quarta-feira, 27 de maio de 2015

Capítulo 1 "Catarina, que haces aqui?"


Catarina tinha o coração dividido. Por um lado, a família mais próxima, do outro lado, estava a família com quem não tinha tanta ligação, mas continuavam a ser sangue do seu sangue. Deixava para trás a mãe e a irmã de quem era tão próxima e amava tanto, a cidade onde nascera e sempre crescera, deixava também para trás os amigos, que acompanharam a sua vida desde sempre. Vivera toda a sua (ainda curta) vida em Lisboa, eram apenas dezoito anos mas cheio de momentos inesquecíveis, tanto pela positiva como pela negativa. O que a fazia aceitar e encarar a mudança de uma forma positiva, era o facto de estar num país onde também pertencia e que acarinhava, afinal também era espanhola e a sua família materna vivia em Valência, e era também a cidade que vira nascer a mãe e que agora a acolhia, era uma mudança e iria encará-la de cabeça erguida, era uma aventura nova e só poderia ser encará-la pela positiva. Sabia que iria frequentar a faculdade no curso que ambicionava desde que se recordava, que era o curso que sentia que a descrevia, mas também era uma língua com a qual não se sentia completamente à vontade. Também não iria acordar com o despertar da mãe ou preparar uma partida diária matinal à irmã, mas tinha de se habituar à ideia. Eram só três anos, depois poderia regressar a Lisboa, mas até lá prometera a si mesma que iria acabar o curso no “país vizinho”, mas que afinal também era seu.
O avião aterrou e esperou até ser a última pessoa a levantar-se do seu lugar, pegar nas suas malas e percorrer o caminho até à porta do avião e assim que saiu, deparou-se com o sol brilhante típico de um dia de Agosto, respirou fundo, bem fundo e desceu as escadas para entrar no autocarro. Depois de chegar ao aeroporto, esperou alguns minutos para receber as suas malas e ir até à saída do mesmo, chamou um táxi e indicou a morada ao taxista e apesar de ter sido uma viagem de um pouco menos de vinte minutos, chegou para fazê-la recordar do cheiro típico da cidade, de alguns lugares que já tinha visitado e das memórias que lhe traziam. Quando chegou pagou ao taxista e olhou para a vivenda que iria ser o seu novo lar. Os seus avôs tinham mudado recentemente de casa e ela ainda não a conhecia mas estava ansiosa por fazê-lo. Era uma zona de vivendas e a dos avós parecia uma das mais nobres daquela zona. Era uma vivenda com dois andares e com uma bonita vista para o Mar Mediterrâneo, com um jardim exterior bastante espaçoso que rodeava a casa e possivelmente tinha também uma piscina, o que era excelente para os dias de Verão que ainda se viviam.
Abriu o pequeno portão da vivenda e subiu a pequena escadaria até à porta da vivenda e esperou apenas alguns segundos para o avô vir abrir-lhe a porta:
-Catarina! - O avô abraçou-a, mostrando-se surpreso pela chegada da sua neta. - Que haces aquí? Tu madre nos dijo que sólo llegavas mañana. (Que fazes aqui? A tua mãe disse-nos que só chegavas amanhã.)
Catarina assimilou logo as palavras em valenciano e traduziu, na sua cabeça, para português, mas sabia que tinha de se habituar a pensar naquela língua, mas sentia que iria ainda demorar algum tempo mas teria de começar a fazê-lo. Sempre falara em português com o pai, e quando este falecera defendia ainda mais esta língua, ao contrário da irmã que falava só na língua do país da sua mãe, talvez porque era bastante mais próxima desta, e com elas falava em português, mesmo que elas lhe respondessem na outra língua, mas desde sempre que a mãe lhes incutira que ao fim de semana era obrigatório falarem a língua da sua terra Natal, e desde que decidira ir para Valência que se tornara quase obrigatório falar apenas naquela língua.
-Quis fazer-vos uma surpresa então vim mais cedo.
-Catarina! - A avó aproximou-se da porta onde estava a neta e abraçou-a. - Estás tão magrinha! A tua mãe não anda a alimentar-te bem, mas deixa que eu vou já preparar-te um almoçinho para ganhares os quilinhos que perdeste! Lá em Lisboa deve-se comer muito mal!
-Avó, está descansada que eu ando bem alimentada, com o Verão é que emagreço sempre porque não me apetece comer nada durante o dia.
-Só me pergunto como é que a tua mãe deixa, tu sempre foste mais forte que a tua irmã. Nem quero imaginar como está a Camila.
-Maria, deixa a rapariga em paz! - Queixou-se o avô Pablo. - Mal chegou e já lhe chamaste gorda e magra, deixa-a ao menos ir pousar as malas e apresentar a casa.
-E tu que não dissesses nada, Pablo. - Mesmo com o passar dos anos a relação dos seus avôs não mudava e isso caracterizava-os, não conseguiu esconder o sorriso tímido. - Vai mostrar a casa à nossa neta, enquanto eu vou acabar de preparar a paella.
-De quê, avó?
-Marisco.
-Tens de preparar outra coisa para a nossa neta, ela é alérgica ao marisco, ou não te lembras, mulher?
-Estava a testar a tua atenção, Pablo! Achas que estou a fazer paella? Ainda por cima de marisco? - Dito isto saiu da porta de sua casa e foi para a cozinha. Pablo pegou nas malas da neta e coloca-as na entrada de sua casa.
-Minha filha não precisavas de trazer tantas coisas, sabes que eu e a tua avó te vamos dar tudo quanto pudermos e cá também tens tudo o que tens em Lisboa, emigraste mas não foi para o Alasca.
-Só trouxe o mais importante avô. São apenas 7 malas, é pouco para quem vem viver em definitivo para aqui!
-A tua avó já te comprou bastantes roupas, e outras coisinhas, por isso até podias vir com as roupas que tens no corpo! Vamos lá mostrar-te a casa, antes que a tua avó comece a reclamar. - Apresentou-se inicialmente o primeiro andar da vivenda onde havia uma pequena sala, um escritório para o avô trabalhar, uma casa de banho e o quarto dos avôs, e de seguida desceram até ao andar inferior onde havia a sala de jantar, a sala de estar, a cozinha e o quarto onde iria ficar, no qual ambos os avôs já o haviam decorado.



-Não sabíamos bem como querias o quarto por isso, optamos por cores neutras e simples, à exceção do roxo porque a tua avó dizia que tinhas de ter algo feminino. E como é óbvio, eu também decidi, mandar emoldurar a camisola desta época do nosso querido Valência! Só não te fiz sócia porque estou à espera de levar-te ao estádio e tu própria me pedires, ainda por cima, contrataram agora alguns portugueses, querida!
-Mas já estás a chatear a tua neta por causa do futebol? Deixa a rapariga descansar um pouco, o mais provável é ela não ligar a isso de serem vinte e dois homens a correr atrás de uma bola e a ganhar milhões de euros.
-Na realidade, amo futebol, avó. Sou sócia do Benfica, desde que nasci, assim como a minha irmã, até o pai morrer íamos ver todos os jogos ao estádio. O Valência sinceramente não acompanho, e não vou fazer-me sócia, afinal só tenho um clube no meu coração, o Benfica, mas posso acompanhar o avô a todos os jogos no Mestalla!
-Esta é a minha neta a falar! - Abraçou-a e deu-lhe um beijo na testa. - Contratamos o André Gomes e o Rodrigo que eram titulares no Benfica, e fomos também buscar um miúdo da formação, acho que se chama Cancela!
-João Cancelo, avô! - Corrigiu e ambos sorriram com aquela correção, claro que a neta sabia disso mas deixou o avô ficar orgulhoso porque assim partilhavam algo em relação aos seus clubes. -Mas como eu sabia que o avô me ia dar algo do Valência, aproveitei e trouxe-lhe uma camisola do Benfica e uma bandeirinha para pôr na janela do meu quarto, não se importam?
-Claro que não minha filha! - Disse o avô. Catarina foi até à sua mala e tirou de lá a camisola e deu ao avô, pendurou a bandeira à sua janela e com o olhar persistente da avó, acabou por ir até à mala e tirar de lá a sua prenda. Uma manta bordada pela sua mãe com o nome dela.
-A tua mãe é uma tonta! Não era preciso! - Pousaram todas as prendas, e foram até à cozinha onde almoçaram alegremente, embora com alguma dificuldade de Catarina em dizer algumas palavras. - Não estávamos à espera da tua vinda hoje, mas arranjamos facilmente planos! Que achas de irmos dar uma voltinha pela cidade hoje, e amanhã mostramos-lhe a surpresa?
-E tu aguentas até amanhã?
-Claro que sim, ou não me chamo Maria!
-Que é que vocês andam a tramar?
-Nada. Come que é para ver se engordas que estás a precisar, Catarina!
-Já acabei o meu prato e estou a repeti-lo, preciso de acabá-lo? Não é normal eu comer tanto!
-É preciso sim senhora, ainda vais crescer mais e precisas de te alimentar como deve de ser, acabaste de fazer dezoito anos!
-Está bem, mas aviso já que não vou comer sobremesa!
-Já tivemos a conversar melhor! - Disse o avô. - Despacha-te lá que há noite vem a família toda cá jantar e precisamos de preparar o jantar.
-Diz antes, a minha mulher preparar o jantar! - Respondeu Maria.
-Eu dou apoio mural. - Catarina sorriu, era incrível como continuavam unidos e próximos, e sempre com o mesmo feitio mesmo após cinquenta anos de casamento. Quando terminou foi pousar o prato e o copo no lava-loiça e pegar na pequena mala onde tinha a carteira, o telemóvel, uma pequena agenda e pouco mais.
-Então vamos?
-Claro que sim, anda Maria.
-Vão vocês. Tenho montes de coisas para fazer.
-Tens a certeza?
-Tenho, vão lá!
Foram até à garagem e Catarina reparou nos dois carros que havia no seu interior, estranhou até porque a avó não tinha carta de condução.
-Escusas de olhar para o carro, é mesmo para ti.
-Para mim? Não acredito que compraram um carro para mim, avô! Não era preciso, muito obrigada! - Abraçou o avô e deu-lhe um beijo.
-Queres dar uma volta no teu novo carrinho?
-Deixa estar avô, vamos no teu.
-Então vamos meu amor. - Entraram para o interior do carro e o avô ligou o carro. - Queres começar por algum sítio em especial?
-Não, mas acho que o último sítio devia ser o Mestalla, porque de certeza que nos vamos demorar.
-Tens razão. - Abriu o portão da garagem e partiram em direção ao centro da cidade e passaram por locais belíssimos. Catarina visitava a cidade todos os verões mas recordar era sempre bom, afinal aquela era a cidade que a iria acolher nos próximos anos, era a cidade que iria visitar e ter de conhecer para não se perder e para puder usufruir de um local que também era seu, apesar de não o ser. -Vamos só passar à porta dos locais, mas não vamos sair está bem? A partir de amanhã, vamos começar a conhecer a cidade e a explorá-la, hoje é só para reconheceres os sítios, exceto claro o Mestalla.
-No Verão vais comigo a Lisboa para conheceres a Luz, e nem vale a pena discutir! A grandeza do Benfica supera a do Valência.
-São sentimentos completamente distintos, só depois de viveres um jogo no Mestalla é que pudemos comparar, e claro eu teria de conhecer a Luz e o Benfica.
-Este é talvez a Catedral de Valência, certo?


-Sim é, e bastante bonita por dentro, mas por fora, é lindíssima.


-Apresento-te o maior ponto turístico, depois do Mestalla é claro, Ciudad de Las Artes y Las Ciencias.
-É enorme! Parece ser tão bonito.
-Lindíssimo, amanhã trago-te cá.


-Que é aquilo avô?
-Oceanográphic.
-Tem parecenças com aquele monumento em Sydney.
-Mas tem objetivos completamente diferentes, meu bem.
-Acredito, mas a partir de amanhã vou conhecer estes monumentos como se fosse de cá.
-Apesar de teres nascido em Lisboa, e teres Portugal no teu coração, tu também és espanhola, e és descendente de valencianos, tens raízes cá, por isso também

és de cá.


-E por último hoje, apresento-te o Mercat Central. E é melhor deixarmos o Mestalla para amanhã que se nos atrasarmos para o jantar, ninguém atura mais a tua avó!
-Vocês são o casal mais fofo que conheci até hoje.
-Obrigada Catarina! - Passou a mão sobre a perna dela. - Sei que já és crescida e provavelmente já não queres saber dos velhos dos teus avôs, só queres explorar a cidade e fazer amigos novos, que provavelmente vais aproveitar a faculdade para saíres com eles, mas também para conheceres a cidade e viveres aventuras novas, estás na idade certa para o fazeres, e não te censuro. Mas eu e a tua avó não cuidamos há muito tempo de uma pessoa, a tua mãe e os teus tios já são independentes há muitos anos e temos sido só eu e a tua avó, por isso peço-te para teres paciência connosco, não fazemos as coisas mal por hábito ou por não querermos, apenas por desábito.
-Oh avô! - Deu-lhe um beijo na bochecha enquanto ele não tirava os olhos da estrada, não podia, estava no centro da cidade e qualquer descuido era o suficiente para provocar um acidente, mesmo que fosse ao domingo. -Vim para Valência porque afinal também sou espanhola, em especial valenciana, e acabei de fazer 18 anos, tenho de aproveitar para conhecer onde também pertenço, para me aproximar da minha família materna, está na altura de viver experiências novas, e por isso decidi vir para cá, acredita que quero dar tudo menos trabalho. Desde os meus dezasseis anos que comecei a trabalhar e estudar, não sei o que é sair à noite para me divertir, apenas sair para ir trabalhar e não me arrependo, afinal sempre consegui ajudar a pagar as minhas contas, a crescer física e mentalmente e a organizar-me. Vou ser estudante universitária, mas não sei e nem quero saber qual é esse espírito. Prefiro ficar em casa com a minha família e só sair algumas vezes com os meus novos amigos para sítios que não conheço e quero conhecer do que embebedar-me e não me lembrar de nada no dia a seguir, e não levantar a cabeça, tamanha a quantidade de álcool que bebi. Sou daquelas pessoas que gosta de estar em casa, de aproveitar para descansar e escrever, para pesquisar e aproveitar com a família e até com uns amigos próximos de mim, mas não o vou fazer, afinal é a casa dos avós e não vou fazer isso, e mal possa vou arranjar um trabalhinho para mim que me dê para conciliar com a faculdade.
-Meu bem, a nossa casa é a tua casa, e quero que a vejas como tal e não precisas de arranjar trabalho, felizmente não passamos dificuldades e podes pedir todo o dinheiro que quiseres a mim ou à tua avó.
-Não quero chatear.
-Incomodas é se não o fizeres.
-Obrigada avô.
-De nada neta.
Passado algum tempo estacionaram o carro na garagem da vivenda e entraram para casa, foram até à sala onde estavam sentados os seus tios Sofia e o seu marido Joaquín, e o seu tio Carlos, com a sua esposa Ana, falavam alegremente entre todos e ficaram incrivelmente surpreendidos quando a viram.
-Mi pequeña! (Minha pequena) - Disse a tia Sofia, que era também a sua madrinha e abraçou fortemente. - Que haces aqui? Tu abuela nos dijo que sólo chegavas mañana! (Que fazes aqui? A tua avó disse-nos que só chegavas amanhã!) - Deu-lhe um beijo na testa.
-Decidi vir mais cedo e preparar uma surpresa a todos.
-O teu espanhol já teve melhores dias, aposto que a tua mãe nunca te cultivou a língua.
-Se dependesse da minha mãe e da minha irmã só falávamos valenciano, mas acabei por negociar e durante a semana falávamos português porque estávamos rodeados da língua, e aos fins-de-semana falávamos valenciano. No início do Verão decidi vir para cá, por isso passamos o Verão inteiro a falar valenciano para não me sentir completamente estrangeira no país que também é meu.
-Mas já tiveste dias melhores.
-Sim, mas toda a minha vida falei português na escola e na rua, agora tenho de me habituar a falar e a pensar noutro idioma.
-Podias pensar em valenciano e falar em português.
-Nunca me habituei, normalmente eu até falava em português com o meu pai e a minha mãe e irmã em valenciano.
-Agora tens de te habituar, afilhada. E que se passou contigo? A última vez que te vi não tinhas corpo nenhum e agora já és uma mulherzinha com peito e com rabiosque!
-Cresci bastante no último ano, madrinha.
-A tua mãe acha que ela está mais magra e quer fazê-la comer até enfartar, achas normal? - Perguntou o avô.
-Para a mãe estamos sempre magros. - Respondeu.
-Larga a minha afilhada que também a quero cumprimentar. - Pediu o tio Carlos. - E antes de alguma coisa quero saber como correu a viagem, dizer-te que estás excelente como estás, aposto que não tarda até apareceres com namorado em casa, mas ele primeiro tem de passar aqui pelo tio e padrinho Carlos para conversarmos.
-Despachem-se com a conversa que a Catarina ainda não conhece o Mestalla e hoje ainda a quero levar lá! - Queixou-se o avô. - E não vale a pena dizeres que estás cansada, sabes tão bem quanto eu que tem de ser hoje.
-Catarina vai chamar os teus primos à sala lá em cima que o jantar já está pronto.
A rapariga subiu as escadas que separavam o andar de baixo do andar superior e começou logo a ouvir os barulhos típicos dos seus primos. A sua prima Isabel, com a mesma idade, a irmã dela, com idade da sua irmã Camila, Alma e os seus primos gémeos com seis anos, Javier e Juan.
-Olá meninos! - Dito isto baixou-se e preparou para receber um abraço dos seus primos mais pequenos. -Como estão os meus pequenos?
-Estamos enormes! - Respondeu o mais irrequieto de ambos, Javier. - Tu é que estás muito pequena, nunca vais crescer?
-Acho que já não vou crescer mais, meu bem.
-Nós gostamos de ti pequenina na mesma, mas não podes namorar um rapaz muito alto prima! - Disse Juan, o gémeo mais calmo.
-Tu, o teu irmão e o teu pai são muito casamenteiros!
-Por falar em casamentos, apresento-te o meu namorado, Iker . Iker, é a minha prima mais velha, e também mais portuguesa, Catarina.
- Apresentou Alma, a sua prima mais nova.
-Senão cuidas da minha prima, mais tarde sou eu que cuido de ti. - Disse em tom de ameaça.
-Catarina! - Repreendeu.
-É verdade, ele até pode ser giro, mas senão trata bem de ti, eu depois trato-lhe da saúde! Mas antes disso vamos jantar que estou cheia de fome!
-Mas antes de mais, quero fazer-te um convite. Ou melhor quero informar-te que daqui a três dias vou fazer uma festa de aniversário para comemorar a minha maioridade. - Pediu Isabel, a prima mais velha. Catarina e Camila tinham exatamente as mesmas idades das primas Isabel e Alma.
-Festa? Já me esquecia que fazes anos!
-Sim, faço 18, daqui a três dias já sou maior de idade oficialmente.
-Fica tudo na mesma. - Disse Catarina, tentando revelar o seu ponto de vista. -Só muda depois de deixares de depender dos teus pais. Eu estou longe da minha mãe mas ela continua a saber tudo de mim, e a mandar-me dinheiro e também estou a viver casa com os meus avôs, por isso, ainda não sei realmente o que é isso de ser maior de idade.
-Mas eu vou saber, estejam descansadas. - Respondeu Isabel, e embora insinuasse algo mais, ninguém lhe respondeu e foram jantar.

(*******)

-Mas é assim tão importante? Sim, entendo perfeitamente, mas podia ser algo facilmente tratado de casa ou amanhã de manhã, é que sabe, estou num jantar de família. Compreendo perfeitamente, vou-me pôr já a caminho. - Dito isto desligou a chamada. - Desculpem família, mas tenho mesmo de ir embora, houve um problema e tenho de ir agora resolvê-lo e não sei a que horas volto. Queres ir comigo ao Mestalla, Catarina?
-Porque me queres levar, avô?
-Quero que conheças o estádio filha, depois eu peço a alguém para te trazer a casa.
-E não vou causar problemas?
-Claro que não meu bem, anda lá.
-Depois nós vamos buscar-te para irmos sair Catarina! - Disse Isabel. - Mas primeiro vai mudar de roupa, nem penses que vais sair comigo assim vestida!
-Que tem?
-Isso não é roupa para sair à noite!
-Então vou vestir um vestido, mas nem penses que vou maquilhar-me. Nem vestir um vestido muito curto!
-Está bem, depois de umas saídas comigo essas ideias passam-te!
-Mas despacha-te por favor! - Pediu o avô. Catarina foi até ao seu quarto e escolheu um vestido que usava às vezes e um casaco castanho simples, uns sapatos rasos castanhos, para condizer com o casaco castanho. Tinha também uma pequena mala castanha onde iria guardar as suas chaves, o telemóvel e a carteira.


-Já estou pronta. - Chegou novamente à sala e deu dois beijos à avó e mandou beijos para o ar, em simbolismo de mandar beijos para todos. Foram até ao carro e começaram a viagem até ao estádio. -Oh avô mas afinal que é que tu fazes lá no Valência?
-Sou o responsável máximo pelas finanças do clube, e sabes que com a compra ou não do clube pelo Peter Lim, com este impasse nunca pudemos fazer grandes planos e de vez em quando aparecem umas notícias que nos fazem mexer muito.
-Nunca gostei muito dessa ideia de um clube ter um dono, ou melhor, um investidor.
-Também não acho que seja bom, mas talvez dê um novo rumo ao clube, nos leve de volta às competições europeias e nos faça campeões, apesar de saber que é muito difícil.
-O Atlético de Madrid, o Barcelona e o Real Madrid são clubes muito bons, avô.
-Eu sei, mas deixa-me ter a minha esperança está bem?
-Eu deixo, esta época estou a torcer pelo Valência.
-Tenho muito orgulho em ti. - Estacionou o carro na garagem do estádio. - Meu amor, vou-te deixar a chave do carro queiras ir para algum lado, mas se quiseres ir conhecer o estádio, é entrares por aquela porta. - Apontou. - Procura um segurança e ele ajuda-te.
-Está bem, obrigada avô. - Deu-lhe um beijo. - Vai lá, eu cá me desenrasco. - O avô foi embora do carro e a rapariga saiu também, foi até à porta que o avô lhe tinha indicado e ao contrário do que ele recomendara, não procurou o segurança mas quis começar a procurar por ela própria e tinha permissão. O avô dera-lhe uma identificação, bastava andar com ela exposta que poderia visitar qualquer lugar do estádio e distraída entre pensamentos (em português!) acabou por chocar com um rapaz num dos (pareciam-lhe) infinitos corredores.
-Perdonáme! - Disse o rapaz tentando averiguar se estava tudo bem consigo e com a rapariga.
-Estás bem? - Perguntou ela claramente preocupada.
-Estou ótimo e tu?
-Também, parece que encontrei alguém tão distraído como eu! - Riram-se.-Estou completamente perdida no meio deste estádio, parece que os corredores são infinitos!
-São muitos corredores para quem não conhece, mas já agora, como te chamas?
-Catarina Amorim e tu?
-Portuguesa?
-A minha mãe nasceu aqui, o meu pai nasceu em Portugal, mas eu nasci em Lisboa, por isso tenho ambas as nacionalidades, mas e tu como te chamas?

Quem será o rapaz com quem ela se cruzou nos corredores do estádio?
Será que ela vai aceitar ir à festa da prima? Como será a adaptação à cidade?

Descrição das Personagens

Catarina Inés Lopéz y Amorim


Catarina nasceu a vinte e sete de Maio de mil novecentos e noventa e seis em Lisboa, e é filha de pai português e mãe espanhola, tem uma irmã com menos um ano de seu nome Camila. Desde sempre foi muito curiosa e com um espírito muito crítico, o que a fez sentir desde muito pequena que queria ser jornalista. O sorriso estava sempre presente na sua cara, mesmo quando, no seu interior, sentia tudo desmoronar por completo. Apesar da tenra idade, sempre demonstrou um sentido muito maturo, e com apenas doze anos sentiu que deveria crescer ainda mais quando viu o seu pai partir num acidente de automóvel, e sentiu-se na obrigação de cuidar da mãe que ficou num país que não era seu, sozinha com duas filhas e da irmã, que apesar de só ter menos um ano, era mais pequena e precisava mais de apoio. Depois de terminar o secundário decidiu ir frequentar a faculdade para a cidade que viu a mãe nascer, para junto da família materna, em Valência, deixando para trás todo um mar de recordações e a família de quem era tão ligada.


João Pedro Cavaco Cancelo


João nasceu a vinte e sete de maio de mil novecentos e noventa e quatro no Barreiro, e tem um irmão com menos oito anos, de seu nome Pedro. Desde pequeno que descobriu o futebol e usava o desporto para fugir aos seus problemas, principalmente para desanuviar e descomprimir, mas também de o tornar mais forte, muito jovem soube que queria viver apenas deste desporto. Desde o nascimento do irmão que ficou muito pegado à família e sentiu-se responsável pela sua educação e para cuidar dele e depois da emigração do pai e da morte precoce da mãe, num acidente de automóvel que ficou ainda mais responsável, e acabou por mudar a sua vida e a sua forma de ser. Com esta proposta para ir jogar fora do seu país e longe da família acabou por aceitar, com o pensamento que iria crescer como pessoa e jogador e assim dar uma vida melhor a todos. 

José Luis Gayà Peña


José nasceu a vinte e cinco de maio de mil novecentos e noventa e cinco em Pedreguer e tem uma irmã mais nova de seu nome Carmén, de quem é bastante próximo e é bastante protetor e ciumento no que toca a ela. Desde que começou a andar que andava com uma bola de futebol debaixo dos braços, pronto para jogar a qualquer momento, ou com uma bola nos pés. Conseguia separar os estudos do futebol, mas assim que pode deixou a escola para se dedicar ao futebol. Fez a sua escola de formação de futebol no Valência e logo no primeiro ano de sénior conseguiu impor-se no clube do seu coração. Apesar de ser um apaixonado pela vida, e pelo futebol, mas também é uma pessoa bastante esquecida e “cabeça no ar”, e acaba por agarrar-se a uma esperança que acaba por criar.