isso, mesmo quando eu explicava tudo
direitinho sobre a minha religião e que não somos todos iguais.
-E
existe o preconceito que os jogadores de futebol são ignorantes e
não sabem falar, mas tu provas que não é minimamente verdade.
-E
não te importas que seja jogador de futebol, muçulmano e alemão?
-Nadinha.
–
Aproximou-se dele e colocou os seus cotovelos sobre os ombros dele e
passava os dedos entre os finos fios de cabelo. –
Se me importasse achas que estaria aqui contigo? Em tua casa?
-Poderias
não lidar bem com isso… Sabes nem toda a gente o sabe fazer.
-Não
me importo, de verdade, esta noite poderíamos ser o que tu quiseres.
-Eu
sou virgem, por respeito à minha religião.
-E
eu tenho namorado.
-É
por causa dele que estavas a chorar á pouco? – Pousou as suas mãos sobre as ancas dela.
-Sim,
mas não falaremos mais disso, queres cometer um erro?
-Mais
tarde vamos arrepender-nos, principalmente tu, que ainda por cima já
bebeste.
-Como
sabes que bebi? Não me conheces sem ter bebido.
-O
teu hálito não engana, e não quero que amanhã penses que me
aproveitei de ti.
-Aproveito-me
eu de ti. –
Colocou a mão sobre o rabo dele e apalpou. –
Estou com o Iker há 3 anos quase, mas não me sinto já feliz com
ele, vamos cometer este erro e fingir que depois nada se passou.
Daqui a algum tempo voltamos a falar e pudemos ser amigos que és
bastante interessante.
-E
tu também és uma mulher… Surpreendente.
Beijaram-se
e acabaram por dar razão ao maior receio de Iker, a traição.
(No
dia seguinte, de manhã)
Alma
acordou e sentiu uma mão sobre a sua anca, e os remorsos e o
arrependimento começaram a comandar e a remexer-lhe o coração. Ela
havia traído Iker. O seu namorado de longa data. Não queria
acreditar. As dúvidas também lhe atravessavam a cabeça. Mustafi
era muçulmano, será que iria ser obrigada a mudar para a religião
dele? E pior, casarem-se? Pousou a cabeça na almofada e começou a
chorar, como teria cometido aquele erro? A repulsa de si mesma
torturava-a, a vergonha e o sentimento de culpa comandavam os seus
sentimentos. Tinha bebido sim mas não era desculpa. Sentiu um beijo
na testa.
-Estás
arrependida.
-Como
vou dizer ao Iker que o traí? Que cometi o único erro que ele
sempre me disse que não perdoaria? Sabes no fundo sinto-me mal,
mesmo mal comigo mesma.
-Não
queria que te arrependesses do que se passou entre nós… Sabes no
fundo para mim foi especial.
-Para
mim também o foi, acredita, mas poderíamos ter feito isto de outra
forma. Teria uma conversa com o Iker, explicar-lhe-ia que conheci
outra pessoa, que embora ainda nos estejamos a conhecer era especial
para mim e não sei o que poderia advir daí. Depois iriamos acabar e
tu e eu íamos descobrir que gostávamos um do outro e com tempo
dava-te a melhor primeira vez de todas e nunca uma primeira vez
comigo já com álcool no sangue e no dia em que nos conhecemos.
-Achas
que se nos conhecêssemos noutra circunstância da vida, ou até
noutra vida, seria diferente?
-Estou
certa disso. Sabes é embaraçoso estarmos a ter esta conversa
despidos.
-Vai
tomar banho e depois eu vou tomar e mais tarde falamos.
-Vai
tu que deves ter treino e não quero que te atrases.
-A
menina madrugou portanto estou mais que a tempo.
-Insisto.
-Estou
a ir! –
Respondeu animado. –
Quando sair do banho, preparo o pequeno-almoço e falamos um pouco
melhor, agora acho que deverias ligar a alguém da tua família para
os descansar, afinal não vês o telemóvel desde ontem e nunca mais
disseste nada.
-Tens
razão, vou fazê-lo. Obrigada e mais uma vez, desculpa.
-Deixa-te
disso.
O
que será que Alma dirá a Iker?
Vai
contar a verdade ou contar-lhe uma mentira piedosa? E a relação com
Mustafi?