(José)
Isabel
era uma rapariga como ele nunca conhecera antes e intrigava-o de uma forma
surpreendente e cativava-o como nunca ninguém o tinha cativado antes... À
exceção da sua prima, Catarina. Para si, ainda era estranho e sentia-se culpado
por se interessar por duas primas, embora de formas completamente diferentes.
Catarina, tinha uma aparência linda e cativara a sua atenção desde que trocaram
olhares pela primeira vez, e tinha também uma personalidade bastante
interessante, e ele pensara mesmo que poderia vir a sentir algo mais por ela,
que poderia surgir outro tipo de relação além da amizade, mas desde que
conhecera Isabel que a sua ideia desaparecera, não tinha perdido o interesse
por Catarina, queria conhecê-la e certificar-se que era uma rapariga incrível e
uma excelente pessoa, mas Isabel é que o cativara realmente, era ela que puxava
o seu lado mais selvagem, o lado com a resposta na ponta da língua, com ela,
José conhecia algo que não conhecia e jurara toda a vida não ter, por vezes
ficava até pasmado com as respostas que ouvia da sua boca! Isabel provocava-o
com a sua língua, a forma de vestir, com o que fazia e até com um olhar! E bem
estava na altura de responder à altura da sua provocação... Iria descobrir com
quem ela tinha dormido, ou não se chamava José Luís Gayà Peña! Foi buscar uma
caneta e um papel e apontou o nome de todos os colegas de equipa.
“Diego
Alves, Jaume, Yoel, Barragán, João Cancelo, Mustafi, Orbán, Otamendi, Ruben
Vezo, André Gomes, De Paul, Feghouli, Filipe Augusto, Javi Fuego, Parejo,
Tropi, Negredo, Paco, Piatti, Rodrigo”
Depois
de terminar a lista tentou relembrar-se das palavras de Isabel e acabou por
riscar os que tinha a certeza que não seriam de todo opção: Negredo estava
confirmado, Diego Alves, Javi Fuego, Orbán, Parejo e Barragán, não eram opção,
Piatti e Rúben Vezo eram objeto de possível futuro interesse, por exclusão de partes pode concluir que
Filipe Augusto e Tropi não eram opção, eram demasiado jovens para a experiência
que ela tinha referido, olhando para Feghouli, poderia concluir que não era
“objeto de estudo” de Isabel, e retirou-o da lista, assim como Otamendi, que
afinal também era casado. Jaume e Yoel eram mais velhos que ele, e ela tinha dito
que eram de idades mais próximas, por isso sobravam 6 pessoas! Se fosse Paco
Alcácer, ele iria saber, afinal era o seu melhor amigo. Mustafi seria pouco
possível que o rapaz, que tinha acabado chegar à cidade e pouco ou nada sabia
falar da língua, estivesse na lista de conquistas. Sobravam assim 4 pessoas, e
ele precisava de riscar duas!! Olhou para os nomes: João Cancelo, André Gomes,
Rodrigo De Paul e Rodrigo Moreno. E decidiu pesquisar por cada um deles e
descobriu que João namorara durante algum tempo e o rapaz sofria do problema de
Mustafi, o problema da língua, o que o excluía, que Rodrigo namoravam há já
algum tempo, e era pouco provável que ela se tivesse metido novamente entre
relações sérias, ela estava traumatizada com o que tinha feito, embora sem
querer, a Negredo, mesmo não o admitisse, portanto só poderia ser o André Gomes
e o De Paul! Nem pensou duas vezes, agarrou no papel e foi direito ao sofá onde
ela dormia e acordou-a aos berros:
-Isabel,
Isabel, acorda! - A rapariga ignorou-o e nem se mexeu. - Eu descobri, eu
descobrir com quem dormiste! - Isabel virou a cabeça para o outro lado e
ignorou-o.- Além do Negredo, foi o De Paul e o André Gomes!
A
rapariga sentou-se rapidamente no sofá e olhou-o muito surpreendida.
-Tu
acordaste-me para dizer o nome de dois cromos de colegas teus?
-Acertei
ou não? - Perguntou ansioso.
-Vai
tomar um banho de água fria que isso passa-te, José Luís!
-Diz-me
se acertei ou não!
Isabel
coçou o olho e olhou para o relógio que estava sobre a televisão para ver as
horas.
-É uma
da manhã e tu vens acordar-me para dizer dois nomes! -
Reclamou com a “boa disposição” de quem tinha acabado de acordar. - Mas tu
estás assim tão desejoso de me levar para a cama? Vai dormir, que eu vou fazer
o mesmo! - Puxou novamente a almofada e deitou-se sobre ela.
-Ao
menos vai-te deitar na minha cama!
-E
partilhar a mesma cama que tu depois de descobrires com quem dormi? Querias!
-Eu
durmo no sofá, mas vai-te deitar que isto não te faz bem!
-E faz
bem a ti, queres ver? - Respondeu sem olhar para ele. -
Vai-te deitar e desaparece-me da vista, quero dormir!
-És sempre assim tão rude com o sono?
-Isto
sou eu a ser simpática! - José sorriu.
-Se tu
dormes aqui, eu também durmo! - Puxou uma almofada e deitou-se na ponta
oposta do sofá onde Isabel estava.
-O que
estás a fazer, José Gayà?
-A
comer-te não é! - Respondeu torto e endireitou-se até ficar numa posição que
lhe parecia mais confortável. - Agora esqueci-me de mantas, que bom!
-Se
estavam no sofá quando adormeci, o mais certo é estarem no chão!
José
esticou o braço e chegou até ao chão onde apanhou as mantas, pousou uma sobre o
seu corpo e atirou outra para Isabel
-Tapa-te
Isabel Lopéz!
-És um
bocado chato e betinho, sabias José Gayà? Quero dormir!
-Mulher
na mesa, louca na cama, nunca ouviste dizer?
-José?
-
De repente, o tom dela mudou e ele percebeu que algo mudara.
-Sim,
Isabel?
-Vamos
para a tua cama?
-Tu
queres dormir comigo?
-De
qualquer uma das formas vamos dormir juntos.
José
levantou-se e depois foi a vez de Isabel, caminharam até à cama dele e
deitaram-se debaixo das mantas, e enquanto ela estava virada para o lado onde
ele estava, ele queria dar-lhe “espaço” e acabou por virar-se para o lado
oposto.
-José?
- O rapaz virou-se e ficaram frente a frente, Isabel pousou a
cara e a mão sobre o peito dele. - Obrigada por tudo.
O
silêncio acabou por governá-los durante uns minutos e José quase adormecia quando
acordou novamente com Isabel.
-José?
-Sim?
-Estavas
certo. - José não pressionou de ouvir mais uma única palavra e baixou
a cabeça e deu um beijo na cabeça de Isabel, que aproximou a sua face da dele e
ficaram a milímetros e embora estivesse escuro, sentiam que conseguiam ver-se.
-Beija-me.
-Tens
a certeza?
-Queres
que o faça? - José esperou um sinal de Isabel, que acabou por acontecer
quando ela colocou o seu dedo indicador sobre os lábios dele e ele beijou-a tal
como acontecera horas antes, mas desta vez um beijo completamente diferente,
era luxúria, era carinho, aquele beijo representava tudo menos desejo.
(No
dia seguinte)
-Acorda
dorminhoco! - Isabel aproximou-se de José e atirou-lhe com uma almofada à
cabeça. - Levanta-te que ainda tens de me fazer o pequeno-almoço!
-É
preciso lata! - Respondeu ele sentando-se na cama e abrindo os olhos num
instante. - Tu acordas mais cedo e eu é que ainda tenho de ir fazer o
pequeno-almoço!
-Quem
é a convidada aqui? - Sentou-se com calma e elegância ao lado
dele. - Que eu me lembre é a tua casa!
-Mas
já te serviste de café para estares tão bem-disposta!
-Precisamos
de falar. - José sentou-se direito na cama, bem junto a Isabel.
-Conversas
sérias a esta hora da manhã? Não achas que é demasiado cedo? Devíamos comer
primeiro para os meus neurónios funcionarem de uma forma um pouco melhor.
-Tu
tens neurónios a funcionar nalguma hora do dia?
-Sou
uma pessoa deveras inteligente, sabias?
-Deveras,
é uma palavra muito cara para esta hora do dia, ou não?
-Tens
sempre resposta, és impossível!
-Adoras-me,
José! - Respondeu sorrindo. - Aliás nós não vamos ter uma
conversa, eu vou falar e tu vais-me ouvir silenciosamente e com atenção.
-Não
achas que ainda é cedo para te declarares? Ainda nem tivemos nenhum encontro.
-Eu
não tenho encontros com ninguém. - Respondeu ela. - Agora cala-te e
ouve-me menino beto! - José deixou-a falar, mas com a certeza que no final
lhe iria responder de uma forma implacável. - É verdade que acertaste com
quem dormi, mas achavas que seria assim tão simples?! - Sorriu
provocando-o. - Eu nunca disse que jogava limpo, nunca disse que era de
fiar, eu apenas disse que se acertasses me levavas para a cama, ou melhor
falando, que dormíamos juntos, mas não disse quando, apenas que vai acontecer,
meu querido. - Passou a mão pela bochecha dele. - E depois dá-me
gosto provocar-te para ver até onde me queres, embora eu te queira também! -
Fez uma curta pausa apenas porque ia mudar de assunto. -Depois quero
dizer-te que o que se passou ontem à noite, é para esquecer. Na verdade, não
sei o que me deu... Talvez fosse a ressaca, não sei. Mas vou fazer tudo para
não se voltar a acontecer, está bem? - José engoliu em seco. - Eu não
consigo apaixonar-me e não quero que te apaixones e te magoes, não quero ser
culpada de mais nada, não quero sentir-me culpada de magoar mais alguém, apenas
porque sou demasiado fria.
-Sabes
o que eu acho? Que te fazes de forte e imbatível, mas no fundo sofres e nunca
deixarás de sofrer enquanto não falares com ninguém sobre o que sentes e o que
se passa dentro da tua cabecinha e do teu coração! - José
disse-o de uma forma direta e franca.
-Eu
faço isto não é por mim, é por quem me venha a amar, por quem venha a sentir
algo por mim! - Disse com cara de poucos amigos. - Tu não imaginas o que
é saber que por tua culpa, uma pessoa que amas não pode realizar o seu sonho,
não te passa pela cabeça o que é essa dor!
-Isabel.
-
José abraçou-a e a rapariga manteve-se forte, embora no fundo soubesse que a
sua vontade era chorar até a dor passar.
-Eu
não posso ter filhos. - Disse a chorar.
-Isabel.
-
Abraçou-a. - Tu ainda és muito jovem, tenho a certeza que existe alternativas,
que existe uma solução.
-Não
estás a perceber José, eu simplesmente não posso... Não existe cura, tratamento
ou solução possível. Deste útero nunca sairá um bebé.
-Oh
Isabel, não imaginas o quanto lamento e gostava de ter uma alternativa para ti.
- Dito isto abraçou-a e a rapariga afastou-se
ele.
-É por
isto que eu não gosto de contar a ninguém, odeio que sintam qualquer tipo de
pena de mim, quando eu tenho culpa por nunca ter querido ter filhos!
-Tu
nem ninguém tem culpa. - Hesitou. - Deste teu problema!
-Podes
chamar pelo nome, eu sou infértil!
-Tu não tens culpa nenhuma disso, e não és culpada por nunca ter querido ter
filhos, nem todas as mulheres são iguais!
-Não
tentes ser queridinho para mim, José! Simplesmente não existe uma resposta e
uma forma de não lidar com isto sem ser como o que faço!
-Mas
Isabel...
-Mas
nada, José! Acabou a conversa. Até logo! - Dito isto pegou na sua
mala, no que restava da sua roupa e saiu, deixando para trás as pranchas
esquecidas.
Apanhou
o autocarro e foi para casa, onde se deitou sobre a cama e chorou durante horas
a fio como nunca tinha chorado por causa daquele ou de qualquer outro assunto.
Acabou por adormecer cansada. Quando despertou, agarrou na sua pequena guitarra
e cantou uma canção que talvez a fizesse animar:
“Yeah, you can be the
greatest (Sim, podes ser o maior)
You can be the best (Tu podes ser o melhor)
You can be the king kong
banging on your chest (Podes ter o King Kong a
bater no teu peito)
You can beat the world (Podes vencer o mundo)
You can beat the war (Podes vencer a guerra)
You can talk to God, go
banging on his door (Podes falar com Deus, ir
bater à sua porta)
You can throw your hands up (Tu podes levantar a mão)
You can beat the clock (Podes vencer o relógio)
You can move a mountain (Podes mover uma montanha)
You can break rocks (Podes partir rochas)
You can be a master (Podes ser um mestre)
Don't wait for luck (Não esperes pela sorte)
Dedicate yourself and you
gon' find yourself (Dedica-te e vais
encontrar-te)
Standing in the hall of fame (No hall da fama)
And the world's gonna know
your name (E o nome vai saber o teu nome)
'Cause you burn with the
brightest flame (Porque a tua chama será a mais brilhante)
And the world's gonna know
your name (E o nome vai saber o teu nome)
And you'll be on the walls of
the hall of fame (E o teu nome estará nas paredes do hall da fama)
You can go the distance (Podes ir para a longe)
You can run the mile (Podes correr uma milha)
You can walk straight through
hell with a smile (Podes atravessar o inferno com um sorriso)
You can be the hero (Podes ser um herói)
You can get the gold (Podes conseguir o ouro)
Breaking all the records (Quebrar todos os recordes)
They thought never could be
broke (Que disseram nunca poderiam quebrar)
Do it for your people (Fá-lo pelas tuas pessoas)
Do it for your pride (Fá-lo pelo teu orgulho)
Never gonna know if you never
even try (Nunca saberás se nunca tentares)
Do it for your country (Fá-lo pelo teu país)
Do it for you name (Fá-lo pelo teu nome)
'Cause there's gonna be a day
when you're (Porque haverá um dia em que estarás)
Standing in the hall of fame (No hall da fama)
(...)
Be a champion (Sê um campeão)
Be a champion
Be a champion
Be a champion
On the walls of the hall of fame (Nas paredes do hall da fama)
Be students (Sê um estudante)
Be teachers (Sê professor)
Be politicians (Sê político)
Be preachers (Sê pregador)
Be believers (Sê crente)
Be leaders (Sê líder)
Be astronauts (Sê astronauta)
Be champions (Sê campeão)
Be truth seekers (Sê aqueles que procuram a verdade)
(…) ”
Isabel
detestava demonstrar o lado fraco, o lado que escondia de todos, não gostava de
dizer que não podia ter filhos biológicos, porque detestava que sentissem pena
dela, Isabel queria ser vista como alguém forte e imbatível, mas com José parecia
que já algumas barreiras tinham sido quebradas... Limpou as lágrimas e foi
tomar um banho, até ouvir a campainha tocar, enrolou-se na toalha e foi até à
porta, onde abriu.
-Que
fazes aqui? - Perguntou rudemente.
-Vim
entregar as tuas pranchas, acho que te fariam falta. -
Pegou nas pranchas e pousou ao lado da porta.
-Então
pronto, já te podes ir embora.
-Não
queres falar?
-Estamos
a falar.
-Vou
entrar. - Entrou para o interior da casa e seguiu até à sala.
-Mas
chegas aqui e é tudo teu, jovem rapaz?
-Sou
mais velho que tu Isabel, exijo respeito!
-E eu
exijo que te ponhas a andar daqui para fora!
-Eu
também exijo e quero muita coisa, e não tenho por isso vais sentar e ouvir-me!
-Para
quem tem ar de santo, és muito mandão!
-Só
quero que me oiças. - Sentou-se no sofá e ela sentou-se ao
lado dele.
-Estou
a ouvir-te.
-Vais
ouvir-me assim... Vestida?
-Quando
me vires despida, garanto-te que não vais falar, mas vais gritar!
-Para
alguém que dizia que eu não era o estilo de rapaz, e que era demasiado beto e
só era bom para raparigas sem experiência, estás muito entusiasmada por ter
algo comigo.
-Deves-me
isso.
-Desculpa?
- Riu-se. - Nós apostamos que se eu adivinhasse com que
colegas de equipa te tinhas envolvido, que me davas uma boa noite, ou pelo
contrário, uma má noite, e que eu saiba consegui descobrir quem eram.
-E
então? Eu já te disse que é quando eu quiser.
-E se
eu quiser agora?
-Depende
da minha vontade.
-E
qual é a tua vontade?
-É
comer-te. - José olhou para ela chocado, estava à espera que ela desse
desculpas e inventasse, mas ela havia sido direta e quem saberia franca, ele
levantou-se e ela também.
- Ok,
vamos com calma sim?
Isabel
agarrou-o e beijou-o, ignorando por completo o pedido dele.
Será
que os dois vão mesmo chegar a vias de facto?
Ou será
que José vai acabar por desistir da ideia? Ou Isabel?
E será que vão ambos
gostar? Como será a relação destes dois daqui para a frente?