terça-feira, 14 de março de 2017

Capítulo 19: “Quando chegar o momento certo”


(Catarina)
-Claro avó! - Chegou à beira da piscina e deu um beijo na testa de João. - Não saias daqui que eu já volto!
-Havia de sair para onde, meu amor? - Ela sorriu e seguiu a avó até à cozinha.
-Quem era aquele rapazinho que estava contigo, filha
-Estás preparada para que te conte tudo, avó? Vais ficar surpreendida.
-Deixa-me só chamar os teus primos que estão na sala e avisá-los que já podem vestir os fatos de banho e ir para a piscina. O teu rapazinho não se importa, pois não?
-Ele vai ter um pouco de dificuldade na língua, mas safa-se, e tenho a certeza que não se importa!
-Juan? Javier? - Chamou a avó da porta da cozinha. - Vistam os fatos de banho e ponham as boias e já podem ir para a piscina, mas não chateiem em demasia o rapaz que lá está! - Sentou-se juntamente com a neta nas cadeiras junto à mesa da cozinha. - Podes começar a falar.
-Primeiro que tudo, ele chama-se João e tem 20 anos e sim, é português. - Sorriu. - É um amigo, mas não é mais do que isso, porque eu pedi para irmos com calma. Conheci-o ontem, nos anos da Isabel, eles são vizinhos e foi logo atração à primeira vista, ou foi algo mais, sei que gosto muito dele, mas não é como amigo, mas ainda não sei o suficiente para namorarmos, por isso vamos desfrutar de nos conhecermos, e ver no que vai dar. Até pode não ser nada, o que não acredito, mas ele é especial para mim. E sei que devia ter vindo ver quando viemos, mas não sabia como te apresentar... O João.

-Não achas que estás a ir rápido? Tu não o conheces o suficiente para saberes se o que ele diz é verdadeiro ou não.
-Avó, só o conheci ontem, mas acredita que com os momentos que passamos, eu percebi que eram realmente verdadeiros. E percebi que o destino nos manda sinais, eu simplesmente li-os. Ele perdeu a mãe, eu perdi o pai, nascemos exatamente no mesmo dia, mas com dois anos de diferença, temos irmãos mais novos e sabes? Eu cantei para ele, eu nunca tinha cantado a ninguém que não fosse da minha família. Somos dois portugueses que se cruzaram em Valência, não achas que é demasiada coincidência? Para mim é um sinal.
-E o José? Como é que ficam no meio disto?
-Ficamos como estávamos, foi apenas e só uma aventura, avó.
-E se ele se deixou "encantar" por ti?
-Terei uma conversa com ele e direi que o meu coração está ocupado.
-Se tu achas que é o melhor para ti, tens o meu apoio, mas para a próxima trá-lo primeiro nem que seja para o cumprimentar, pode ser? - Fez uma pequena festa na face da neta e deu-lhe um beijo na testa.
-Está prometido. Mas avó, tenho uma coisa para te dizer... Ele joga no Valência.
-Mas tu só conheces rapazes que jogam no Valência?
-E o ex-namorado da Isabel é colega de equipa deles.
-O rapaz que mudou drasticamente a tua prima?
-Sim, o André. Ele não teve culpa de nada, avó, confia em mim. Foi uma forma dela reagir à dor.
-Tenho de lhe agradecer porque a fez "soltar-se," mas não precisava de ser tanto.

-Ele não ia reconhecê-la se a visse agora.
-Isso sei eu! - Riu-se a avó. - O teu avô tem muito orgulho em vocês, mas ainda não percebeu porque é que ela está assim.
-Ela não está assim, ela agora é assim, avó, e nós temos de aceitar se é assim que ela é feliz.
-Eu sei filha, mas custa-me pensar na quantidade de homens que ela já ... - Hesitou com as palavras.
-Ela tem cabeça, avó. Ela sabe com quem se envolve e protege-se. Está simplesmente a aproveitar a vida, vais ver que qualquer dia aparece-lhe um rapaz que a deixa apaixonada e ela acalma este lado mais selvagem!
-Ela podia ser mais como a Alma, está com o Iker à imenso tempo e são tão novos!
-Sabes que a Isabel odeia o Iker, não sabes? Não sei porquê, mas odeia.
-Eu sei, mas a tua prima Alma gosta dele e é o que mais importa.
-Sem dúvida! - Sorriram. - Vou apresentar-te ao João, avó.
-Diverte-te com ele e com os teus primos na piscina, eu vou preparar um lanche para todos e já vos chamo!
-Está bem!
Catarina saiu da cozinha e foi para junto da piscina onde os primos se divertiam a atirar para a piscina e João aproveitava para os ver, mas dentro de água.
-Voltei, piolhos! - Juan, o gémeo que estava fora de água, correu até junto da prima e abraçou-lhe as pernas.
-Prima! - Ela pegou-lhe ao colo e deu-lhe um beijo. - Quem é este rapaz? É teu namorado?

-É... Mais ou menos. - Como iria explicar a uma criança de 6 anos o que João era para si?! -Vamos para dentro de água para junto deles?
-Sim! Vê a bomba que mando para a água! - Saiu do colo da prima e foi até à beira da piscina onde se atirou com força. De seguida nadou até junto de João onde se agarrou ao braço esquerdo, porque no direito já estava o irmão.
-Estás à espera de quê para entrar, princesa?
Catarina corou e ao contrário deles entrou devagar pelas escadas da piscina e nadou até junto deles.
-O meu beijo, Javier?
O gémeo nadou até aos braços da prima e deu-lhe um beijo na bochecha. - Quem é este rapaz, prima? Ele fala uma coisa esquisita!
-Este rapaz vem da minha terra, de Portugal, e lá falamos português, e ele ainda não fala bem a nossa língua.
-Tu falas a língua dele?
-Sim, nós os dois falamos na nossa língua.
-E vocês são amigos?
-Mais ou menos. Daqui a uns tempos, a prima explica, pode ser? Mas quero que sejam simpáticos com o João, sim?
-Que nome estranho é esse, prima? - Perguntou Javier.
-É um nome da nossa terra. Podem-lhe chamar Cancelo, sim?
-Está bem. - Responderam os gémeos em coro. Os meninos saíram dos braços do "casal" e decidiram nadar pela piscina.
-Eu até entendo o que dizem, mas não sei falar muito e atrapalho-me todo.
-Não te preocupes, eu disse que eras da minha terra e eles perceberam perfeitamente! Eles ficaram foi confusos com o teu nome, se te chamarem Cancelo, tu olha, por favor!
-No balneário também me tratam assim, descansa amor! - Aproximou-se dela numa tentativa de a beijar, mas ela afastou-se.

-Ainda não o vamos fazer em frente da minha família, sim?
-Sim, tens razão, desculpa.
-Sem problema! Como correu a conversa com a tua avó?
-Bem. - Foi curta e breve, o que deixou o rapaz ainda mais em suspense.
-Define bem.
-Disse-lhe a verdade e ela reagiu como era previsível.
-Para de me deixar em suspense, por favor!
-Tinha medo que não estivesses realmente a ser sincero comigo e que pudesses estar a enganar-me, mas eu disse que não, e expliquei-lhe que não. Tu já me provaste demasiado, um dia chegou, João. -  Fez-lhe uma festa na face.
-E ela não quis vir conhecer-me?
-Um rapaz conquista-se pelo estômago, nunca ouviste dizer?
-Sim, não me digas que a tua avó é daquele estilo de avós que acha que estamos sempre magrinhos e que devíamos comer mais!
-Para a minha avó, esses abdominais é sinal que precisas de comer. - Pousou a mão direita na zona abdominal dele e a esquerda sobre o esquerdo.
-Não tens medo que a tua avó apareça de repente?
-E se aparecer? Estou a provocar-te? Além do mais, ela sabe que já não tenho esse tipo de “virtude”.
-Tu tens esse à vontade com a tua avó? É tão estranho... Não deixa de ser tua avó.
-A minha avó é muito jovem de espírito, é uma amiga minha, só que é minha avó. Já o meu avô é meu amigo, mas não teria esse tipo de à vontade, e ele trabalha imenso...

-Trabalha onde? Também gostava de o conhecer.
-É diretor financeiro... No teu clube. - João abriu os olhos surpreendido. Tinha-se apaixonado pela neta do diretor financeiro do Valência? O mundo tinha mesmo a capacidade de ser pequeno. - Mas está descansado que ele ficará muito orgulho de ser tua, vá, mais que amiga.
-Tens a certeza que ele não me vai querer fazer a vida negra?
-Absoluta. Confia em mim. - Sorriu-lhe e deu-lhe um beijinho na ponta do nariz. - Vamos fazer bombas com os meninos?
-Reviver os meus tempos de infância.
-Até em crescido, se faz isto João!
-Nos meus tempos de crescido, porque tu não ficaste muito alta, minha pequena! - Deu-lhe um beijo na ponta da testa e fugiu de seguida dela e foi até à beira da piscina, para juntos dos pequenos.
-Agora desenrasca-te a falar com os meninos, que aqui a pequena, não te ajuda!
-Não preciso de ajuda, queres ver? - Olhou para os meninos. - Juan? Javier? La bomba? Très, dois, un. - Dito isto saltaram para dentro de água em simultâneo e nadaram todos até junto de Catarina. - Quem não se safava amor meu?

-Juan! Javier! - Chamou a avó da janela da cozinha. - Catarina! João? Têm 5 minutos para estar na mesa! E quero-vos secos! - Deram todos um último mergulho e foram até às toalhas onde se deitaram um pouco ao sol.
-Se a tua avó quiser falar comigo, podes ficar ao meu lado? Para me ajudares a falar... E até se tiver dúvidas a perceber.  
-A minha avó sabe falar e entende português, aprendeu antes de vir para cá.
-Mas eu prefiro que fiques ao pé de mim, pode ser?
-Queres é ver o meu castelhano em ação!
-Já vi com os teus primos! - Sorriu-lhe. - Passa a toalha pelo corpo do Juan, enquanto eu passo pelo do Javier!
-É o Javier que está do meu lado!
-Dá-me tempo para deixar de os baralhar!
-O Javier tem um pequeno sinal junto ao lábio, mas muito discreto.
-Vou decorar isso! E o Juan é mais irrequieto!
-Decorei! - Sorriu divertido. - Já limpaste o pestinha?
-Claro que sim.
Vestiram as roupas juntamente com os gémeos e foram lanchar, onde acabaram por se divertir bastante principalmente devido à falta de línguas em comum. Depois despediram-se e foram até ao carro:
-E agora queres ir onde?

-É oficial tenho de levar algumas roupas minhas para tua casa, para ficar mais confortável!
-E porque não te mudas para lá? Era mais fácil para a minha adaptação.
-É tão cedo, João. - Disse ela com um tom calmo. - Prometo que quando namorarmos e depois de nos conhecermos melhor, vou pensar, sim?
-Sei que era ir rápido, mas era mais fácil para mim ter-te por perto por causa da língua, para a minha adaptação.
-E era só por causa da adaptação a uma nova língua ou ao país, ou porque me queres por perto também?
-Também te quero por perto também, claro. - Passou-lhe a mão pela face e deu-lhe um beijo na testa. -E como é que sei que é o momento certo para te pedir em namoro?
-Vais perceber quando o momento certo chegar.
-E agora é o momento certo de irmos até onde? Fazer o quê?
-Que achas de tomarmos um duche e depois irmos jantar fora? Conhecer a cidade que afinal nos apresentou.
-A cidade que Portugal não tem.
-Sim. Esta cidade é em parte minha, mas eu sinto como se não fosse. É difícil de explicar, não deves entender.
-Claro que entendo! - Respondeu ele. - Eu sou uma parte lisboeta e por outra parte não sou.
-Mas Valência tem um brilho e um encanto único. Faz-me sentir completamente especial!
-Valência faz-me sentir diferente, mas és tu que me faz sentir feliz! - Deram um beijo sentido e especial.

-Vamos para minha casa? - Respondeu ela.
-Sim.
João conduziu até casa dela, e Catarina olhava para todos os locais e sorria ao pensar o quanto se sentia feliz naquela cidade com aquele rapaz. Ele estacionou o carro e subiram até ao prédio dela.
-Fica aí um bocadinho a ver televisão enquanto eu vou só tomar um banho rápido para tirar o cloro do corpo.
-Quando dizes um banho rápido é mesmo rápido ou é daqueles que demora?
-É provável que demore um bocadinho, ainda. Não te importas de esperar?
-Tenho outro remédio?
-Não te importas mesmo?
-Toma o teu banho descansada, vai. - Sorriu-lhe e Catarina saiu da área comum e foi até à casa de banho. - Espero que não te importes, mas vou ligar a música.

-Estás à vontade, meu amor.

Damn, you look so good with your clothes on (Caramba, estás tão linda com as roupas vestidas)
And I'm not trying to come off too strong (E eu não estou a tentar forçar a barra)
But you know that I can't help it (Mas tu sabes que eu posso ajudar-te)
Cause girl you're beautiful (Porque, rapariga, tu és bonita)
I can't deny I want your body (Não consigo negar que quero o teu corpo)
But I'm a gentleman (Mas sou um cavalheiro)
So I'll be the one who take slowly (Então serei eu quem vai devagar)
Cause girl you're so beautiful (Porque, rapariga, tu és bonita)

I wanna love you with the lights on (Eu quero amar-te com as luzes ligadas)
Keep you up all night long (Manter-te acordada a noite toda)
Darling I wanna see every inch of you (Querida, quero ver cada centímetro de ti)
I get lost on the way you move (Eu perco-me na forma como te mexes)

I like the vibe in this hotel room (Eu gosto da vibração neste quarto de hotel)
I'd really like to get to know you (Eu realmente gostava de conhecer-te)
It's like discovering a secret (Descobrir um segredo)
Underneath these heavy sheets (Sobre estes lençóis pesados)

Your skin's so perfect up against me (A tua pele é perfeita contra a minha)
Your lips are talking when we don't speak (Os teus lábios mexem-se quando não falamos)
And I never wanna let this go (E eu não quero largar isso)
Cause there's so much left to see (Porque ainda há muito para ver)

(…)

Depois de tomar banho, saiu da casa de banho e só aí se recordou que se havia esquecido de um pequeno pormenor, no mínimo, importante. Ela iria despir-se e vestir-se ali? À frente de João?
-A música era uma provocação para mim, Catarina?
-Uma provocação? - Perguntou equivocada. Nem se recordava da música que tinha ouvido. - Mas qual música?
-Shawn Mendes, Lights On.
-O que achas? - Mordeu o lábio claramente provocando e ele sabia bem disso, sorriu-lhe e começou a aproximar-se dela com os olhos focados em si e na toalha que cobria o corpo, sabia o que de ali poderia vir e não tinha medo, ela também o queria, mas não sabia exprimir-se, talvez até o seu subconsciente o havia feito, sem ela dar conta. Quando estava já frente a frente com ela, parou.
-Tens a certeza?
-Chegou o momento certo. - Respondeu convicta.

Como correrá a primeira vez dos dois?
Será que vai mudar algo na relação dos dois? Como será o futuro?

Será que é desta? E quando será o momento certo para começarem a namorar?