-José
Gayà.
-És
de cá?
-Não
fazes mesmo ideia de quem sou, pois não?
-Era
suposto fazer?
-Sim,
quer dizer, não. Não sei.
-Agora
fiquei confusa.
-Costumas
acompanhar o Valência?
-Rapaz,
cheguei hoje de Lisboa, o mais provável é dizer-te o nome do
treinador porque defrontou o Benfica em duas finais com o Rio Ave na
época passada, e sei dizer-te também o nome das novas contratações
que vieram do Benfica.
-André
Gomes, Rodrigo e João Cancela, certo?
-Mas
porque razão ninguém acerta no nome dele? É Cancelo, rapaz!
-Quem
é que não tinha acertado no nome dele?
-Já
alguém te disse que és muito curioso?
-Por
acaso a minha mãe farta-se de me dizer!
-O
meu avô também me falou dele mas não acertou no nome do rapaz,
vocês espanhóis são muito engraçados.
-Mas
ainda há pouco me disseste que também és espanhola e a tua
pronúncia é muito boa.
-E
sou espanhola e portuguesa, mas como nasci e sempre cresci em
Portugal, sou muito mais portuguesa, e é estranho falar esta língua
e pensar em português, e para mais na minha família já se
queixaram do meu sotaque!
-Parece
a pronúncia da zona de Santiago de Compostela, meio portuguesa, meio
espanhola.
-Ao
menos parece o sotaque de alguma zona de Espanha, já e um começo! -
Sorriram.
-Nessa
tua cabecinha, que é que pensaste em bom português de mim?
-Que
eras engraçado até. -
Respondeu em português e o rapaz não compreendeu. -Que
tens sido atencioso comigo e que era bom, mas que gostava mesmo era
de sair daqui a ir conhecer isto! -
Disse em espanhol.
-Obrigada!
Queres que te leve a algum sítio em especial?
-Queria
ir ao relvado e depois ao local das conferências de imprensa, quero
ir aos balneários também, e depois tentar descobrir onde é que
está o meu avô!
-O
teu avô trabalha em que departamento?
-É
o responsável pelo departamento de finanças.
-Queres
que te leve já ao pé do teu avô e depois vamos dar a volta ao
estádio ou queres ir dar uma volta e depois vamos ter com o senhor?
-Quero
ir primeiro dar uma volta ao estádio, porque o meu avô disse que
era capaz de se demorar um bocadinho.
-E
porque não foste ter com um segurança para ele te ajudar?
-Queria
descobrir sozinha, mas pelos vistos devia mesmo ter ido pedir ajuda.
E tu afinal o que vieste cá fazer, rapaz? Não foi descobrir como
eu, de certeza!
-Esqueci-me
da minha carteira no balneário e como imaginas faz-me falta, por
isso vim buscá-la.
-Então
tu jogas aqui?
-Sim,
sou lateral esquerdo. Diz-me por favor que sabes o que isso quer
dizer.
-Claro
que sei, desde os meus seis anos que vejo futebol, via regularmente a
liga inglesa, espanhola e portuguesa, não via mais por causa do
trabalho.
-Trabalhavas
onde?
-Rapaz,
primeiro vamos passear pelo estádio, depois logo se vê, não tenha
pressas em conhecer-me, não sou tão fascinante quantas as raparigas
que aparecem na capa das revistas.
-E
eu também não sou o típico jogador de futebol, por isso parece-me
bem. - Sorriram
e começaram a caminhar pelos corredores do estádio em direção aos
balneários.
-Isto
é super espaçoso, e as divisórias personalizadas são muito fixe!
-Somos
mimados aqui no Valência, nem vale a pena negares.
-Confesso
que adorei a ideia e que a decoração do balneário é bonita, mas
continuo a preferir o meu Benfica.
-Nunca
te vou fazer mudar de ideias pois não?
-Não,
assim como o Valência está no teu coração, o Benfica está no
meu. Mas vou buscar a minha carteira senão depois não te posso
pagar um café.
-Oh
rapaz, por acaso já me convidaste ou achas que sou rapariga de sair
com um estranho, que por acaso se esqueceu da carteira no local de
trabalho?
-José
Luís Gayà Peña, nascido em Pedreguer, Valência a 25 de Maio de
1995, e tu? -
Baixou-se e beijou-lhe a mão, fazendo-a sorrir.
-Catarina
Inés Lopéz y Amorim, nascida em Lisboa, capital do meu grande
Portugal, a 27 de Maio de 1996.
-Amorim
é um apelido tão português! -
Comentou. -
Não acredito que tens 18 anos!
-Já
sou oficialmente maior de idade. Algum problema com o apelido Amorim?
-Não,
é engraçado até! -
Sorriu. -
Queres ir ao local da conferência de imprensa?
-Vamos.
Entraram
para o local onde se realizava as conferências de imprensa e
Catarina não perdeu a oportunidade de falar.
-Aqui
o meu Benfica ganha! É muito mais espaçoso e bonito, aqui é tudo
muito feio e escuro.
-Um
dia trago-te aqui quando for dar uma entrevista e vais dizer-me senão
fica logo mais bonito.
-Neste
momento já é bonito. -
Disse em português e Gayà ficou confuso, não entendera e Catarina
não o repetiu, provocando-o. -És
um convencido, rapaz!
-Chama-se
ser realista, minha menina. Tu também és bonita e dizê-lo não
torna de ti uma mentirosa, nem convencida, mas demonstra que és uma
pessoa que diz a verdade!
-Não
existe para aqui uma bola escondida? -
Catarina não se sentia confortável com elogios e tinha a sensação
que ele só o dizia para ser simpático, talvez quisesse algo mais,
mas ela não estava interessada em ter uma relação, muito menos com
um jogador de futebol, mesmo que bonito. -
Quero dar uns toques na bola no relvado!
-Para
quem não gostava do Valência, estás-te a tornar uma boa adepta.
-Quero
ter um pouco a noção do que vocês sentem a jogar no estádio e a
marcar um golo, está bem?
-E
se eu não te deixar marcar?
-E
quem te disse que não sou uma boa avançada?
-Sou
um bom defesa esquerdo, consegues ultrapassar-me?
-Vais
comer o meu pó, José! -
Sorriu-lhe. -E
nada de fazer batotices, eu estou de vestido e sapatinhos, mas vou
jogar descalça e a saia não será incómodo!
-Empresto-te
o meu equipamento do jogo e eu jogo com a roupa que tenho, que te
parece?
-E
depois dispo-me no balneário e tu vais lá espreitar, lamento José,
mas já conheço os truques todos dos homens!
-Podes
trancar-me no balneário para teres a certeza que não vejo nada, só
não quero que sujes a tua roupa aqui!
-E
depois sujo os pés aqui no relvado.
-Eu
empresto-te as meias do jogo.
-Então
alinho!
Catarina
trancou José na casa de banho e equipou-se com o equipamento dele,
este ficara-lhe no mínimo grande, mas não se importou, iria jogar
com ele, apesar disso.
Foi
até à casa de banho e destrancou o rapaz.
-Estás
linda!
-Prefiro
o vermelho e vou sempre preferir, não te obrigo a usar o meu
equipamento porque só o tenho em casa, senão não te safavas!
-Até
podia vestir a camisola mas sabes bem qual é o clube que tenho no
coração.
-E
tu também sabes o meu. E o vermelho é uma cor muito mais bonita, é
cor do sangue, cor do coração e cor de paixão e amor, o branco é
apenas pureza, e tu de puro não tens nada!
-Fica
sabendo que a minha cara engana, sou um santinho!
-Estás-me
a enganar e eu a fingir que acredito!
-Mas
vamos jogar ou não?
-Estás
pronto para ficar sem rins? -
José sorriu e ela pegou na bola e começou a correr em direção à
baliza com a bola nos pés e ele começou a correr atrás dela. -
Estou duplamente em desvantagem contigo, tu jogas futebol e estou com
a tua roupa, que deve ser no mínimo 3 números acima do meu!
-Devias
era estar feliz, tantas raparigas pagavam para ter uma camisola minha
vestida!
-Será
que se eu desaparecer com ela e a vender que ainda ganho muito
dinheiro?
-E
achas que eu te deixava sair com ela? E achas mesmo que eu acreditava
que não ias ficar com ela e até ias dormir agarrada a ela?
-Nem
penses nisso, achas que ia perder uma oportunidade de ganhar pelo
menos 50€?
-No
outro dia, leiloei a minha camisola para doar o dinheiro para uma
instituição de caridade e sabes quanto me deram por ela? 500€!
-Tanto
dinheiro por um tecido? Ainda dizem que não há dinheiro! -
Dito isto parou e José pegou na bola e correu em direção à área
oposta, em direção à sua baliza mas Catarina não se deixou
sossegar, deu um “sprint” e cortou a bola de carrinho e começou
a correr em direção à sua baliza.
-Tu
jogas muito...
-Pouco.
-
Acrescentou depois de entrar na grande área, onde precisou apenas de
encostar para marcar o seu golo de vitória.
-Goooooolllllloooooooooooooooooo!
- Gritou
e caiu no chão, cansada mas com um sorriso nos lábios.
-Posso
deitar-me ao pé de ti?
-Deita-te
rapaz! -
Deitaram-se sobre o relvado a olhar o céu. -
Vou fotografar isto! -
Tirou o telemóvel do interior das meias, onde as tinha prendido e
fotografou. -
Vou postar no Instagram mas não te vou identificar como é óbvio,
senão depois chovem-me pedidos para me seguir e já raparigas com
ciúmes, outras a adorarem-me, outras que fazem ambas, por isso é
melhor estar sossegada!
“Pode
mudar de rua, de cidade, ou até de país, pode mudar o tempo e até
a altura em que olhas para o céu, mas seja de noite ou de dia,
haverá sempre algo a acompanhar-te no céu em todas as aventuras!”
Depois de publicar a
fotografia, o telemóvel tocou. Era a sua prima Isabel:
-Sim?
-Mas
afinal estás onde?
-Estou
no estádio, onde haveria de estar?
-Então
onde tiraste a fotografia da lua? E porque razão tive de usar o
tradutor para traduzir o que está lá escrito?
-Porque
sou emigrante no meu próprio país e se escrevesse em valenciano
dava erro! Estou deitada na relva. -
José começou a fazer-lhe cócegas na barriga e tapou o telemóvel
para repreendê-lo. -
Mas tu importaste de estar sossegado, José Gayà?
-José
Gayá? Mas eu deixo-te sozinha um bocadinho e tu já estás deitada
no relvado do Mestalla? E com um jogador do Valência? Ainda por cima
gato!
-Estava
nos corredores, ele apareceu-me à frente e disponibilizou-me ajuda!
-Ia
convidar-te para ires sair comigo, com o Iker e a Alma, mas já vi
que estás melhor acompanhada.
-Queres
ir sair? -
Pousou a mão sobre o telemóvel e perguntou a José.
-Não
posso ir sair para discotecas e assim por causa do meu trabalho, mas
conheço uma gelataria aqui ao pé maravilhosa, podes levar os teus
amigos e vamos lá.
-O
José diz que conhece uma gelataria cá perto, não se importam?
-Mas
já há confiança para tratares pelo primeiro nome?
-Ninguém
me trata por Amorim, por isso não o vou tratar por Gayà.
-Para
o teu padrinho será completamente indiferente ele chamar-se José ou
Gayà, vai ter de falar com ele na mesma, o avô é que vai ficar
muito orgulhoso de ti e vai querer juntar-vos logo!
-Que
casamenteira que tu me saíste, somos amigos, vale?
-Diz
à tua prima para não se demorar que eu quero ir comer um gelado!
-Podes
dizer ai ao teu amiguinho que eu é que estou à vossa espera!
-Arranjem
um quarto meninos! -
Reclamou Catarina. -
Lamento priminha mas ainda pudemos demorar um bocadinho que tenho de
me ir vestir e tenho de ir ver o avô.
-Mandas-nos
arranjar um quarto e mal o conheces-te e já foste para a cama com
ele, ou melhor, para o relvado, diz-me lá, ele é bom naquilo que
faz?
-A
tua imaginação é sem dúvida alguma muito fértil! -
Reclamou sorrindo. -
Eu e o José disputamos um jogo aqui no relvado e não ia jogar de
vestido, por isso ele emprestou-me o equipamento do jogo e ganhei!
-Tu
estás com o equipamento dele? Deixa-me imaginar, e ele jogou com o
teu vestido!
-Quase!
-
Catarina sorriu imaginando.
-Diz
à tua prima que ela queria era ver estas lindas perninhas a correr
pelo relvado, mas isso não vai acontecer!
-Tu
estás a ouvir a conversa José Luís Gayà Peña?
-Sim,
mas não me queria meter, mas pelos vistos, a tua prima tem uma crush
por mim!
-Vai
sonhando! -
Respondeu Isabel. -
Diz ai ao teu amiguinho que mais vale só que mal acompanhado!
-Eu
também tenho namorada e não tenciono perdê-la. -
Não se deixou ficar sem resposta.
-Tens?
-
Perguntaram Isabel e Catarina em coro.
-Não,
mas posso vir a ter. -
Respondeu, tentando provocar Catarina.
-Ai
que alguém quer algo mais! -
Picou Isabel.
-Prima,
daqui a uma hora podes estar aqui?
-Posso
claro, e tu vê lá se não lhe saltas para cima até lá, ou
melhor... Evita que ele te salte para cima até lá.
-Não
me vou meter com nenhum dos Amorim, está descansado!
-Amorim
é português, nós somos Lopéz! -
Respondeu Isabel.
-Está
visto que não partilham de todo a mesma simpatia!
-Mas
esse rapaz só sabe reclamar?
-Vocês
fiquem mas é a falar ao telemóvel enquanto eu vou vestir-me.
-Nem
penses nisso, estou farta de ouvir a voz desse rapaz e ainda nem
fomos comer o nosso gelado! -
Catarina levantou-se em direção ao balneário, deixando a sua prima
a falar com o seu mais recente conhecido.
-Onde
vais? -
Perguntou José agarrando-a no braço, impedindo-a de seguir até aos
balneários, desligando em simultâneo a chamada. -Estávamos
a falar contigo.
-Vou
só mudar de roupa, não demoro.
-Queres
que te vá dar uma toalha e as coisas para tomares banho?
-Deixa
estar, não me fizeste suar assim tanto. -
Sorriu e deu-lhe um beijo na bochecha, fazendo-o corar.
Catarina foi até ao
balneário e tentou não se demorar a vestir-se, embora soube-se que
para os rapazes as raparigas demoravam sempre a despacharem-se a
vestirem-se.
-Voltei!
-
Disse chegando ao banco de suplentes do Valência onde José estava
sentado.
-Até
que enfim, estava farto de esperar por ti! -
Respondeu provocando-a e ambos sorriram, levantou-se do lugar e
aproximou-se da amiga. -
Posso pedir-te uma coisa e tu não me chateias comigo?
-Depende
do que pedires.
-Podes-me
dar o teu número? -
Pediu envergonhado evitando olhá-la nos olhos com vergonha.
-Catarina?
Gayà? Que hacem aquí? -
Perguntou o avô surpreendo-os por completo.
Como irão sair
desta “trapalhada”?
Como correrá o
encontro com a família Lopéz? Será que Catarina vai aceitar?