“-Amo-te
sabias?
-Então
deixa a tua mulher e vamos viver a nossa história de amor...
-Não
posso...
-Não
podes ou não queres?
-Não
posso, ela está grávida.”
-Não!
Ela não pode estar grávida! -
Catarina saltou da cama assustada e abriu os olhos, respirou fundo...
Tinha sido apenas um pesadelo. -
Controla-te Catarina, aquele sujeito não merece o que estás a
passar, ele é passado! -
Falou consigo mesma, desabafando. -
Vou mas é dormir que são 3 da manhã, e espero que seja uma noite
descansada e santa! -
Dito isto voltou a deitar-se e a adormecer pouco depois de pousar a
cabeça na almofada, até acordar poucas horas mais tarde com mais um
“sonho”.
-Não quero acreditar, mas será possível que não consigo dormir uma
noite descansada sem ter um pesadelo que envolva dois otários?
Malditos espanhóis, em Portugal isto não acontecia! -
Reclamou e olhou para o telemóvel para verse já era de manhã ou
não, e tinha 3 mensagens e duas chamadas não atendidas, todas da
mesma pessoa: José.
“Olá
minha portuguesa preferida :) Liguei-te para avisar que cheguei a
casa da minha mãe e já cá estava a minha prima, que fez uma
excelente viagem desde Barcelona! E tu já chegaste a tempo do tão
famoso jantar de família? Beijos”
“Catarina,
estás arrependida do que se passou? Diz-me a verdade.”
“Quando
puderes liga-me, estou a ficar preocupado. Beijinhos do teu espanhol
;) “
Entre a segunda e a
terceira mensagem havia recebido a segunda chamada, a primeira havia
recusado. Tivera de mentir à avó e dissera-lhe que era um ex-colega
que lhe ligara para conversarem, e ela não queria falar, mas na
verdade não tinha realmente disposição e nem queria falar com
José, não queria enfrentá-lo, nem pedir “satisfações”.
Sentira-se enganada, mas a culpa não era, apenas, dele, depositava
demasiadas esperanças nas pessoas, e ele limitara-se a desiludir e a
sentir de forma intensa o que ele havia feito, mas já estava
habituada à magoa, e relembrara-se a si mesma que tinha de ser mais
forte que tudo isso. Nem José, nem Júlio, nem homem nenhum valeriam
a pena.
-Meu
amor? -
Perguntou a avó entrando no quarto. -
Já acordada? Ainda é cedo! -
Disse passando a mão pela face da neta e sentando-se aos pés da
cama.
-Tive
dois pesadelos esta noite, dormi bastante mal e tenho medo de voltar
a adormecer e voltar ao mesmo.
-Costumas
ter pesadelos?
-Não
os tinha desde a morte do meu pai.
-Tenta
voltar a dormir meu bem, pode ser com o
cansaço eles desapareceram.
-Estou
bem avó, não precisas de te preocupar.
-Sabes
que podes desabafar comigo, princesa, sou tua avó, mas sou tua
amiga, sei bem o que passas, também já tive a tua idade embora não
pareça!
-Vais-me
julgar e apontar o dedo.
-Vou
amar-te acima de tudo isso, e respeitar seja qual for a tua decisão
e a luta, vamos caminhar juntas!
Catarina respirou
fundo e decidiu contar à avó a sua relação com Júlio e a relação
fugaz com José, que não mostrou nem por um segundo julgá-la ou
criticá-la, notava-se o carinho que sentia pela neta e o quanto
queria o seu bem, compreendia a mágoa e queria ajudá-la a
ultrapassar.
-E
porque não falas com o José e lhe contas tudo o que te passou pela
cabeça quando viste a foto?
-Porque
ele vai pensar que existem mais sentimentos envolvidos além da
atração e a amizade, e eu não quero, avó.
-Tu
é que sabes o que deves fazer ou não, mas acho, sinceramente, que
devias conversar com ele e expor o teu ponto de vista, talvez seja
apenas tudo um mal entendido!
-Não
há mal entendido nenhum avó, aquela rapariga só faltava saltar-lhe
para cima, e ele ainda teve a lata de partilhar aquela foto com o
mundo!
-Já
pensaste que ela poderia ser a prima dele?
-Não
quero ter nada haver com o José, avó. Ele já me desiludiu o
suficiente.
-Acho
que deverias dar-lhe uma última oportunidade de se justificar, mas
compreendo perfeitamente que seja difícil. O teu avô até gostava
do rapaz, mas tinha medo que ele quisesse esticar-se, ou algo do
género.
-Por
favor não lhe digas nada, para todos os efeitos não se passou nada.
-Não
o ia contar, nem se não me tivesses pedido. Contaste à tua prima?
-Só
sabes tu e a Camila. Mas falando de coisas mais animadas, onde vamos
hoje?
-Tu
é que sabes o que deves ou não fazer, mi pequeña, e eu respeito a
tua decisão, mas primeiro deixa-me só fazer-te uma pergunta. Foi o
José que te ligou antes do jantar não foi?
-Sim,
mas eu não queria falar com ele, tinha acabado de ver a foto.
-Hoje
temos o dia por nossa conta, que o teu avô tem trabalho, e acho que
poderíamos aproveitar para ir à praia.
-Parece-me
a melhor ideia que tiveste hoje! -
Sorriram ambas. -
Pensei em fazer um jantar de apresentação da minha nova casinha, só
para ti e para o avô, com comida tipicamente portuguesa, hoje à
hora de jantar que acham?
-Não
preferes organizar para daqui a uns dias e convidamos a família
toda?
-Quero
fazer algo só para vocês, algo mais intimista e daqui a uns dias
para a família toda. Hoje até pensei em fazer carne de porco à
alentejana e com toda a família faço francesinha.
-Isso
é bom?
-A
francesinha vai fazer-vos um pouco de impressão, é uma bomba
calórica, mas o segredo está no molho e a minha mãe diz que o faço
bastante bem. A carne de porco à alentejana é o meu prato
preferido, o truque está mesmo no amor que depositamos ao prato.
Assim como eu estou a abrir os meus conhecimentos para a cultura
valenciana, também quero que abram à minha cultura portuguesa.
-Tenho
pena que não sejas tão próxima de Valência e de tudo o que nos
envolve, e a ti também que de Portugal.
-Avó,
tenho o feitio que o meu tinha. Fisicamente também sou muito
parecida com ele. Talvez o facto de me sentir mais portuguesa seja
uma forma de me sentir mais próxima dele... Afinal ele era
português. E como sou a mais velha, quis de uma forma indireta
tornar-me igual ao que ele era, e ele era português, e a minha irmã
pelo contrário, viu o esforço da minha mãe para nos educar e dar
tudo às duas e ficou mais valenciana por causa disso, para de uma
certa forma honrar a nossa mãe.
-Mas
aconteça o que acontecer, tenho muito orgulho em ti, minha
portuguesa! - Deu-lhe
um beijo na testa. -
Mas vamos lá despachar-nos para irmos fazer um dia de praia, como
não faço há anos. Trouxeste biquínis de Portugal, ou queres
experimentar um que eu comprei para ti?
-Acho
que vou experimentar um dos teus.
-Vou-te
dar então privacidade e tentar de uma vez por todas acordar a tua
prima Isabel que já a fui chamar 3 vezes e nada, e vou preparar
qualquer coisa para comermos na praia!
-Não
abuses do comer avó, não como muito!
-Vou
levar apenas o essencial. Os biquínis estão na última gaveta do
armário pequeno.
-Obrigada
avó!
Catarina foi até ao
armário e ficou completamente rendida ao biquíni que a avó lhe
tinha comprado e decidiu de seguida experimentá-lo.
Adorava a cor, um
azul claro, e não lhe realçava as suas curvas, aliás mostrava-as
mas sem as chamar a atenção, e era também um estilo de biquíni
que lhe servia de forma absoluta no peito, onde tinha tantos
problemas em arranjar algo que gostasse.
Fez uma trança
rápida no cabelo, e colocou os seus óculos de sol, vestiu uma roupa
simples e foi ter com a prima ao piso superior, à sala de estar onde
havia um sofá-cama e a prima deveria dormir, mas não precisou de lá
chegar, Isabel e a avó já estavam na cozinha prontas para irem a pé
até à praia, bastariam apenas 10 minutos a pé e foram.
-É
desta que o querido Gayà se declara à minha priminha e viveram
felizes para sempre.
-Esquece,
Isabel. Isso não vai acontecer.
-Está
apostado, lembraste?
-Sim,
sim. Vamos para a praia?
-Vamos
lá meninas.
(Passado algumas
horas)
-Avó,
para ter tempo de preparar o jantar e assim, vou para casa tomo banho
e depois quando o avô chegar podem ir ter a minha casa?
-Claro
que não meu anjo, trouxeste as chaves do carro?
-Sim,
avó, se o avô chegar tarde, liga-me que vou buscar-te a ti e à
Isabel.
Pegou nas chaves do
carro e conduziu até sua casa, estacionou o carro na garagem e
decidiu subir pelas escadas, apesar do cansaço típico de quem
passara um dia na praia, assim que chegou ao andar de sua casa
assustou-se. José estava à porta de sua casa e ela sentiu uma
estranha necessidade de se esconder no corredor das costas e rezar
para o rapaz não a ter visto.
-Escusas
de te esconder Catarina.
- A rapariga aproximou-se de sua casa e do rapaz.-Porque
estás a fugir de mim?
-Não
estou a fugir de ti.
-Estás
a fugir de mim sim, Catarina. É por causa do que aconteceu entre
nós?
-Não
tenho culpa que queiras confundir tudo, simplesmente tenho andado
ocupada.
-Tão
ocupada que chegas à porta de casa e ficas sem tempo para vires? Que
nem sequer consegues responder às minhas mensagens e chamadas?
-Deixa-me,
José. Tu és como os outros todos, vai-te embora. -
Colocou a chave na fechadura e entrou, tentou fechar a porta, mas o
rapaz segurou-a e entrou.
-Que
se passou?
-Tu
imaginas como me senti depois de ver a fotografia que partilhaste com
o mundo depois de teres ido para a cama comigo? Imaginas como me
senti?-
José sorriu, o que enervou ainda mais a rapariga.
-É
sobre isso que se trata?
-Eu
sei que não foi mais que uma, ou duas voltinhas, é indiferente o
número de vezes, mas e o que me fizeste sentir? Sabes o que é
sentir repulsa de mim mesma? Sabes o que é sentir-me usada e enojada
do meu corpo?
-Catarina,
do que conheces de mim, achas que seria capaz de ir para a cama com
duas raparigas no mesmo dia?
-Conheço-te
há dois dias José, como queres que tenha uma noção do que és ou
não?
-Mas
é impressão minha ou tu ficaste com ciúmes da Sara?
-Nem
pensar nisso. -
Disse virando-se de costas para ele e pousando as mãos sobre o
balcão, o rapaz encostou-se a ela e puxou-lhe o cabelo que estava
sobre o seu ouvido e sussurrou-lhe:
-Tens
a certeza que queres cozinhar e não aproveitar para fazer outras
coisas?
-Secalhar
devia aproveitar para ir tomar banho que tenho o corpo cheio de
areia...
-Tenho
um jantar para fazer.
-Ainda
não tenho fome.
-Ninguém
te convidou para jantar.
-Porque
eu sou o jantar.
-Por
acaso, tenho combinado com os meus avôs e a tua futura namorada que
eles vinham cá jantar.
-Mas
por enquanto aproveitas para ficar aqui a matar saudades deste
corpinho todo nu... -
Colocou-a em cima da bancada e foi ali mesmo que repetiram os
momentos do dia anterior, e ela não conseguia acreditar o quão bom
tinha sido, seria possível ele ficar melhor a cada vez que o faziam?
Quando terminaram,
ela vestiu-se e foi até ao supermercado, precisava de comprar alguns
alimentos para o jantar, enquanto o fazia, telefonou para José e
pediu-lhe para se ir embora, ele acabou por obedecer, mas apenas
porque a sua prima, Sara já o esperava, mais uma vez. E nem tinha
explicado a Catarina, que a rapariga da foto, era apenas a sua prima,
mas iria fazê-lo mais tarde. Quando regressou a casa respirou de
alivio, José tinha limpo a bancada (onde se haviam envolvido), tinha
feito a cama (que estava desfeita do dia anterior) e tinha também
colocado a mesa para quatro pessoas, e decidiu ir preparar o jantar,
o que acabou por ser também rápido, terminou quando estavam a
chegar os seus avôs. E Pablo, atento como era, ainda antes de
cumprimentar a neta, reparou em algo, no mínimo estranho.
-Aquela
carteira é tua, querida? -
A avó Maria, Catarina e Isabel olharam para a bancada e Catarina não
poderia acreditar... José tinha deixado a sua carteira novamente
perdida, onde iriam arranjar uma desculpa para aquela carteira estar
ali?
Que desculpa irão
dar?
Será que Catarina
contará a verdade? Ou vai conseguir “enganar” o avô?