quarta-feira, 10 de junho de 2015

Capítulo 02: “José Gayà”



-José Gayà.
-És de cá?
-Não fazes mesmo ideia de quem sou, pois não?
-Era suposto fazer?
-Sim, quer dizer, não. Não sei.
-Agora fiquei confusa.
-Costumas acompanhar o Valência?
-Rapaz, cheguei hoje de Lisboa, o mais provável é dizer-te o nome do treinador porque defrontou o Benfica em duas finais com o Rio Ave na época passada, e sei dizer-te também o nome das novas contratações que vieram do Benfica.
-André Gomes, Rodrigo e João Cancela, certo?
-Mas porque razão ninguém acerta no nome dele? É Cancelo, rapaz!
-Quem é que não tinha acertado no nome dele?
-Já alguém te disse que és muito curioso?
-Por acaso a minha mãe farta-se de me dizer!
-O meu avô também me falou dele mas não acertou no nome do rapaz, vocês espanhóis são muito engraçados.
-Mas ainda há pouco me disseste que também és espanhola e a tua pronúncia é muito boa.
-E sou espanhola e portuguesa, mas como nasci e sempre cresci em Portugal, sou muito mais portuguesa, e é estranho falar esta língua e pensar em português, e para mais na minha família já se queixaram do meu sotaque!
-Parece a pronúncia da zona de Santiago de Compostela, meio portuguesa, meio espanhola.
-Ao menos parece o sotaque de alguma zona de Espanha, já e um começo! - Sorriram.
-Nessa tua cabecinha, que é que pensaste em bom português de mim?
-Que eras engraçado até. - Respondeu em português e o rapaz não compreendeu. -Que tens sido atencioso comigo e que era bom, mas que gostava mesmo era de sair daqui a ir conhecer isto! - Disse em espanhol.
-Obrigada! Queres que te leve a algum sítio em especial?
-Queria ir ao relvado e depois ao local das conferências de imprensa, quero ir aos balneários também, e depois tentar descobrir onde é que está o meu avô!
-O teu avô trabalha em que departamento?
-É o responsável pelo departamento de finanças.
-Queres que te leve já ao pé do teu avô e depois vamos dar a volta ao estádio ou queres ir dar uma volta e depois vamos ter com o senhor?
-Quero ir primeiro dar uma volta ao estádio, porque o meu avô disse que era capaz de se demorar um bocadinho.
-E porque não foste ter com um segurança para ele te ajudar?
-Queria descobrir sozinha, mas pelos vistos devia mesmo ter ido pedir ajuda. E tu afinal o que vieste cá fazer, rapaz? Não foi descobrir como eu, de certeza!
-Esqueci-me da minha carteira no balneário e como imaginas faz-me falta, por isso vim buscá-la.
-Então tu jogas aqui?
-Sim, sou lateral esquerdo. Diz-me por favor que sabes o que isso quer dizer.
-Claro que sei, desde os meus seis anos que vejo futebol, via regularmente a liga inglesa, espanhola e portuguesa, não via mais por causa do trabalho.
-Trabalhavas onde?
-Rapaz, primeiro vamos passear pelo estádio, depois logo se vê, não tenha pressas em conhecer-me, não sou tão fascinante quantas as raparigas que aparecem na capa das revistas.
-E eu também não sou o típico jogador de futebol, por isso parece-me bem. - Sorriram e começaram a caminhar pelos corredores do estádio em direção aos balneários.


-Isto é super espaçoso, e as divisórias personalizadas são muito fixe!
-Somos mimados aqui no Valência, nem vale a pena negares.
-Confesso que adorei a ideia e que a decoração do balneário é bonita, mas continuo a preferir o meu Benfica.
-Nunca te vou fazer mudar de ideias pois não?
-Não, assim como o Valência está no teu coração, o Benfica está no meu. Mas vou buscar a minha carteira senão depois não te posso pagar um café.


-Oh rapaz, por acaso já me convidaste ou achas que sou rapariga de sair com um estranho, que por acaso se esqueceu da carteira no local de trabalho?
-José Luís Gayà Peña, nascido em Pedreguer, Valência a 25 de Maio de 1995, e tu? - Baixou-se e beijou-lhe a mão, fazendo-a sorrir.
-Catarina Inés Lopéz y Amorim, nascida em Lisboa, capital do meu grande Portugal, a 27 de Maio de 1996.
-Amorim é um apelido tão português! - Comentou. - Não acredito que tens 18 anos!
-Já sou oficialmente maior de idade. Algum problema com o apelido Amorim?
-Não, é engraçado até! - Sorriu. - Queres ir ao local da conferência de imprensa?
-Vamos.
Entraram para o local onde se realizava as conferências de imprensa e Catarina não perdeu a oportunidade de falar.
-Aqui o meu Benfica ganha! É muito mais espaçoso e bonito, aqui é tudo muito feio e escuro.
-Um dia trago-te aqui quando for dar uma entrevista e vais dizer-me senão fica logo mais bonito.
-Neste momento já é bonito. - Disse em português e Gayà ficou confuso, não entendera e Catarina não o repetiu, provocando-o. -És um convencido, rapaz!
-Chama-se ser realista, minha menina. Tu também és bonita e dizê-lo não torna de ti uma mentirosa, nem convencida, mas demonstra que és uma pessoa que diz a verdade!
-Não existe para aqui uma bola escondida? - Catarina não se sentia confortável com elogios e tinha a sensação que ele só o dizia para ser simpático, talvez quisesse algo mais, mas ela não estava interessada em ter uma relação, muito menos com um jogador de futebol, mesmo que bonito. - Quero dar uns toques na bola no relvado!
-Para quem não gostava do Valência, estás-te a tornar uma boa adepta.
-Quero ter um pouco a noção do que vocês sentem a jogar no estádio e a marcar um golo, está bem?
-E se eu não te deixar marcar?
-E quem te disse que não sou uma boa avançada?
-Sou um bom defesa esquerdo, consegues ultrapassar-me?
-Vais comer o meu pó, José! - Sorriu-lhe. -E nada de fazer batotices, eu estou de vestido e sapatinhos, mas vou jogar descalça e a saia não será incómodo!
-Empresto-te o meu equipamento do jogo e eu jogo com a roupa que tenho, que te parece?
-E depois dispo-me no balneário e tu vais lá espreitar, lamento José, mas já conheço os truques todos dos homens!
-Podes trancar-me no balneário para teres a certeza que não vejo nada, só não quero que sujes a tua roupa aqui!
-E depois sujo os pés aqui no relvado.
-Eu empresto-te as meias do jogo.
-Então alinho!
Catarina trancou José na casa de banho e equipou-se com o equipamento dele, este ficara-lhe no mínimo grande, mas não se importou, iria jogar com ele, apesar disso.


Foi até à casa de banho e destrancou o rapaz.
-Estás linda!
-Prefiro o vermelho e vou sempre preferir, não te obrigo a usar o meu equipamento porque só o tenho em casa, senão não te safavas!
-Até podia vestir a camisola mas sabes bem qual é o clube que tenho no coração.
-E tu também sabes o meu. E o vermelho é uma cor muito mais bonita, é cor do sangue, cor do coração e cor de paixão e amor, o branco é apenas pureza, e tu de puro não tens nada!
-Fica sabendo que a minha cara engana, sou um santinho!
-Estás-me a enganar e eu a fingir que acredito!
-Mas vamos jogar ou não?
-Estás pronto para ficar sem rins? - José sorriu e ela pegou na bola e começou a correr em direção à baliza com a bola nos pés e ele começou a correr atrás dela. - Estou duplamente em desvantagem contigo, tu jogas futebol e estou com a tua roupa, que deve ser no mínimo 3 números acima do meu!
-Devias era estar feliz, tantas raparigas pagavam para ter uma camisola minha vestida!
-Será que se eu desaparecer com ela e a vender que ainda ganho muito dinheiro?
-E achas que eu te deixava sair com ela? E achas mesmo que eu acreditava que não ias ficar com ela e até ias dormir agarrada a ela?
-Nem penses nisso, achas que ia perder uma oportunidade de ganhar pelo menos 50€?
-No outro dia, leiloei a minha camisola para doar o dinheiro para uma instituição de caridade e sabes quanto me deram por ela? 500€!
-Tanto dinheiro por um tecido? Ainda dizem que não há dinheiro! - Dito isto parou e José pegou na bola e correu em direção à área oposta, em direção à sua baliza mas Catarina não se deixou sossegar, deu um “sprint” e cortou a bola de carrinho e começou a correr em direção à sua baliza.
-Tu jogas muito...
-Pouco. - Acrescentou depois de entrar na grande área, onde precisou apenas de encostar para marcar o seu golo de vitória. -Goooooolllllloooooooooooooooooo! - Gritou e caiu no chão, cansada mas com um sorriso nos lábios.
-Posso deitar-me ao pé de ti?
-Deita-te rapaz! - Deitaram-se sobre o relvado a olhar o céu. - Vou fotografar isto! - Tirou o telemóvel do interior das meias, onde as tinha prendido e fotografou. - Vou postar no Instagram mas não te vou identificar como é óbvio, senão depois chovem-me pedidos para me seguir e já raparigas com ciúmes, outras a adorarem-me, outras que fazem ambas, por isso é melhor estar sossegada!

Pode mudar de rua, de cidade, ou até de país, pode mudar o tempo e até a altura em que olhas para o céu, mas seja de noite ou de dia, haverá sempre algo a acompanhar-te no céu em todas as aventuras!”

Depois de publicar a fotografia, o telemóvel tocou. Era a sua prima Isabel:
-Sim?
-Mas afinal estás onde?
-Estou no estádio, onde haveria de estar?
-Então onde tiraste a fotografia da lua? E porque razão tive de usar o tradutor para traduzir o que está lá escrito?
-Porque sou emigrante no meu próprio país e se escrevesse em valenciano dava erro! Estou deitada na relva. - José começou a fazer-lhe cócegas na barriga e tapou o telemóvel para repreendê-lo. - Mas tu importaste de estar sossegado, José Gayà?
-José Gayá? Mas eu deixo-te sozinha um bocadinho e tu já estás deitada no relvado do Mestalla? E com um jogador do Valência? Ainda por cima gato!
-Estava nos corredores, ele apareceu-me à frente e disponibilizou-me ajuda!
-Ia convidar-te para ires sair comigo, com o Iker e a Alma, mas já vi que estás melhor acompanhada.
-Queres ir sair? - Pousou a mão sobre o telemóvel e perguntou a José.
-Não posso ir sair para discotecas e assim por causa do meu trabalho, mas conheço uma gelataria aqui ao pé maravilhosa, podes levar os teus amigos e vamos lá.
-O José diz que conhece uma gelataria cá perto, não se importam?
-Mas já há confiança para tratares pelo primeiro nome?
-Ninguém me trata por Amorim, por isso não o vou tratar por Gayà.
-Para o teu padrinho será completamente indiferente ele chamar-se José ou Gayà, vai ter de falar com ele na mesma, o avô é que vai ficar muito orgulhoso de ti e vai querer juntar-vos logo!
-Que casamenteira que tu me saíste, somos amigos, vale?
-Diz à tua prima para não se demorar que eu quero ir comer um gelado!
-Podes dizer ai ao teu amiguinho que eu é que estou à vossa espera!
-Arranjem um quarto meninos! - Reclamou Catarina. - Lamento priminha mas ainda pudemos demorar um bocadinho que tenho de me ir vestir e tenho de ir ver o avô.
-Mandas-nos arranjar um quarto e mal o conheces-te e já foste para a cama com ele, ou melhor, para o relvado, diz-me lá, ele é bom naquilo que faz?
-A tua imaginação é sem dúvida alguma muito fértil! - Reclamou sorrindo. - Eu e o José disputamos um jogo aqui no relvado e não ia jogar de vestido, por isso ele emprestou-me o equipamento do jogo e ganhei!
-Tu estás com o equipamento dele? Deixa-me imaginar, e ele jogou com o teu vestido!
-Quase! - Catarina sorriu imaginando.
-Diz à tua prima que ela queria era ver estas lindas perninhas a correr pelo relvado, mas isso não vai acontecer!
-Tu estás a ouvir a conversa José Luís Gayà Peña?
-Sim, mas não me queria meter, mas pelos vistos, a tua prima tem uma crush por mim!
-Vai sonhando! - Respondeu Isabel. - Diz ai ao teu amiguinho que mais vale só que mal acompanhado!
-Eu também tenho namorada e não tenciono perdê-la. - Não se deixou ficar sem resposta.
-Tens? - Perguntaram Isabel e Catarina em coro.
-Não, mas posso vir a ter. - Respondeu, tentando provocar Catarina.
-Ai que alguém quer algo mais! - Picou Isabel.
-Prima, daqui a uma hora podes estar aqui?
-Posso claro, e tu vê lá se não lhe saltas para cima até lá, ou melhor... Evita que ele te salte para cima até lá.
-Não me vou meter com nenhum dos Amorim, está descansado!
-Amorim é português, nós somos Lopéz! - Respondeu Isabel.
-Está visto que não partilham de todo a mesma simpatia!
-Mas esse rapaz só sabe reclamar?
-Vocês fiquem mas é a falar ao telemóvel enquanto eu vou vestir-me.
-Nem penses nisso, estou farta de ouvir a voz desse rapaz e ainda nem fomos comer o nosso gelado! - Catarina levantou-se em direção ao balneário, deixando a sua prima a falar com o seu mais recente conhecido.
-Onde vais? - Perguntou José agarrando-a no braço, impedindo-a de seguir até aos balneários, desligando em simultâneo a chamada. -Estávamos a falar contigo.
-Vou só mudar de roupa, não demoro.
-Queres que te vá dar uma toalha e as coisas para tomares banho?
-Deixa estar, não me fizeste suar assim tanto. - Sorriu e deu-lhe um beijo na bochecha, fazendo-o corar.
Catarina foi até ao balneário e tentou não se demorar a vestir-se, embora soube-se que para os rapazes as raparigas demoravam sempre a despacharem-se a vestirem-se.
-Voltei! - Disse chegando ao banco de suplentes do Valência onde José estava sentado.
-Até que enfim, estava farto de esperar por ti! - Respondeu provocando-a e ambos sorriram, levantou-se do lugar e aproximou-se da amiga. - Posso pedir-te uma coisa e tu não me chateias comigo?
-Depende do que pedires.
-Podes-me dar o teu número? - Pediu envergonhado evitando olhá-la nos olhos com vergonha.
-Catarina? Gayà? Que hacem aquí? - Perguntou o avô surpreendo-os por completo.

Como irão sair desta “trapalhada”?
Como correrá o encontro com a família Lopéz? Será que Catarina vai aceitar?