Catarina
tinha o coração dividido. Por um lado, a família mais próxima, do
outro lado, estava a família com quem não tinha tanta ligação,
mas continuavam a ser sangue do seu sangue. Deixava para trás a mãe
e a irmã de quem era tão próxima e amava tanto, a cidade onde
nascera e sempre crescera, deixava também para trás os amigos, que
acompanharam a sua vida desde sempre. Vivera toda a sua (ainda curta)
vida em Lisboa, eram apenas dezoito anos mas cheio de momentos
inesquecíveis, tanto pela positiva como pela negativa. O que a fazia
aceitar e encarar a mudança de uma forma positiva, era o facto de
estar num país onde também pertencia e que acarinhava, afinal
também era espanhola e a sua família materna vivia em Valência, e
era também a cidade que vira nascer a mãe e que agora a acolhia,
era uma mudança e iria encará-la de cabeça erguida, era uma
aventura nova e só poderia ser encará-la pela positiva. Sabia que
iria frequentar a faculdade no curso que ambicionava desde que se
recordava, que era o curso que sentia que a descrevia, mas também
era uma língua com a qual não se sentia completamente à vontade.
Também não iria acordar com o despertar da mãe ou preparar uma
partida diária matinal à irmã, mas tinha de se habituar à ideia.
Eram só três anos, depois poderia regressar a Lisboa, mas até lá
prometera a si mesma que iria acabar o curso no “país vizinho”,
mas que afinal também era seu.
O
avião aterrou e esperou até ser a última pessoa a levantar-se do
seu lugar, pegar nas suas malas e percorrer o caminho até à porta
do avião e assim que saiu, deparou-se com o sol brilhante típico de
um dia de Agosto, respirou fundo, bem fundo e desceu as escadas para
entrar no autocarro. Depois de chegar ao aeroporto, esperou alguns
minutos para receber as suas malas e ir até à saída do mesmo,
chamou um táxi e indicou a morada ao taxista e apesar de ter sido
uma viagem de um pouco menos de vinte minutos, chegou para fazê-la
recordar do cheiro típico da cidade, de alguns lugares que já tinha
visitado e das memórias que lhe traziam. Quando chegou pagou ao
taxista e olhou para a vivenda que iria ser o seu novo lar. Os seus
avôs tinham mudado recentemente de casa e ela ainda não a conhecia
mas estava ansiosa por fazê-lo. Era uma zona de vivendas e a dos
avós parecia uma das mais nobres daquela zona. Era uma vivenda com
dois andares e com uma bonita vista para o Mar Mediterrâneo, com um
jardim exterior bastante espaçoso que rodeava a casa e possivelmente
tinha também uma piscina, o que era excelente para os dias de Verão
que ainda se viviam.
Abriu
o pequeno portão da vivenda e subiu a pequena escadaria até à
porta da vivenda e esperou apenas alguns segundos para o avô vir
abrir-lhe a porta:
-Catarina!
-
O avô abraçou-a, mostrando-se surpreso pela chegada da sua neta. -
Que haces aquí? Tu madre nos dijo que sólo llegavas mañana. (Que
fazes aqui? A tua mãe disse-nos que só chegavas amanhã.)
Catarina assimilou
logo as palavras em valenciano e traduziu, na sua cabeça, para
português, mas sabia que tinha de se habituar a pensar naquela
língua, mas sentia que iria ainda demorar algum tempo mas teria de
começar a fazê-lo. Sempre falara em português com o pai, e quando
este falecera defendia ainda mais esta língua, ao contrário da irmã
que falava só na língua do país da sua mãe, talvez porque era
bastante mais próxima desta, e com elas falava em português, mesmo
que elas lhe respondessem na outra língua, mas desde sempre que a
mãe lhes incutira que ao fim de semana era obrigatório falarem a
língua da sua terra Natal, e desde que decidira ir para Valência
que se tornara quase obrigatório falar apenas naquela língua.
-Quis
fazer-vos uma surpresa então vim mais cedo.
-Catarina!
-
A avó aproximou-se da porta onde estava a neta e abraçou-a. -
Estás tão magrinha! A tua mãe não anda a alimentar-te bem, mas
deixa que eu vou já preparar-te um almoçinho para ganhares os
quilinhos que perdeste! Lá em Lisboa deve-se comer muito mal!
-Avó,
está descansada que eu ando bem alimentada, com o Verão é que
emagreço sempre porque não me apetece comer nada durante o dia.
-Só
me pergunto como é que a tua mãe deixa, tu sempre foste mais forte
que a tua irmã. Nem quero imaginar como está a Camila.
-Maria,
deixa a rapariga em paz! -
Queixou-se o avô Pablo. -
Mal
chegou e já lhe chamaste gorda e magra, deixa-a ao menos ir pousar
as malas e apresentar a casa.
-E
tu que não dissesses nada, Pablo. -
Mesmo com o passar dos anos a relação dos seus avôs não mudava e
isso caracterizava-os, não conseguiu esconder o sorriso tímido. -
Vai mostrar a casa à nossa neta, enquanto eu vou acabar de preparar
a paella.
-De
quê, avó?
-Marisco.
-Tens
de preparar outra coisa para a nossa neta, ela é alérgica ao
marisco, ou não te lembras, mulher?
-Estava
a testar a tua atenção, Pablo! Achas que estou a fazer paella?
Ainda por cima de marisco? -
Dito isto saiu da porta de sua casa e foi para a cozinha. Pablo pegou
nas malas da neta e coloca-as na entrada de sua casa.
-Minha
filha não precisavas de trazer tantas coisas, sabes que eu e a tua
avó te vamos dar tudo quanto pudermos e cá também tens tudo o que
tens em Lisboa, emigraste mas não foi para o Alasca.
-Só
trouxe o mais importante avô. São apenas 7 malas, é pouco para
quem vem viver em definitivo para aqui!
-A
tua avó já te comprou bastantes roupas, e outras coisinhas, por
isso até podias vir com as roupas que tens no corpo! Vamos lá
mostrar-te a casa, antes que a tua avó comece a reclamar. -
Apresentou-se inicialmente o primeiro andar da vivenda onde havia uma
pequena sala, um escritório para o avô trabalhar, uma casa de banho
e o quarto dos avôs, e de seguida desceram até ao andar inferior
onde havia a sala de jantar, a sala de estar, a cozinha e o quarto
onde iria ficar, no qual ambos os avôs já o haviam decorado.
-Não
sabíamos bem como querias o quarto por isso, optamos por cores
neutras e simples, à exceção do roxo porque a tua avó dizia que
tinhas de ter algo feminino. E como é óbvio, eu também decidi,
mandar emoldurar a camisola desta época do nosso querido Valência!
Só não te fiz sócia porque estou à espera de levar-te ao estádio
e tu própria me pedires, ainda por cima, contrataram agora alguns
portugueses, querida!
-Mas
já estás a chatear a tua neta por causa do futebol? Deixa a
rapariga descansar um pouco, o mais provável é ela não ligar a
isso de serem vinte e dois homens a correr atrás de uma bola e a
ganhar milhões de euros.
-Na
realidade, amo futebol, avó. Sou sócia do Benfica, desde que nasci,
assim como a minha irmã, até o pai morrer íamos ver todos os jogos
ao estádio. O Valência sinceramente não acompanho, e não vou
fazer-me sócia, afinal só tenho um clube no meu coração, o
Benfica, mas posso acompanhar o avô a todos os jogos no Mestalla!
-Esta
é a minha neta a falar! -
Abraçou-a e deu-lhe um beijo na testa. -
Contratamos o André Gomes e o Rodrigo que eram titulares no Benfica,
e fomos também buscar um miúdo da formação, acho que se chama
Cancela!
-João
Cancelo, avô! -
Corrigiu e ambos sorriram com aquela correção, claro que a neta
sabia disso mas deixou o avô ficar orgulhoso porque assim
partilhavam algo em relação aos seus clubes. -Mas
como eu sabia que o avô me ia dar algo do Valência, aproveitei e
trouxe-lhe uma camisola do Benfica e uma bandeirinha para pôr na
janela do meu quarto, não se importam?
-Claro
que não minha filha! -
Disse o avô. Catarina foi até à sua mala e tirou de lá a camisola
e deu ao avô, pendurou a bandeira à sua janela e com o olhar
persistente da avó, acabou por ir até à mala e tirar de lá a sua
prenda. Uma manta bordada pela sua mãe com o nome dela.
-A
tua mãe é uma tonta! Não era preciso! -
Pousaram todas as prendas, e foram até à cozinha onde almoçaram
alegremente, embora com alguma dificuldade de Catarina em dizer
algumas palavras. -
Não estávamos à espera da tua vinda hoje, mas arranjamos
facilmente planos! Que achas de irmos dar uma voltinha pela cidade
hoje, e amanhã mostramos-lhe a surpresa?
-E
tu aguentas até amanhã?
-Claro
que sim, ou não me chamo Maria!
-Que
é que vocês andam a tramar?
-Nada.
Come que é para ver se engordas que estás a precisar, Catarina!
-Já
acabei o meu prato e estou a repeti-lo, preciso de acabá-lo? Não é
normal eu comer tanto!
-É
preciso sim senhora, ainda vais crescer mais e precisas de te
alimentar como deve de ser, acabaste de fazer dezoito anos!
-Está
bem, mas aviso já que não vou comer sobremesa!
-Já
tivemos a conversar melhor! -
Disse o avô. -
Despacha-te lá que há noite vem a família toda cá jantar e
precisamos de preparar o jantar.
-Diz
antes, a minha mulher preparar o jantar! -
Respondeu Maria.
-Eu
dou apoio mural. -
Catarina sorriu, era incrível como continuavam unidos e próximos, e
sempre com o mesmo feitio mesmo após cinquenta anos de casamento.
Quando terminou foi pousar o prato e o copo no lava-loiça e pegar na
pequena mala onde tinha a carteira, o telemóvel, uma pequena agenda
e pouco mais.
-Então
vamos?
-Claro
que sim, anda Maria.
-Vão
vocês. Tenho montes de coisas para fazer.
-Tens
a certeza?
-Tenho,
vão lá!
Foram
até à garagem e Catarina reparou nos dois carros que havia no seu
interior, estranhou até porque a avó não tinha carta de condução.
-Escusas
de olhar para o carro, é mesmo para ti.
-Para
mim? Não acredito que compraram um carro para mim, avô! Não era
preciso, muito obrigada! -
Abraçou o avô e deu-lhe um beijo.
-Queres
dar uma volta no teu novo carrinho?
-Deixa
estar avô, vamos no teu.
-Então
vamos meu amor. -
Entraram para o interior do carro e o avô ligou o carro. -
Queres começar por algum sítio em especial?
-Não,
mas acho que o último sítio devia ser o Mestalla, porque de certeza
que nos vamos demorar.
-Tens
razão. -
Abriu o portão da garagem e partiram em direção ao centro da
cidade e passaram por locais belíssimos. Catarina visitava a cidade
todos os verões mas recordar era sempre bom, afinal aquela era a
cidade que a iria acolher nos próximos anos, era a cidade que iria
visitar e ter de conhecer para não se perder e para puder usufruir
de um local que também era seu, apesar de não o ser. -Vamos
só passar à porta dos locais, mas não vamos sair está bem? A
partir de amanhã, vamos começar a conhecer a cidade e a explorá-la,
hoje é só para reconheceres os sítios, exceto claro o Mestalla.
-No
Verão vais comigo a Lisboa para conheceres a Luz, e nem vale a pena
discutir! A grandeza do Benfica supera a do Valência.
-São
sentimentos completamente distintos, só depois de viveres um jogo no
Mestalla é que pudemos comparar, e claro eu teria de conhecer a Luz
e o Benfica.
-Este
é talvez a Catedral de Valência, certo?
-Sim
é, e bastante bonita por dentro, mas por fora, é lindíssima.
-Apresento-te
o maior ponto turístico, depois do Mestalla é claro, Ciudad de Las
Artes y Las Ciencias.
-É
enorme! Parece ser tão bonito.
-Lindíssimo,
amanhã trago-te cá.
-Que
é aquilo avô?
-Oceanográphic.
-Tem
parecenças com aquele monumento em Sydney.
-Mas
tem objetivos completamente diferentes, meu bem.
-Acredito,
mas a partir de amanhã vou conhecer estes monumentos como se fosse
de cá.
-Apesar
de teres nascido em Lisboa, e teres Portugal no teu coração, tu
também és espanhola, e és descendente de valencianos, tens raízes
cá, por isso também
és
de cá.
-E
por último hoje, apresento-te o Mercat Central. E é melhor
deixarmos o Mestalla para amanhã que se nos atrasarmos para o
jantar, ninguém atura mais a tua avó!
-Vocês
são o casal mais fofo que conheci até hoje.
-Obrigada
Catarina! -
Passou a mão sobre a perna dela. -
Sei que já és crescida e provavelmente já não queres saber dos
velhos dos teus avôs, só queres explorar a cidade e fazer amigos
novos, que provavelmente vais aproveitar a faculdade para saíres com
eles, mas também para conheceres a cidade e viveres aventuras novas,
estás na idade certa para o fazeres, e não te censuro. Mas eu e a
tua avó não cuidamos há muito tempo de uma pessoa, a tua mãe e os
teus tios já são independentes há muitos anos e temos sido só eu
e a tua avó, por isso peço-te para teres paciência connosco, não
fazemos as coisas mal por hábito ou por não querermos, apenas por
desábito.
-Oh
avô! -
Deu-lhe um beijo na bochecha enquanto ele não tirava os olhos da
estrada, não podia, estava no centro da cidade e qualquer descuido
era o suficiente para provocar um acidente, mesmo que fosse ao
domingo. -Vim
para Valência porque afinal também sou espanhola, em especial
valenciana, e acabei de fazer 18 anos, tenho de aproveitar para
conhecer onde também pertenço, para me aproximar da minha família
materna, está na altura de viver experiências novas, e por isso
decidi vir para cá, acredita que quero dar tudo menos trabalho.
Desde os meus dezasseis anos que comecei a trabalhar e estudar, não
sei o que é sair à noite para me divertir, apenas sair para ir
trabalhar e não me arrependo, afinal sempre consegui ajudar a pagar
as minhas contas, a crescer física e mentalmente e a organizar-me.
Vou ser estudante universitária, mas não sei e nem quero saber qual
é esse espírito. Prefiro ficar em casa com a minha família e só
sair algumas vezes com os meus novos amigos para sítios que não
conheço e quero conhecer do que embebedar-me e não me lembrar de
nada no dia a seguir, e não levantar a cabeça, tamanha a quantidade
de álcool que bebi. Sou daquelas pessoas que gosta de estar em casa,
de aproveitar para descansar e escrever, para pesquisar e aproveitar
com a família e até com uns amigos próximos de mim, mas não o vou
fazer, afinal é a casa dos avós e não vou fazer isso, e mal possa
vou arranjar um trabalhinho para mim que me dê para conciliar com a
faculdade.
-Meu
bem, a nossa casa é a tua casa, e quero que a vejas como tal e não
precisas de arranjar trabalho, felizmente não passamos dificuldades
e podes pedir todo o dinheiro que quiseres a mim ou à tua avó.
-Não
quero chatear.
-Incomodas
é se não o fizeres.
-Obrigada
avô.
-De
nada neta.
Passado
algum tempo estacionaram o carro na garagem da vivenda e entraram
para casa, foram até à sala onde estavam sentados os seus tios
Sofia e o seu marido Joaquín, e o seu tio Carlos, com a sua esposa
Ana, falavam alegremente entre todos e ficaram incrivelmente
surpreendidos quando a viram.
-Mi
pequeña! (Minha
pequena)
-
Disse a tia Sofia, que era também a sua madrinha e abraçou
fortemente. -
Que haces aqui? Tu abuela nos dijo que sólo chegavas mañana! (Que
fazes aqui? A tua avó disse-nos que só chegavas amanhã!)
-
Deu-lhe um beijo na testa.
-Decidi
vir mais cedo e preparar uma surpresa a todos.
-O
teu espanhol já teve melhores dias, aposto que a tua mãe nunca te
cultivou a língua.
-Se
dependesse da minha mãe e da minha irmã só falávamos valenciano,
mas acabei por negociar e durante a semana falávamos português
porque estávamos rodeados da língua, e aos fins-de-semana falávamos
valenciano. No início do Verão decidi vir para cá, por isso
passamos o Verão inteiro a falar valenciano para não me sentir
completamente estrangeira no país que também é meu.
-Mas
já tiveste dias melhores.
-Sim,
mas toda a minha vida falei português na escola e na rua, agora
tenho de me habituar a falar e a pensar noutro idioma.
-Podias
pensar em valenciano e falar em português.
-Nunca
me habituei, normalmente eu até falava em português com o meu pai e
a minha mãe e irmã em valenciano.
-Agora
tens de te habituar, afilhada. E que se passou contigo? A última vez
que te vi não tinhas corpo nenhum e agora já és uma mulherzinha
com peito e com rabiosque!
-Cresci
bastante no último ano, madrinha.
-A
tua mãe acha que ela está mais magra e quer fazê-la comer até
enfartar, achas normal? -
Perguntou o avô.
-Para
a mãe estamos sempre magros. -
Respondeu.
-Larga
a minha afilhada que também a quero cumprimentar. -
Pediu o tio Carlos. -
E antes de alguma coisa quero saber como correu a viagem, dizer-te
que estás excelente como estás, aposto que não tarda até
apareceres com namorado em casa, mas ele primeiro tem de passar aqui
pelo tio e padrinho Carlos para conversarmos.
-Despachem-se
com a conversa que a Catarina ainda não conhece o Mestalla e hoje
ainda a quero levar lá! -
Queixou-se o avô. -
E não vale a pena dizeres que estás cansada, sabes tão bem quanto
eu que tem de ser hoje.
-Catarina
vai chamar os teus primos à sala lá em cima que o jantar já está
pronto.
A
rapariga subiu as escadas que separavam o andar de baixo do andar
superior e começou logo a ouvir os barulhos típicos dos seus
primos. A sua prima Isabel, com a mesma idade, a irmã dela, com
idade da sua irmã Camila, Alma e os seus primos gémeos com seis
anos, Javier e Juan.
-Olá
meninos! -
Dito isto baixou-se e preparou para receber um abraço dos seus
primos mais pequenos. -Como
estão os meus pequenos?
-Estamos
enormes! -
Respondeu o mais irrequieto de ambos, Javier. -
Tu é que estás muito pequena, nunca vais crescer?
-Acho
que já não vou crescer mais, meu bem.
-Nós
gostamos de ti pequenina na mesma, mas não podes namorar um rapaz
muito alto prima! -
Disse Juan, o gémeo mais calmo.
-Tu,
o teu irmão e o teu pai são muito casamenteiros!
-Por falar em casamentos, apresento-te o meu namorado, Iker . Iker, é a minha prima mais velha, e também mais portuguesa, Catarina. - Apresentou Alma, a sua prima mais nova.
-Por falar em casamentos, apresento-te o meu namorado, Iker . Iker, é a minha prima mais velha, e também mais portuguesa, Catarina. - Apresentou Alma, a sua prima mais nova.
-Senão
cuidas da minha prima, mais tarde sou eu que cuido de ti. -
Disse em tom de ameaça.
-Catarina!
-
Repreendeu.
-É
verdade, ele até pode ser giro, mas senão trata bem de ti, eu
depois trato-lhe da saúde! Mas antes disso vamos jantar que estou
cheia de fome!
-Mas
antes de mais, quero fazer-te um convite. Ou melhor quero informar-te
que daqui a três dias vou fazer uma festa de aniversário para
comemorar a minha maioridade. -
Pediu Isabel, a prima mais velha. Catarina e Camila tinham exatamente
as mesmas idades das primas Isabel e Alma.
-Festa?
Já me esquecia que fazes anos!
-Sim,
faço 18, daqui a três dias já sou maior de idade oficialmente.
-Fica
tudo na mesma. -
Disse Catarina, tentando revelar o seu ponto de vista. -Só
muda depois de deixares de depender dos teus pais. Eu estou longe da
minha mãe mas ela continua a saber tudo de mim, e a mandar-me
dinheiro e também estou a viver casa com os meus avôs, por isso,
ainda não sei realmente o que é isso de ser maior de idade.
-Mas
eu vou saber, estejam descansadas. -
Respondeu Isabel, e embora insinuasse algo mais, ninguém lhe
respondeu e foram jantar.
(*******)
-Mas
é assim tão importante? Sim, entendo perfeitamente, mas podia ser
algo facilmente tratado de casa ou amanhã de manhã, é que sabe,
estou num jantar de família. Compreendo perfeitamente, vou-me pôr
já a caminho. -
Dito isto desligou a chamada. -
Desculpem família, mas tenho mesmo de ir embora, houve um problema e
tenho de ir agora resolvê-lo e não sei a que horas volto. Queres ir
comigo ao Mestalla, Catarina?
-Porque
me queres levar, avô?
-Quero
que conheças o estádio filha, depois eu peço a alguém para te
trazer a casa.
-E
não vou causar problemas?
-Claro
que não meu bem, anda lá.
-Depois
nós vamos buscar-te para irmos sair Catarina! -
Disse Isabel. -
Mas primeiro vai mudar de roupa, nem penses que vais sair comigo
assim vestida!
-Que
tem?
-Isso
não é roupa para sair à noite!
-Então
vou vestir um vestido, mas nem penses que vou maquilhar-me. Nem
vestir um vestido muito curto!
-Está
bem, depois de umas saídas comigo essas ideias passam-te!
-Mas
despacha-te por favor! -
Pediu o avô. Catarina foi até ao seu quarto e escolheu um vestido
que usava às vezes e um casaco castanho simples, uns sapatos rasos
castanhos, para condizer com o casaco castanho. Tinha também uma
pequena mala castanha onde iria guardar as suas chaves, o telemóvel
e a carteira.
-Já
estou pronta. -
Chegou novamente à sala e deu dois beijos à avó e mandou beijos
para o ar, em simbolismo de mandar beijos para todos. Foram até ao
carro e começaram a viagem até ao estádio. -Oh
avô mas afinal que é que tu fazes lá no Valência?
-Sou
o responsável máximo pelas finanças do clube, e sabes que com a
compra ou não do clube pelo Peter Lim, com este impasse nunca
pudemos fazer grandes planos e de vez em quando aparecem umas
notícias que nos fazem mexer muito.
-Nunca
gostei muito dessa ideia de um clube ter um dono, ou melhor, um
investidor.
-Também
não acho que seja bom, mas talvez dê um novo rumo ao clube, nos
leve de volta às competições europeias e nos faça campeões,
apesar de saber que é muito difícil.
-O
Atlético de Madrid, o Barcelona e o Real Madrid são clubes muito
bons, avô.
-Eu
sei, mas deixa-me ter a minha esperança está bem?
-Eu
deixo, esta época estou a torcer pelo Valência.
-Tenho
muito orgulho em ti. -
Estacionou o carro na garagem do estádio. -
Meu amor, vou-te deixar a chave do carro queiras ir para algum lado,
mas se quiseres ir conhecer o estádio, é entrares por aquela porta.
-
Apontou. -
Procura um segurança e ele ajuda-te.
-Está
bem, obrigada avô. -
Deu-lhe um beijo. -
Vai lá, eu cá me desenrasco. -
O avô foi embora do carro e a rapariga saiu também, foi até à
porta que o avô lhe tinha indicado e ao contrário do que ele
recomendara, não procurou o segurança mas quis começar a procurar
por ela própria e tinha permissão. O avô dera-lhe uma
identificação, bastava andar com ela exposta que poderia visitar
qualquer lugar do estádio e distraída entre pensamentos (em
português!) acabou por chocar com um rapaz num dos (pareciam-lhe)
infinitos corredores.
-Perdonáme!
-
Disse o rapaz tentando averiguar se estava tudo bem consigo e com a
rapariga.
-Estás
bem? -
Perguntou ela claramente preocupada.
-Estou
ótimo e tu?
-Também,
parece que encontrei alguém tão distraído como eu! -
Riram-se.-Estou
completamente perdida no meio deste estádio, parece que os
corredores são infinitos!
-São
muitos corredores para quem não conhece, mas já agora, como te
chamas?
-Catarina
Amorim e tu?
-Portuguesa?
-A
minha mãe nasceu aqui, o meu pai nasceu em Portugal, mas eu nasci em
Lisboa, por isso tenho ambas as nacionalidades, mas e tu como te
chamas?
Quem
será o rapaz com quem ela se cruzou nos corredores do estádio?
Será
que ela vai aceitar ir à festa da prima? Como será a adaptação à
cidade?