segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Capítulo 5: “É por causa do que aconteceu entre nós? “



-Amo-te sabias?
-Então deixa a tua mulher e vamos viver a nossa história de amor...
-Não posso...
-Não podes ou não queres?
-Não posso, ela está grávida.”

-Não! Ela não pode estar grávida! - Catarina saltou da cama assustada e abriu os olhos, respirou fundo... Tinha sido apenas um pesadelo. - Controla-te Catarina, aquele sujeito não merece o que estás a passar, ele é passado! - Falou consigo mesma, desabafando. - Vou mas é dormir que são 3 da manhã, e espero que seja uma noite descansada e santa! - Dito isto voltou a deitar-se e a adormecer pouco depois de pousar a cabeça na almofada, até acordar poucas horas mais tarde com mais um “sonho”

-Não quero acreditar, mas será possível que não consigo dormir uma noite descansada sem ter um pesadelo que envolva dois otários? Malditos espanhóis, em Portugal isto não acontecia! - Reclamou e olhou para o telemóvel para verse já era de manhã ou não, e tinha 3 mensagens e duas chamadas não atendidas, todas da mesma pessoa: José.

Olá minha portuguesa preferida :) Liguei-te para avisar que cheguei a casa da minha mãe e já cá estava a minha prima, que fez uma excelente viagem desde Barcelona! E tu já chegaste a tempo do tão famoso jantar de família? Beijos”

Catarina, estás arrependida do que se passou? Diz-me a verdade.”

Quando puderes liga-me, estou a ficar preocupado. Beijinhos do teu espanhol ;) “

Entre a segunda e a terceira mensagem havia recebido a segunda chamada, a primeira havia recusado. Tivera de mentir à avó e dissera-lhe que era um ex-colega que lhe ligara para conversarem, e ela não queria falar, mas na verdade não tinha realmente disposição e nem queria falar com José, não queria enfrentá-lo, nem pedir “satisfações”. Sentira-se enganada, mas a culpa não era, apenas, dele, depositava demasiadas esperanças nas pessoas, e ele limitara-se a desiludir e a sentir de forma intensa o que ele havia feito, mas já estava habituada à magoa, e relembrara-se a si mesma que tinha de ser mais forte que tudo isso. Nem José, nem Júlio, nem homem nenhum valeriam a pena.

-Meu amor? - Perguntou a avó entrando no quarto. - Já acordada? Ainda é cedo! - Disse passando a mão pela face da neta e sentando-se aos pés da cama.

-Tive dois pesadelos esta noite, dormi bastante mal e tenho medo de voltar a adormecer e voltar ao mesmo.

-Costumas ter pesadelos?

-Não os tinha desde a morte do meu pai.

-Tenta voltar a dormir meu bem, pode ser com o 
cansaço eles desapareceram.

-Estou bem avó, não precisas de te preocupar.

-Sabes que podes desabafar comigo, princesa, sou tua avó, mas sou tua amiga, sei bem o que passas, também já tive a tua idade embora não pareça!

-Vais-me julgar e apontar o dedo.

-Vou amar-te acima de tudo isso, e respeitar seja qual for a tua decisão e a luta, vamos caminhar juntas!
Catarina respirou fundo e decidiu contar à avó a sua relação com Júlio e a relação fugaz com José, que não mostrou nem por um segundo julgá-la ou criticá-la, notava-se o carinho que sentia pela neta e o quanto queria o seu bem, compreendia a mágoa e queria ajudá-la a ultrapassar.

-E porque não falas com o José e lhe contas tudo o que te passou pela cabeça quando viste a foto?

-Porque ele vai pensar que existem mais sentimentos envolvidos além da atração e a amizade, e eu não quero, avó.

-Tu é que sabes o que deves fazer ou não, mas acho, sinceramente, que devias conversar com ele e expor o teu ponto de vista, talvez seja apenas tudo um mal entendido!

-Não há mal entendido nenhum avó, aquela rapariga só faltava saltar-lhe para cima, e ele ainda teve a lata de partilhar aquela foto com o mundo!

-Já pensaste que ela poderia ser a prima dele?

-Não quero ter nada haver com o José, avó. Ele já me desiludiu o suficiente.

-Acho que deverias dar-lhe uma última oportunidade de se justificar, mas compreendo perfeitamente que seja difícil. O teu avô até gostava do rapaz, mas tinha medo que ele quisesse esticar-se, ou algo do género.

-Por favor não lhe digas nada, para todos os efeitos não se passou nada.

-Não o ia contar, nem se não me tivesses pedido. Contaste à tua prima?

-Só sabes tu e a Camila. Mas falando de coisas mais animadas, onde vamos hoje?

-Tu é que sabes o que deves ou não fazer, mi pequeña, e eu respeito a tua decisão, mas primeiro deixa-me só fazer-te uma pergunta. Foi o José que te ligou antes do jantar não foi?

-Sim, mas eu não queria falar com ele, tinha acabado de ver a foto.

-Hoje temos o dia por nossa conta, que o teu avô tem trabalho, e acho que poderíamos aproveitar para ir à praia.

-Parece-me a melhor ideia que tiveste hoje! - Sorriram ambas. - Pensei em fazer um jantar de apresentação da minha nova casinha, só para ti e para o avô, com comida tipicamente portuguesa, hoje à hora de jantar que acham?

-Não preferes organizar para daqui a uns dias e convidamos a família toda?

-Quero fazer algo só para vocês, algo mais intimista e daqui a uns dias para a família toda. Hoje até pensei em fazer carne de porco à alentejana e com toda a família faço francesinha.

-Isso é bom?

-A francesinha vai fazer-vos um pouco de impressão, é uma bomba calórica, mas o segredo está no molho e a minha mãe diz que o faço bastante bem. A carne de porco à alentejana é o meu prato preferido, o truque está mesmo no amor que depositamos ao prato. Assim como eu estou a abrir os meus conhecimentos para a cultura valenciana, também quero que abram à minha cultura portuguesa.

-Tenho pena que não sejas tão próxima de Valência e de tudo o que nos envolve, e a ti também que de Portugal.

-Avó, tenho o feitio que o meu tinha. Fisicamente também sou muito parecida com ele. Talvez o facto de me sentir mais portuguesa seja uma forma de me sentir mais próxima dele... Afinal ele era português. E como sou a mais velha, quis de uma forma indireta tornar-me igual ao que ele era, e ele era português, e a minha irmã pelo contrário, viu o esforço da minha mãe para nos educar e dar tudo às duas e ficou mais valenciana por causa disso, para de uma certa forma honrar a nossa mãe.

-Mas aconteça o que acontecer, tenho muito orgulho em ti, minha portuguesa! - Deu-lhe um beijo na testa. - Mas vamos lá despachar-nos para irmos fazer um dia de praia, como não faço há anos. Trouxeste biquínis de Portugal, ou queres experimentar um que eu comprei para ti?

-Acho que vou experimentar um dos teus.

-Vou-te dar então privacidade e tentar de uma vez por todas acordar a tua prima Isabel que já a fui chamar 3 vezes e nada, e vou preparar qualquer coisa para comermos na praia!

-Não abuses do comer avó, não como muito!

-Vou levar apenas o essencial. Os biquínis estão na última gaveta do armário pequeno.

-Obrigada avó!


Catarina foi até ao armário e ficou completamente rendida ao biquíni que a avó lhe tinha comprado e decidiu de seguida experimentá-lo.


Adorava a cor, um azul claro, e não lhe realçava as suas curvas, aliás mostrava-as mas sem as chamar a atenção, e era também um estilo de biquíni que lhe servia de forma absoluta no peito, onde tinha tantos problemas em arranjar algo que gostasse.
Fez uma trança rápida no cabelo, e colocou os seus óculos de sol, vestiu uma roupa simples e foi ter com a prima ao piso superior, à sala de estar onde havia um sofá-cama e a prima deveria dormir, mas não precisou de lá chegar, Isabel e a avó já estavam na cozinha prontas para irem a pé até à praia, bastariam apenas 10 minutos a pé e foram.

-É desta que o querido Gayà se declara à minha priminha e viveram felizes para sempre.

-Esquece, Isabel. Isso não vai acontecer.

-Está apostado, lembraste?

-Sim, sim. Vamos para a praia?

-Vamos lá meninas.

(Passado algumas horas)
-Avó, para ter tempo de preparar o jantar e assim, vou para casa tomo banho e depois quando o avô chegar podem ir ter a minha casa?

-Claro que não meu anjo, trouxeste as chaves do carro?

-Sim, avó, se o avô chegar tarde, liga-me que vou buscar-te a ti e à Isabel.
Pegou nas chaves do carro e conduziu até sua casa, estacionou o carro na garagem e decidiu subir pelas escadas, apesar do cansaço típico de quem passara um dia na praia, assim que chegou ao andar de sua casa assustou-se. José estava à porta de sua casa e ela sentiu uma estranha necessidade de se esconder no corredor das costas e rezar para o rapaz não a ter visto.

-Escusas de te esconder Catarina. - A rapariga aproximou-se de sua casa e do rapaz.-Porque estás a fugir de mim?

-Não estou a fugir de ti.

-Estás a fugir de mim sim, Catarina. É por causa do que aconteceu entre nós?

-Não tenho culpa que queiras confundir tudo, simplesmente tenho andado ocupada.

-Tão ocupada que chegas à porta de casa e ficas sem tempo para vires? Que nem sequer consegues responder às minhas mensagens e chamadas?

-Deixa-me, José. Tu és como os outros todos, vai-te embora. - Colocou a chave na fechadura e entrou, tentou fechar a porta, mas o rapaz segurou-a e entrou.

-Que se passou?

-Tu imaginas como me senti depois de ver a fotografia que partilhaste com o mundo depois de teres ido para a cama comigo? Imaginas como me senti?- José sorriu, o que enervou ainda mais a rapariga.

-É sobre isso que se trata?

-Eu sei que não foi mais que uma, ou duas voltinhas, é indiferente o número de vezes, mas e o que me fizeste sentir? Sabes o que é sentir repulsa de mim mesma? Sabes o que é sentir-me usada e enojada do meu corpo?

-Catarina, do que conheces de mim, achas que seria capaz de ir para a cama com duas raparigas no mesmo dia?

-Conheço-te há dois dias José, como queres que tenha uma noção do que és ou não?

-Mas é impressão minha ou tu ficaste com ciúmes da Sara?

-Nem pensar nisso. - Disse virando-se de costas para ele e pousando as mãos sobre o balcão, o rapaz encostou-se a ela e puxou-lhe o cabelo que estava sobre o seu ouvido e sussurrou-lhe:

-Tens a certeza que queres cozinhar e não aproveitar para fazer outras coisas?

-Secalhar devia aproveitar para ir tomar banho que tenho o corpo cheio de areia...

-Tenho um jantar para fazer.

-Ainda não tenho fome.

-Ninguém te convidou para jantar.

-Porque eu sou o jantar.

-Por acaso, tenho combinado com os meus avôs e a tua futura namorada que eles vinham cá jantar.

-Mas por enquanto aproveitas para ficar aqui a matar saudades deste corpinho todo nu... - Colocou-a em cima da bancada e foi ali mesmo que repetiram os momentos do dia anterior, e ela não conseguia acreditar o quão bom tinha sido, seria possível ele ficar melhor a cada vez que o faziam?
Quando terminaram, ela vestiu-se e foi até ao supermercado, precisava de comprar alguns alimentos para o jantar, enquanto o fazia, telefonou para José e pediu-lhe para se ir embora, ele acabou por obedecer, mas apenas porque a sua prima, Sara já o esperava, mais uma vez. E nem tinha explicado a Catarina, que a rapariga da foto, era apenas a sua prima, mas iria fazê-lo mais tarde. Quando regressou a casa respirou de alivio, José tinha limpo a bancada (onde se haviam envolvido), tinha feito a cama (que estava desfeita do dia anterior) e tinha também colocado a mesa para quatro pessoas, e decidiu ir preparar o jantar, o que acabou por ser também rápido, terminou quando estavam a chegar os seus avôs. E Pablo, atento como era, ainda antes de cumprimentar a neta, reparou em algo, no mínimo estranho.

-Aquela carteira é tua, querida? - A avó Maria, Catarina e Isabel olharam para a bancada e Catarina não poderia acreditar... José tinha deixado a sua carteira novamente perdida, onde iriam arranjar uma desculpa para aquela carteira estar ali?

Que desculpa irão dar?
Será que Catarina contará a verdade? Ou vai conseguir “enganar” o avô?